sexta-feira, dezembro 18, 2015
Num jantar de Natal
Todos te desejam as melhores felicidades.
Prescreveram as oportunidades recentes.
Entra um novo ano.
A verdade é uma.
Cerrar punhos.
quarta-feira, dezembro 16, 2015
Inapto.
De Novembro até este momento, várias etapas da minha vida foram, sucessivamente, acabando.
Ontem foi mais uma.
Este texto é para quem o escreve. Para que haja mentalização de algo que nunca se apreciou: não farei jamais o que quero. Farei o que me deixarem.
Havia duas profissões que gostava de ter exercido. A primeira deixou de ser hipótese bem cedo. A segunda faleceu ontem.
Sinto-me uma pessoa portadora de deficiência.
Ontem foi mais uma.
Este texto é para quem o escreve. Para que haja mentalização de algo que nunca se apreciou: não farei jamais o que quero. Farei o que me deixarem.
Havia duas profissões que gostava de ter exercido. A primeira deixou de ser hipótese bem cedo. A segunda faleceu ontem.
Sinto-me uma pessoa portadora de deficiência.
sexta-feira, dezembro 04, 2015
Tempo e Espaço
Pessoas há que gostavam de viajar no tempo.
Quando tinha 6 anos, ou 7, lembro-me bem de ter ficado uma série de dias a pensar se isso seria possível ou não e, caso fosse, como seria o choque de ver o atraso ou o progresso. Penso que foi a propósito de um filme em que os heróis viajam no tempo e voltam à altura de Jack, O Estripador, tentando saber qual a sua identidade.
De alguma maneira, perdi esse interesse. De há anos para cá, há uma frase de Ortega y Gasset que ecoa qual bomba a rebentar nos meus ouvidos: "O homem é o homem e a sua circunstância"
Uma viagem ao futuro não é turismo, como não o é uma viagem ao passado. Seria sempre uma viagem definitiva. Seria sempre revelador. Demasiado. Seria desvirtuar a "circunstância".
Mas, hellas, há excepções.
Quando tinha 6 anos, ou 7, lembro-me bem de ter ficado uma série de dias a pensar se isso seria possível ou não e, caso fosse, como seria o choque de ver o atraso ou o progresso. Penso que foi a propósito de um filme em que os heróis viajam no tempo e voltam à altura de Jack, O Estripador, tentando saber qual a sua identidade.
De alguma maneira, perdi esse interesse. De há anos para cá, há uma frase de Ortega y Gasset que ecoa qual bomba a rebentar nos meus ouvidos: "O homem é o homem e a sua circunstância"
Uma viagem ao futuro não é turismo, como não o é uma viagem ao passado. Seria sempre uma viagem definitiva. Seria sempre revelador. Demasiado. Seria desvirtuar a "circunstância".
Mas, hellas, há excepções.
Perto do Natal
Estava a fumar à porta do Tribunal do Barreiro.
Apareceu um senhor de poucas posses que me apertou a mão.
Seguidamente, disse-me que não tinha dinheiro e que estava sem comer há alguns dias.
Pediu-me que lhe pagasse uma refeição num café ali ao lado.
Dirigimo-nos ao café e eu perguntei se podia pagar com cartão MB. Tal hipótese foi-me vedada. Fui, então, levantar dinheiro a uma caixa ali perto.
Ele ficou no café.
Quando lá cheguei, estava ele a pedir meia dose de cozido, o prato do dia.
Apareceu um senhor de poucas posses que me apertou a mão.
Seguidamente, disse-me que não tinha dinheiro e que estava sem comer há alguns dias.
Pediu-me que lhe pagasse uma refeição num café ali ao lado.
Dirigimo-nos ao café e eu perguntei se podia pagar com cartão MB. Tal hipótese foi-me vedada. Fui, então, levantar dinheiro a uma caixa ali perto.
Ele ficou no café.
Quando lá cheguei, estava ele a pedir meia dose de cozido, o prato do dia.
sexta-feira, novembro 20, 2015
Ciclicamente
Como dizia, isto, esta, é cíclica.
Conheci-a algures em França, tocada a partir de um álbum chamado "Pano Cru", de Sérgio Godinho.
Fica para sempre, como o que é bom, mas também o que é mau. Paradoxo engraçado.
Hoje foi lançado o site que "publicita" (palavra maldita neste meio) os meus serviços.
Sou, agora, uma Call Girl digital.
sexta-feira, novembro 13, 2015
Dias
Dias é um nome a que associo caracóis. No verão (sobretudo no verão), é ir àquela rua ao pé da padaria e trazer aquele que é "o" petisco de final de tarde.
Por outro lado, dias são períodos de 24 horas que compõem um ano.
Contudo, há ainda quem associe dia ao período dessas 24 horas em que há luz. Depois de se extinguir essa luz, vem a noite.
Há pouco mais de uma semana, despedi-me do meu anterior emprego.
De lá para cá, fiz telefonemas, tive reuniões, tomei cafés e fui a almoços. Visitei sítios, fiz perguntas.
Hoje, assinei um contrato, estou numa boa sala (que ainda precisa dos seus ajustes, vá lá ver), consegui alguns clientes e não sinto a atroz presença de almas pouco pias.
Raios, nem tudo é ouro. E as perspectivas? Onde está a continuidade garantida do projecto? Onde estão os clientes que garantem o pagamento de contas? Pois é. Pois é.
Ontem revisitei um filme que, como diz Nuno Markl, "dispõe bem". Dispenso-me de referir o nome. Basta-me atentar ao personagem principal que, ao longo da história, citava umas quantas regras que, garantia, o mantinham vivo. A regra que mais dificuldade teria em respeitar era a n.º 32: Aprecia as pequenas coisas.
Ora, hoje, como disse, assinei contrato. Como só hoje o assinei, o Senhorio fez um desconto de quase metade da renda devida, quando nada o fazia prever. O escritório foi entregue devoluto, o que lhe dá uma nova cara. Há promessa de benfeitorias porreiras. Isto é apreciar as pequenas coisas.
Pode não parecer, mas acabo a semana com o brasileiro "alto astral". São dias. Dos luminosos.
(Caros leitores, bem sei que isto é um espaço de auto-comiseração e sofrimento puro. Esse registo voltará quando, daqui a tempos, não houver dinheiro, ehehe).
Por outro lado, dias são períodos de 24 horas que compõem um ano.
Contudo, há ainda quem associe dia ao período dessas 24 horas em que há luz. Depois de se extinguir essa luz, vem a noite.
Há pouco mais de uma semana, despedi-me do meu anterior emprego.
De lá para cá, fiz telefonemas, tive reuniões, tomei cafés e fui a almoços. Visitei sítios, fiz perguntas.
Hoje, assinei um contrato, estou numa boa sala (que ainda precisa dos seus ajustes, vá lá ver), consegui alguns clientes e não sinto a atroz presença de almas pouco pias.
Raios, nem tudo é ouro. E as perspectivas? Onde está a continuidade garantida do projecto? Onde estão os clientes que garantem o pagamento de contas? Pois é. Pois é.
Ontem revisitei um filme que, como diz Nuno Markl, "dispõe bem". Dispenso-me de referir o nome. Basta-me atentar ao personagem principal que, ao longo da história, citava umas quantas regras que, garantia, o mantinham vivo. A regra que mais dificuldade teria em respeitar era a n.º 32: Aprecia as pequenas coisas.
Ora, hoje, como disse, assinei contrato. Como só hoje o assinei, o Senhorio fez um desconto de quase metade da renda devida, quando nada o fazia prever. O escritório foi entregue devoluto, o que lhe dá uma nova cara. Há promessa de benfeitorias porreiras. Isto é apreciar as pequenas coisas.
Pode não parecer, mas acabo a semana com o brasileiro "alto astral". São dias. Dos luminosos.
(Caros leitores, bem sei que isto é um espaço de auto-comiseração e sofrimento puro. Esse registo voltará quando, daqui a tempos, não houver dinheiro, ehehe).
quarta-feira, novembro 11, 2015
Causa natural das coisas
A bem da verdade, cumpre concluir que se uma canção o diz, fico desonerado de o escrever.
Remo. Sigo remando.
https://youtu.be/L3VptpW39YE
quinta-feira, novembro 05, 2015
Ontem.
Ontem tinha um emprego.
Quer isto dizer que tive um emprego.
Continuo a ter trabalho.
Ontem, demiti-me.
Vieram-me à cabeça as palavras de Ronaldo, apelidado de fenómeno: "Perdi para o meu corpo".
Eu também perdi. Para a dignidade. Ela levou-me a melhor.
A minha vida, muito mais alegre, agora continua. Transformei a vida em mulher da rua, na mais nova dama do tom de cristal.
Quer isto dizer que tive um emprego.
Continuo a ter trabalho.
Ontem, demiti-me.
Vieram-me à cabeça as palavras de Ronaldo, apelidado de fenómeno: "Perdi para o meu corpo".
Eu também perdi. Para a dignidade. Ela levou-me a melhor.
A minha vida, muito mais alegre, agora continua. Transformei a vida em mulher da rua, na mais nova dama do tom de cristal.
segunda-feira, novembro 02, 2015
Somatório de ideias ridículas
Apetece-me continuar na senda Miguel Martins.
Sou de esquerda. Conheço muitas pessoas de esquerda. Conheço algumas pessoas de direita. As pessoas de direita tendem a deixar de apreciar a minha companhia.
Apesar de perder o respeito das pessoas de direita, creio que está na esquerda a maior crise de socialização. Há, na esquerda, uma ideia bélica do debate que tende a querer o desaparecimento do oponente.
A pensar nisso, tive outra ideia de programa para a TV. O nome é "Dá uma chance". A música de entrada seria "One more chance", de Julio Iglesias Jr., que existiu.
Seria um programa semanal a ser emitido às 5 horas da manhã, com a duração de uma hora. O formato seria um crossover entre entrevistas sérias e um espírito "Só Visto", com descontracção.
Objecto: reabilitar figuras pouco gratas à esquerda portuguesa, que se dispusessem a ser entrevistadas em tom "intimista" numa toada de perdão. Ou seja, por serem escroques aos olhos de muitos, tentariam a reabilitação, mostrando que "também são gente".
Para o primeiro programa, Camilo Lourenço.
Todas as entrevistas, dirigidas por Daniel Oliveira (o do B.E), deviam começar com a seguinte pergunta: "Porquê".
Caberia ao convidado dar a entender que, caso um dia a sua agenda oculta de tomar o poder via media viesse a concretizar-se, seria um amigo de todos.
Camilo poderia alegar que até tinha amigos comunistas e já acompanhou com malta da ala esquerda do P.S. Que tanto apertava a mão ao Passos como o pescoço a Costa.
Ao fundo, imagens dele a brincar com um cão de pelo bonito. A almoçar com os filhos, estando estes positivamente sujos de andarem a rebolar numa qualquer lama.
Para o segundo programa, Gomes Ferreira, o joker da macro economia.
Sou de esquerda. Conheço muitas pessoas de esquerda. Conheço algumas pessoas de direita. As pessoas de direita tendem a deixar de apreciar a minha companhia.
Apesar de perder o respeito das pessoas de direita, creio que está na esquerda a maior crise de socialização. Há, na esquerda, uma ideia bélica do debate que tende a querer o desaparecimento do oponente.
A pensar nisso, tive outra ideia de programa para a TV. O nome é "Dá uma chance". A música de entrada seria "One more chance", de Julio Iglesias Jr., que existiu.
Seria um programa semanal a ser emitido às 5 horas da manhã, com a duração de uma hora. O formato seria um crossover entre entrevistas sérias e um espírito "Só Visto", com descontracção.
Objecto: reabilitar figuras pouco gratas à esquerda portuguesa, que se dispusessem a ser entrevistadas em tom "intimista" numa toada de perdão. Ou seja, por serem escroques aos olhos de muitos, tentariam a reabilitação, mostrando que "também são gente".
Para o primeiro programa, Camilo Lourenço.
Todas as entrevistas, dirigidas por Daniel Oliveira (o do B.E), deviam começar com a seguinte pergunta: "Porquê".
Caberia ao convidado dar a entender que, caso um dia a sua agenda oculta de tomar o poder via media viesse a concretizar-se, seria um amigo de todos.
Camilo poderia alegar que até tinha amigos comunistas e já acompanhou com malta da ala esquerda do P.S. Que tanto apertava a mão ao Passos como o pescoço a Costa.
Ao fundo, imagens dele a brincar com um cão de pelo bonito. A almoçar com os filhos, estando estes positivamente sujos de andarem a rebolar numa qualquer lama.
Para o segundo programa, Gomes Ferreira, o joker da macro economia.
Euromilhões
Entre determinado emprego e o euromilhões, prefiro mil vezes o emprego.
Não é o dinheiro ( e se eu gosto dele), é o que fazemos com ele. E, especialmente, é o que fazemos para o ter.
Gostava que, como dizem os Brasileiros, "desse tudo certo".
Mas, como quase toda a gente, não terei nascido para fazer o que me faz feliz.
Ninguém nasceu para ser cantoneiro ou operador cemiterial. Mas essas profissões são exercidas.
Não é o dinheiro ( e se eu gosto dele), é o que fazemos com ele. E, especialmente, é o que fazemos para o ter.
Gostava que, como dizem os Brasileiros, "desse tudo certo".
Mas, como quase toda a gente, não terei nascido para fazer o que me faz feliz.
Ninguém nasceu para ser cantoneiro ou operador cemiterial. Mas essas profissões são exercidas.
terça-feira, outubro 27, 2015
Um pequeno Mário Machado (Não quis usar o mais recente termo inventado: Pedro Guerra da Cordoaria)
E como mil vezes nunca são demais, é altura de visitar o meu quotidiano laboral.
No episódio de hoje, uma questão de princípio, ou como os DAMA podiam ter escolhido outro título para o álbum.
Estava eu na minha vidinha a pensar em formas de atropelamento de seres unicelulares, quando me é ordenado que faça uma série de comunicações, uma delas dirigida a um cliente espanhol. Importa referir que já tinham tido lugar outras comunicações, um tanto ou quanto semelhantes. Em comum, uma coisa: todas escritas em Castelhano.
Pois bem.
Escrevo a missiva no melhor Portunhol de Almada, consulto uns dicionários on-line e a comunicação está pronta a seguir.
Entrego à entidade profana que me encarregou com a tarefa o labor e continuo a pensar em crimes perfeitos.
No dia seguinte, uma mensagem:
"Que merda é esta escrita em espanhol? Por acaso o gajo alguma vez se dignou a escrever em Português?"
E era isto. Aconteceram episódios conexos com a situação, mas são demasiado ridículos.
Há sociedades de advogados.
Há escritórios com advogados lá dentro.
E depois há isto.
No episódio de hoje, uma questão de princípio, ou como os DAMA podiam ter escolhido outro título para o álbum.
Estava eu na minha vidinha a pensar em formas de atropelamento de seres unicelulares, quando me é ordenado que faça uma série de comunicações, uma delas dirigida a um cliente espanhol. Importa referir que já tinham tido lugar outras comunicações, um tanto ou quanto semelhantes. Em comum, uma coisa: todas escritas em Castelhano.
Pois bem.
Escrevo a missiva no melhor Portunhol de Almada, consulto uns dicionários on-line e a comunicação está pronta a seguir.
Entrego à entidade profana que me encarregou com a tarefa o labor e continuo a pensar em crimes perfeitos.
No dia seguinte, uma mensagem:
"Que merda é esta escrita em espanhol? Por acaso o gajo alguma vez se dignou a escrever em Português?"
E era isto. Aconteceram episódios conexos com a situação, mas são demasiado ridículos.
Há sociedades de advogados.
Há escritórios com advogados lá dentro.
E depois há isto.
Miguel Martins
Tenho saudades de um programa que era emitido na Sic Radical: Vai tudo Abaixo. Há rubricas memoráveis: Ruce e Reco, Black Skin e uma imitação de Brasileiro nacionalista cujo nome não me recordo.
Há bocado, lembrei-me de outro: Miguel Martins, o tal que tinha ideias para o país.
Vindo de um almoço bastante feliz numa conhecida adega lisboeta, a que junto o facto de estar constantemente a ser bombardeado com concursos televisivos, sejam em formato "760" ou "Alta Pressão", tive um delírio lúcido.
Seria espectador de um concurso de brindes.
As regras seriam simples:
a) 6 concorrentes. 5 fases.
b) A cada fase, ao concorrente seria dado um tema ao qual ele teria de brindar. Por exemplo: aniversário do Bóbi num jantar de família para 8 pessoas.
c) O brinde não poderia exceder os 5 minutos e seria "julgado" por um painel constituído por Jorge Palma, Jorge Sampaio e Marinho Pinto.
d) O pior brinde significaria a desqualificação do proponente.
e) O concurso seguiria até existirem só dois contendores e, nessa fase, o brinde poderia chegar aos 7 minutos.
Um aspecto que não poderia ser descurado era a categoria da bebida com a qual se brindava. A primeira ronda deveria ser protagonizada por um vinho maduro alentejano tinto. A segunda seria com cerveja importada. A terceira e quarta com o melhor espumante Português ou um Moet e a última com um champagne estilo Bolinger.
A apresentação deveria estar a cargo daquele fulano que indica aos ministros onde é que eles devem assinar nos actos de tomada de posse.
Só seriam admitidos a concurso licenciados nas áreas das humanidades que tivessem concluído o curso com participação em, pelo menos, 10 jantares de turma e 5 aparições em festas de tunas.
O prémio seria a abertura de uma conta bancária a prazo, com um depósito de € 5.000,00 no Novo Banco.
Subitamente, acordei.
Mal me recordando do sonho.
Há bocado, lembrei-me de outro: Miguel Martins, o tal que tinha ideias para o país.
Vindo de um almoço bastante feliz numa conhecida adega lisboeta, a que junto o facto de estar constantemente a ser bombardeado com concursos televisivos, sejam em formato "760" ou "Alta Pressão", tive um delírio lúcido.
Seria espectador de um concurso de brindes.
As regras seriam simples:
a) 6 concorrentes. 5 fases.
b) A cada fase, ao concorrente seria dado um tema ao qual ele teria de brindar. Por exemplo: aniversário do Bóbi num jantar de família para 8 pessoas.
c) O brinde não poderia exceder os 5 minutos e seria "julgado" por um painel constituído por Jorge Palma, Jorge Sampaio e Marinho Pinto.
d) O pior brinde significaria a desqualificação do proponente.
e) O concurso seguiria até existirem só dois contendores e, nessa fase, o brinde poderia chegar aos 7 minutos.
Um aspecto que não poderia ser descurado era a categoria da bebida com a qual se brindava. A primeira ronda deveria ser protagonizada por um vinho maduro alentejano tinto. A segunda seria com cerveja importada. A terceira e quarta com o melhor espumante Português ou um Moet e a última com um champagne estilo Bolinger.
A apresentação deveria estar a cargo daquele fulano que indica aos ministros onde é que eles devem assinar nos actos de tomada de posse.
Só seriam admitidos a concurso licenciados nas áreas das humanidades que tivessem concluído o curso com participação em, pelo menos, 10 jantares de turma e 5 aparições em festas de tunas.
O prémio seria a abertura de uma conta bancária a prazo, com um depósito de € 5.000,00 no Novo Banco.
Subitamente, acordei.
Mal me recordando do sonho.
segunda-feira, outubro 26, 2015
Um post típico desta tasca
O Sábado e o Domingo que antecederam esta Segunda Feira foram excelentes. Sábado recebi e convivi com grandes amigos; no Domingo estive com a família de ambos os lados e o Sporting ganhou categoricamente.
Dito isto, vim trabalhar.
Que é que posso fazer para que este exercício supra descrito custe menos?
Vou explicar.
Não são as funções. Não é o espaço físico (embora esteja nojento com a falta de limpeza).
São as mesmas caras, de quem não gosto. São as mesmas conversas, das quais não gosto, é o mesmo chefe, do qual não gosto.
Já me cansa escrever isto. Já me cansa sentir isto.
A única dúvida que me assalta é: não ganhar dinheiro algum dá uma sensação melhor ou pior? Fico aliviado porque, finalmente, terei mandado o Pedro Guerra da MS para o orvalho que o parta, ou arrependido porque ter dinheiro é mesmo a única coisa?
Até agora tenho preferido o dinheiro.
Dito isto, vim trabalhar.
Que é que posso fazer para que este exercício supra descrito custe menos?
Vou explicar.
Não são as funções. Não é o espaço físico (embora esteja nojento com a falta de limpeza).
São as mesmas caras, de quem não gosto. São as mesmas conversas, das quais não gosto, é o mesmo chefe, do qual não gosto.
Já me cansa escrever isto. Já me cansa sentir isto.
A única dúvida que me assalta é: não ganhar dinheiro algum dá uma sensação melhor ou pior? Fico aliviado porque, finalmente, terei mandado o Pedro Guerra da MS para o orvalho que o parta, ou arrependido porque ter dinheiro é mesmo a única coisa?
Até agora tenho preferido o dinheiro.
sexta-feira, outubro 23, 2015
Mediocridade
O conceito de média é das poucas coisas bonitas que a matemática me trouxe.
Com ela, pude saber qual era o meu lugar na sociedade. É baixo. Rastejante. Tenho de viver com isso.
O que me complica a felicidade quotidiana é saber que, como eu, há tantos seres desprovidos de utilidade que, não obstante, se têm em grande conta.
Já fui mais bruto do que actualmente.
Hoje, só sou a favor de severos castigos corporais exercidos nessa gente.
Com ela, pude saber qual era o meu lugar na sociedade. É baixo. Rastejante. Tenho de viver com isso.
O que me complica a felicidade quotidiana é saber que, como eu, há tantos seres desprovidos de utilidade que, não obstante, se têm em grande conta.
Já fui mais bruto do que actualmente.
Hoje, só sou a favor de severos castigos corporais exercidos nessa gente.
quinta-feira, outubro 22, 2015
Uma outra versão do anti-cristo.
Diz-nos a wikipedia que: Anticristo (do grego αντιχριστός i.e. "opositor a Cristo") é uma denominação comum no Novo Testamento para designar aqueles que se oponham a Jesus Cristo, e também designa um personagem escatológico, que segundo a tradição cristã dominará o mundo.
Não sendo, nem querendo ser, particularmente teólogo, Jesus Cristo é amor. Amor é bem. O bem não é o mal. Açougue é talho.
Enquanto deslizava pelo mural do FB, descobri que, assim como Deus, o Diabo pode estar dividido. Não há um "Pai, Filho e Ricardo Salgado", mas pode haver parecido.
Medina Carreira;
Camilo Lourenço;
Marcelo Rebelo de Sousa;
Marques Mendes;
José Gomes Ferreira.
Cinco nomes para uma estrela de cinco pontas invertida. Todos eles são bestas e pouco faltará para terem os cascos de uma.
Tentei, ainda, pesquisar por uma figura que os incorporasse.
Está aqui.
Não sendo, nem querendo ser, particularmente teólogo, Jesus Cristo é amor. Amor é bem. O bem não é o mal. Açougue é talho.
Enquanto deslizava pelo mural do FB, descobri que, assim como Deus, o Diabo pode estar dividido. Não há um "Pai, Filho e Ricardo Salgado", mas pode haver parecido.
Medina Carreira;
Camilo Lourenço;
Marcelo Rebelo de Sousa;
Marques Mendes;
José Gomes Ferreira.
Cinco nomes para uma estrela de cinco pontas invertida. Todos eles são bestas e pouco faltará para terem os cascos de uma.
Tentei, ainda, pesquisar por uma figura que os incorporasse.
Está aqui.
quarta-feira, outubro 21, 2015
Proposta do dia
Atentai ao seguinte poema:
Eu já estive aqui anteriormente
Mas bati sempre no fundo
Passei uma vida inteira a correr
E sempre fugi
Mas contigo sinto qualquer coisa
Que me faz querer ficar
Estou preparado para isto
Nunca atiro para falhar
Mas sinto que vem uma tempestade a caminho
Se eu vou conseguir aguentar mais um dia
Já não faz sentido correr
Isto é algo que tenho de enfrentar
Se eu tudo arriscar
Podes comigo ficar?
Como é que vivo? Como é que respiro?
Sem te ter por perto sufoco
Quero sentir o amor a correr no meu sangue
Diz se é agora que tudo vou largar?
Por ti arrisco tudo,
É o que está escrito na parede.
Este poema é musica. Por quem?
Hipóteses:
a) António Antunes (a.k.a Tony Carreira)
b) João Pedro Pais
c) Clemente
d) Samuel Frederico
Resposta aqui.
Eu já estive aqui anteriormente
Mas bati sempre no fundo
Passei uma vida inteira a correr
E sempre fugi
Mas contigo sinto qualquer coisa
Que me faz querer ficar
Estou preparado para isto
Nunca atiro para falhar
Mas sinto que vem uma tempestade a caminho
Se eu vou conseguir aguentar mais um dia
Já não faz sentido correr
Isto é algo que tenho de enfrentar
Se eu tudo arriscar
Podes comigo ficar?
Como é que vivo? Como é que respiro?
Sem te ter por perto sufoco
Quero sentir o amor a correr no meu sangue
Diz se é agora que tudo vou largar?
Por ti arrisco tudo,
É o que está escrito na parede.
Este poema é musica. Por quem?
Hipóteses:
a) António Antunes (a.k.a Tony Carreira)
b) João Pedro Pais
c) Clemente
d) Samuel Frederico
Resposta aqui.
terça-feira, outubro 13, 2015
Du Vin
Conheço poucas pessoas que não gostem de vinho.
Ponto prévio: não sou daquelas pessoas que categoriza as outras por aquilo que comem (e bebem) ou não. Por exemplo, jamais ficaria menos impressionado com alguém se soubesse que esse alguém não gostava de trufas. O mesmo sucede para o vinho.
O vinho é das poucas bebidas que pode ser consumida à refeição e como bebida social. Dir-me-ão que todas têm a mesma benção. Digo que não. Jamais algum manjar ficará bem acompanhado com Blue Coraçao ou Baileys.
É uma bebida democrática. É bebida pelo bêbedo. É bebida pelo nobre. É transversal. Ainda que nunca nos passe pela goela um Barca Velha de 2004 (e a mim nunca passou), soubemos que existe vinho bom a menos de 5 euros.
Venho, por esta via, lamentar a falta de vinho nas reuniões que António Costa tem mantido. Não é que não perceba. Os jornalistas iam achar horrendo o bafo expelido depois de um encontro com Passos e Portas. Iam imputar-lhe adjectivos desonrosos. Chamar-lhe coisas feias. Jurar que não era o líder que o país precisava.
Entendo, mas lamento.
A minha experiência ensinou-me que os melhores negócios se fazem à mesa. Em mesas onde não se bebe água. Não deviam ter existido reuniões. Deviam ter sido marcados jantares ou almoços. Penso que todos ganhariam. Desde logo, o sector privado da restauração, que bem carecido está. Ganhavam os jornalistas. É que para além do que diriam no caso de existir uma simples reunião, teriam mais assunto: a conta, quem a pagou, o que se bebeu, o que se comeu, quem comeu o quê. Poderia dar-se o caso de existir uma reportagem na Tabu com o cozinheiro que preparou a cabeça de peixe que Passos tinha deglutido. Até mesmo uma crónica no Correio da Manhã com uma tabela de correspondências entre o que Costa comeu e Sócrates havia comido, naquele mesmo restaurante, há 5 anos, com prejuízo para o primeiro, uma vez que Sócrates comeu as ostras de entrada, mandou vir o Heston Blumenthal para fazer o prato e encerrou com uma edição limitada de uma mousse de chocolate confeccionada apud receita inventada por um mestre chocolateiro morto em Jacarta.
Mas, melhor que tudo, as televisões poderiam contratar "entendidos" que pudessem ligar o vinho tomado com o perfil do tomador. "Portas pediu José de Sousa 2011, o que revela que gosta de homens mais velhos". "Catarina Martins optou por um Mateus Rosé, o que claramente a desqualifica para qualquer cargo governativo". "Jerónimo de Sousa bebeu palheto, o que mostra a tradição a que o PC é fiel". Por aí fora.
Este post é, como disse, um lamento. O melhor de Portugal é a hotelaria, o turismo. A jóia da coroa é a gastronomia. Sem respeito pelos Portugueses, os actores políticos deram um sinal terrível ao país.
Não faço planos de perdoar.
Ponto prévio: não sou daquelas pessoas que categoriza as outras por aquilo que comem (e bebem) ou não. Por exemplo, jamais ficaria menos impressionado com alguém se soubesse que esse alguém não gostava de trufas. O mesmo sucede para o vinho.
O vinho é das poucas bebidas que pode ser consumida à refeição e como bebida social. Dir-me-ão que todas têm a mesma benção. Digo que não. Jamais algum manjar ficará bem acompanhado com Blue Coraçao ou Baileys.
É uma bebida democrática. É bebida pelo bêbedo. É bebida pelo nobre. É transversal. Ainda que nunca nos passe pela goela um Barca Velha de 2004 (e a mim nunca passou), soubemos que existe vinho bom a menos de 5 euros.
Venho, por esta via, lamentar a falta de vinho nas reuniões que António Costa tem mantido. Não é que não perceba. Os jornalistas iam achar horrendo o bafo expelido depois de um encontro com Passos e Portas. Iam imputar-lhe adjectivos desonrosos. Chamar-lhe coisas feias. Jurar que não era o líder que o país precisava.
Entendo, mas lamento.
A minha experiência ensinou-me que os melhores negócios se fazem à mesa. Em mesas onde não se bebe água. Não deviam ter existido reuniões. Deviam ter sido marcados jantares ou almoços. Penso que todos ganhariam. Desde logo, o sector privado da restauração, que bem carecido está. Ganhavam os jornalistas. É que para além do que diriam no caso de existir uma simples reunião, teriam mais assunto: a conta, quem a pagou, o que se bebeu, o que se comeu, quem comeu o quê. Poderia dar-se o caso de existir uma reportagem na Tabu com o cozinheiro que preparou a cabeça de peixe que Passos tinha deglutido. Até mesmo uma crónica no Correio da Manhã com uma tabela de correspondências entre o que Costa comeu e Sócrates havia comido, naquele mesmo restaurante, há 5 anos, com prejuízo para o primeiro, uma vez que Sócrates comeu as ostras de entrada, mandou vir o Heston Blumenthal para fazer o prato e encerrou com uma edição limitada de uma mousse de chocolate confeccionada apud receita inventada por um mestre chocolateiro morto em Jacarta.
Mas, melhor que tudo, as televisões poderiam contratar "entendidos" que pudessem ligar o vinho tomado com o perfil do tomador. "Portas pediu José de Sousa 2011, o que revela que gosta de homens mais velhos". "Catarina Martins optou por um Mateus Rosé, o que claramente a desqualifica para qualquer cargo governativo". "Jerónimo de Sousa bebeu palheto, o que mostra a tradição a que o PC é fiel". Por aí fora.
Este post é, como disse, um lamento. O melhor de Portugal é a hotelaria, o turismo. A jóia da coroa é a gastronomia. Sem respeito pelos Portugueses, os actores políticos deram um sinal terrível ao país.
Não faço planos de perdoar.
segunda-feira, outubro 05, 2015
Bíblia
A
páginas tantas, António Costa empunhava aquela pastinha e quase a
venerava, como se de um vendedor de bíblias se tratasse. Não sei quem
lhe disse que aquilo iria resultar.
Quem me conhece, sabe que não morro de amores por António Costa. Nunca o vi como suficientemente capaz de estar à altura do que ambicionava, isto é, comandar os destinos deste país. Sei, contudo, duas coisas: que o político António Costa tinha algumas provas dadas e que o candidato António Costa foi pouco melhor que fraquíssimo.
Até que se chegou ao dia das eleições e, às 20 horas, numa casa repleta de "adeptos do mesmo clube", assisti a uma calamitosa derrota.
No princípio foi o verbo e no fim foi Porto Editora.
Quem me conhece, sabe que não morro de amores por António Costa. Nunca o vi como suficientemente capaz de estar à altura do que ambicionava, isto é, comandar os destinos deste país. Sei, contudo, duas coisas: que o político António Costa tinha algumas provas dadas e que o candidato António Costa foi pouco melhor que fraquíssimo.
Até que se chegou ao dia das eleições e, às 20 horas, numa casa repleta de "adeptos do mesmo clube", assisti a uma calamitosa derrota.
No princípio foi o verbo e no fim foi Porto Editora.
terça-feira, setembro 22, 2015
Banda Sonora para as Eleições
Hoje, mais um fado. Este remota à I República (assim me disseram), contudo, vou aproveitá-lo para enquadrar duas temáticas ou, por outra, dois traços que marcam uma campanha eleitoral em Portugal: as arruadas e as famílias que deixam de se falar porque "a prima Laura é uma comuna de merda" e o "Zé é um facho do caralho".
Desata tudo ao biscoito.
Desata tudo ao biscoito.
Pork. Pig
Ontem escrevia-se que, a certa altura, Cameron, British P.M, enfiou o seu pénis na boca de um porco morto. Chama-se ao caso Pig Gate.
Hoje, li que o Pedro Boucherie Mendes não acha assim tão importante ter opinião sobre tudo e que, por vezes, até finge ter opinião sobre determinado tópico, finalizando com o exemplo do caso dos Mirós.
Há bocado, li um bocado do Beccaria, na parte em que dizia que o juiz deve construir um silogismo perfeito para decidir e apresentar a sua decisão.
Agora, temo bem que o mundo esteja sobrecarregado de coisas que não interessam ao menino Jesus.
Hoje, li que o Pedro Boucherie Mendes não acha assim tão importante ter opinião sobre tudo e que, por vezes, até finge ter opinião sobre determinado tópico, finalizando com o exemplo do caso dos Mirós.
Há bocado, li um bocado do Beccaria, na parte em que dizia que o juiz deve construir um silogismo perfeito para decidir e apresentar a sua decisão.
Agora, temo bem que o mundo esteja sobrecarregado de coisas que não interessam ao menino Jesus.
sexta-feira, setembro 18, 2015
Respeito
Tinha mais ou menos um metro e sessenta. Aparência cuidada, e bons modos, não deve muito à beleza.
Vinha contar-me o que ali a trazia. Violência doméstica. Um agarrar de pescoço. Uma discussão. Anos de bailado e natação, como na música. Um namoro de quase 20 anos, com filhos, com momentos.
Descobri traições constantes e serôdias.
Descobri desprezo pela família.
Ainda não percebi porquê.
Porquê só hoje.
Não me venham com histórias: é maior a capacidade de sofrer do que a capacidade de amar.
Vinha contar-me o que ali a trazia. Violência doméstica. Um agarrar de pescoço. Uma discussão. Anos de bailado e natação, como na música. Um namoro de quase 20 anos, com filhos, com momentos.
Descobri traições constantes e serôdias.
Descobri desprezo pela família.
Ainda não percebi porquê.
Porquê só hoje.
Não me venham com histórias: é maior a capacidade de sofrer do que a capacidade de amar.
quinta-feira, setembro 17, 2015
Ensaio (pois, sim. Mini-escrito e já gozas) sobre uma hipotética banda sonora para as eleições
Pode ser só de mim, mas acho que todos os momentos da vida individual e colectiva devem ser acompanhados de música. O amor, o fel, o desprezo, o sucesso. Há som adequado a tudo.
Hoje, vamos perceber (vamos, isto é, eu) que existe "sonido" para as próximas eleições.
Para a indiferença. Para os candidatos, políticas e propostas. Para a realidade. Para a miséria.
Vou tentar colocar uma por semana.
Hoje, o povo que talha com o seu machado as tábuas do meu caixão.
Hoje, vamos perceber (vamos, isto é, eu) que existe "sonido" para as próximas eleições.
Para a indiferença. Para os candidatos, políticas e propostas. Para a realidade. Para a miséria.
Vou tentar colocar uma por semana.
Hoje, o povo que talha com o seu machado as tábuas do meu caixão.
terça-feira, setembro 15, 2015
O Mundo
Vi, há momentos, uma publicidade a uma série em que o protagonista é um fulano super inteligente, capaz e munido de recursos infindáveis.
Este modelo de personagem não é novo. Basta pensar: Dr. House, Shark, Forever e por aí fora.
Quando não estamos a fazer vénias ao génio, há a outra face das séries: os homicídios. Nem faço ideia à quantidade de gente morta nas 20 temporadas de Lei e Ordem ou nas 15 de CSI. Em contas breves, numa estimativa rápida, se cada série tem 22 episódios e em cada episódio morre uma pessoa, em Lei e Ordem já morreram 440 pessoas e no CSI morreram 330, ou seja, somado dá 770.
Isto é o grosso das séries.
Fora o génio e homicídio, há, também, mas não só, o híbrido e o original. Como híbrido temos o exemplo do policial. Aí, há um génio que investiga o homicídio. Mantenho a autonomia dogmática do híbrido porquanto, ainda que em séries como o Lei e Ordem não haja génios, há policias esforçados, no True Detective há génios puros...a investigar homicídios... O híbrido também comporta séries de médicos, ou advogados: E.R, Good wife ou Grey. Mistura-se drama com algo especializado. Também sucede com a comédia, quando se junta a dita ao direito e temos o Boston Legal, só a título de exemplo.
Resta o original ou "despadronizado", mas não só, ou seja, qualquer coisa que não está massificada como os géneros supra descritos. As sit-com foram originais. Deixaram de ser e agora estão no mainstream, juntamente com todo o resto da comédia. Eis outro género. As séries de ficção científica também estão à parte e ainda servem um nicho.
Então o que é original? Guerra dos tronos? Parece-me que se encaixa nas séries de época/históricas, à semelhança das adaptações de grandes livros ou livros bem vendidos, como os Pilares da Terra.
No catálogo de "original", há quatro exemplos, na minha modesta opinião: O Shameless (Inglês ou Americano), o Nip/Tuck, Wayward Pines ou American Horror Story. Há mais coisas, mas estes são de salientar.
E porquê esta dissertação?
Para expressar, fundamentalmente, um lamento. Não há ninguém que pegue na personagem de um gajo que "não dava para a escola", vai de trabalho em trabalho, porque trabalhar também não é a cena dele, e passa os tempos que tem livres numa taberna/tasca/casa de pasto. Não há ninguém que retrate uma vida média, não especialmente brilhante.
Eu teria um guião para esta série. O título era básico, como o personagem: seria o seu nome, ou apelido. "Esteves".
"Esteves" seria a história de um fulano à porta dos 40 anos que já tinha sido repositor de stock, assistente de vendas, escriturário de 3.ª e, agora, estava tentar ganhar a vida como auxiliar de padeiro. O rendimento é de € 500,00, já depois dos descontos, e vive em Vila Franca de Xira num t1 mobilado pelo senhorio. De família, só sobra a Esteves a mãe, já velhota, e um tio que veio maluco do Ultramar. Tem uma namorada, Sheila, com está um tudo-nada acima do peso, mas com quem não vive. Sheila tem o seu negócio de mercearia e consegue viver melhor que o Esteves. Como auxiliar de padeiro, o Esteves passa as manhãs a dormir, a tarde, ora com Sagres ou com Super Bock e, à noite, trabalha. Está com a Sheila quando não há dinheiro para as minis.
As férias de Esteves são passadas na Costa, para onde se desloca num Citroen Saxo Cup. Politicamente, Esteves chegou a militar no P.C, mas agora nem vota. Quanto a vícios, poucos. 4 a 6 cigarros Águia por dia; as minis, claro, e reality-shows, onde já se tentou inscrever.
E pronto, a série seria observar este dia-a-dia, com Esteves a fazer conversa no café/taberna/casa de pasto, a discutir com Sheila, ou a fazer o doce amor com ela e a aprender a arte de bem fazer pão. Tudo isto no cenário de Vila Franca.
Eu seria fã.
Este modelo de personagem não é novo. Basta pensar: Dr. House, Shark, Forever e por aí fora.
Quando não estamos a fazer vénias ao génio, há a outra face das séries: os homicídios. Nem faço ideia à quantidade de gente morta nas 20 temporadas de Lei e Ordem ou nas 15 de CSI. Em contas breves, numa estimativa rápida, se cada série tem 22 episódios e em cada episódio morre uma pessoa, em Lei e Ordem já morreram 440 pessoas e no CSI morreram 330, ou seja, somado dá 770.
Isto é o grosso das séries.
Fora o génio e homicídio, há, também, mas não só, o híbrido e o original. Como híbrido temos o exemplo do policial. Aí, há um génio que investiga o homicídio. Mantenho a autonomia dogmática do híbrido porquanto, ainda que em séries como o Lei e Ordem não haja génios, há policias esforçados, no True Detective há génios puros...a investigar homicídios... O híbrido também comporta séries de médicos, ou advogados: E.R, Good wife ou Grey. Mistura-se drama com algo especializado. Também sucede com a comédia, quando se junta a dita ao direito e temos o Boston Legal, só a título de exemplo.
Resta o original ou "despadronizado", mas não só, ou seja, qualquer coisa que não está massificada como os géneros supra descritos. As sit-com foram originais. Deixaram de ser e agora estão no mainstream, juntamente com todo o resto da comédia. Eis outro género. As séries de ficção científica também estão à parte e ainda servem um nicho.
Então o que é original? Guerra dos tronos? Parece-me que se encaixa nas séries de época/históricas, à semelhança das adaptações de grandes livros ou livros bem vendidos, como os Pilares da Terra.
No catálogo de "original", há quatro exemplos, na minha modesta opinião: O Shameless (Inglês ou Americano), o Nip/Tuck, Wayward Pines ou American Horror Story. Há mais coisas, mas estes são de salientar.
E porquê esta dissertação?
Para expressar, fundamentalmente, um lamento. Não há ninguém que pegue na personagem de um gajo que "não dava para a escola", vai de trabalho em trabalho, porque trabalhar também não é a cena dele, e passa os tempos que tem livres numa taberna/tasca/casa de pasto. Não há ninguém que retrate uma vida média, não especialmente brilhante.
Eu teria um guião para esta série. O título era básico, como o personagem: seria o seu nome, ou apelido. "Esteves".
"Esteves" seria a história de um fulano à porta dos 40 anos que já tinha sido repositor de stock, assistente de vendas, escriturário de 3.ª e, agora, estava tentar ganhar a vida como auxiliar de padeiro. O rendimento é de € 500,00, já depois dos descontos, e vive em Vila Franca de Xira num t1 mobilado pelo senhorio. De família, só sobra a Esteves a mãe, já velhota, e um tio que veio maluco do Ultramar. Tem uma namorada, Sheila, com está um tudo-nada acima do peso, mas com quem não vive. Sheila tem o seu negócio de mercearia e consegue viver melhor que o Esteves. Como auxiliar de padeiro, o Esteves passa as manhãs a dormir, a tarde, ora com Sagres ou com Super Bock e, à noite, trabalha. Está com a Sheila quando não há dinheiro para as minis.
As férias de Esteves são passadas na Costa, para onde se desloca num Citroen Saxo Cup. Politicamente, Esteves chegou a militar no P.C, mas agora nem vota. Quanto a vícios, poucos. 4 a 6 cigarros Águia por dia; as minis, claro, e reality-shows, onde já se tentou inscrever.
E pronto, a série seria observar este dia-a-dia, com Esteves a fazer conversa no café/taberna/casa de pasto, a discutir com Sheila, ou a fazer o doce amor com ela e a aprender a arte de bem fazer pão. Tudo isto no cenário de Vila Franca.
Eu seria fã.
terça-feira, setembro 08, 2015
Trazido para o jazigo. Fui à praia e trouxe um búzio, cheguei a casa e na estante puzio
Fui feliz nas férias.
Um texto que estampasse a felicidade bastava-se com a afirmação supra escrita. Claro, o pretério perfeito indica que o estado de felicidade se extinguiu, mas que, de todo o modo, existiu. Não sendo a felicidade, por impossibilidade objectiva, eterna, chegava.
Durante o sossego, pensei que tudo ia mudar. Se não tudo, algo. Que não ia sentir qualquer espécie de contrariedade ao ir para o trabalho. Que ia gostar do que faço, independentemente de fazer o que gostasse.
Não.
Este blogue transformou-se num mausoléu de desabafos sobre a minha vida profissional. A certa altura, e lendo o que por aqui escrevo, dá a sensação que nada mais se passa.
E tanto se passa além disto.
Há a vida familiar e "amigalhar". Há Portugal.
Mas nada aqui é lembrado. Percebo. Há que ventilar.
Uma vez que a família, salvo uma triste excepção, está bem, deixo uma nota sobre Portugal.
Vai haver eleições.
Vou votar.
Contrariado e em uso do "voto útil".
Não encontro nenhum partido que me represente. Desta vez, vou votar contra alguém, em vez de apoiar um projecto, como fiz em todas as eleições legislativas em que exerci o meu dever cívico.
A conclusão que tiro é a seguinte: na noite de 4 de Outubro, perco sempre.
Um texto que estampasse a felicidade bastava-se com a afirmação supra escrita. Claro, o pretério perfeito indica que o estado de felicidade se extinguiu, mas que, de todo o modo, existiu. Não sendo a felicidade, por impossibilidade objectiva, eterna, chegava.
Durante o sossego, pensei que tudo ia mudar. Se não tudo, algo. Que não ia sentir qualquer espécie de contrariedade ao ir para o trabalho. Que ia gostar do que faço, independentemente de fazer o que gostasse.
Não.
Este blogue transformou-se num mausoléu de desabafos sobre a minha vida profissional. A certa altura, e lendo o que por aqui escrevo, dá a sensação que nada mais se passa.
E tanto se passa além disto.
Há a vida familiar e "amigalhar". Há Portugal.
Mas nada aqui é lembrado. Percebo. Há que ventilar.
Uma vez que a família, salvo uma triste excepção, está bem, deixo uma nota sobre Portugal.
Vai haver eleições.
Vou votar.
Contrariado e em uso do "voto útil".
Não encontro nenhum partido que me represente. Desta vez, vou votar contra alguém, em vez de apoiar um projecto, como fiz em todas as eleições legislativas em que exerci o meu dever cívico.
A conclusão que tiro é a seguinte: na noite de 4 de Outubro, perco sempre.
sexta-feira, julho 31, 2015
Voltando ao texto, o que é recorrente
O irmão do meu patrão trabalha na sociedade de advogados em que exerço funções.
O que faz ele? Para além do que lhe apetece, faz coisas. Por coisas entenda-se qualquer coisa parecida com serviço administrativo.
Quase a chegar aos 30 anos, muito meditei antes de escrever aquilo que escrevi. Pensei em pessoas, feitios, episódios, até mesmo filosofias.
Cheguei a uma conclusão. Há três pessoas que podiam sair da minha vida, ainda que de forma pensada e ordenada, mercê das condicionantes socio-económicas. Eis as 3 piores pessoas que habitam na minha vida:
O irmão do meu patrão. É a pior pessoa que conheço. Não se aproveita nada. Não lhe conheci uma virtude, algo por que se possa puxar. Até o bem que faz é mau.
Logo a seguir, está o patrão, como é óbvio e razoável.
A finalizar o Top 3, sempre lembrando que o critério é terem alguma relação de proximidade e convívio comigo, está o irmão do meu patrão.
Não é engano.
(Adiantadas desculpas pelo texto à pita)
O que faz ele? Para além do que lhe apetece, faz coisas. Por coisas entenda-se qualquer coisa parecida com serviço administrativo.
Quase a chegar aos 30 anos, muito meditei antes de escrever aquilo que escrevi. Pensei em pessoas, feitios, episódios, até mesmo filosofias.
Cheguei a uma conclusão. Há três pessoas que podiam sair da minha vida, ainda que de forma pensada e ordenada, mercê das condicionantes socio-económicas. Eis as 3 piores pessoas que habitam na minha vida:
O irmão do meu patrão. É a pior pessoa que conheço. Não se aproveita nada. Não lhe conheci uma virtude, algo por que se possa puxar. Até o bem que faz é mau.
Logo a seguir, está o patrão, como é óbvio e razoável.
A finalizar o Top 3, sempre lembrando que o critério é terem alguma relação de proximidade e convívio comigo, está o irmão do meu patrão.
Não é engano.
(Adiantadas desculpas pelo texto à pita)
segunda-feira, julho 27, 2015
Dia 27
Há alturas em que, mesmo que nunca nos tenhamos esquecido, voltamos a lembrar por que razão existem uniões.
A "meia bola", a "melhor metade", digna desse nome, tem a capacidade de trazer à nossa vida aspectos e coisas que já tínhamos esquecido.
Voltei a ouvir isto. Fazia falta.
A "meia bola", a "melhor metade", digna desse nome, tem a capacidade de trazer à nossa vida aspectos e coisas que já tínhamos esquecido.
Voltei a ouvir isto. Fazia falta.
quinta-feira, julho 23, 2015
A propósito da revisitação a Nip/Tuck
Nunca granjeou grande popularidade a série a que me refiro acima.
Haverá vários motivos, mas o principal será, talvez, o grau de whatthefuckness que abunda em cada episódio e personagem. Muito triângulo, muita carne, muito daquilo que não é aberto.
Emitida, actualmente, pela SIC Radical, recomecei, assim como a minha melhor metade, a ver a série do seu início.
Num episódio recente, uma das personagens principais, Sean McNamara, escrevia o seu epitáfio. Não porque tivesse morrido ou estivesse para isso. Inquirido pelo seu filho sobre as razões de tal acto, respondeu-lhe que era um exercício de motivação.
Há, na minha opinião, uma grande música dos Titãs, precisamente chamada de "Epitáfio". Uma lista de lamentos e de "coulda-shoulda-woulda". Apesar de ser excelente, como disse, não achei correcto que lhe dessem um nome que não corresponde àquilo que é. A letra da música, o poema, para usar uma palavra que devia ter um significado mais restrito, é um rol "do que devia ter sido". O epitáfio tem de conter aquilo que efectivamente foi/aconteceu.
Na pior das hipóteses, o epitáfio é um testamento, um legado de factos e conquistas do de cujus.
Abomino a ideia de ser eu a escrevê-lo. Ainda pensei fazê-lo. Contudo, é demasiado tétrico. Demasiado mórbido. Faltar-me-ia a objectividade. Faltar-me-ia tudo.
Será estranho pedir a um amigo para fazê-lo? Será mais justo solicitá-lo a um inimigo?
Pus-me a pensar. Não há ninguém que o pudesse fazer por mim. A minha família e até amigos, inexplicavelmente, gostam de mim. Seria doce. Os restantes seres assumem perante mim uma postura de indiferença ou desdém que também não permitiria a execução com qualidade.
Ao fim e ao cabo, o que somos é subjectivo. Claro que há factos e actos. Mas os factos e os actos não são nada sem interpretação.
Haverá vários motivos, mas o principal será, talvez, o grau de whatthefuckness que abunda em cada episódio e personagem. Muito triângulo, muita carne, muito daquilo que não é aberto.
Emitida, actualmente, pela SIC Radical, recomecei, assim como a minha melhor metade, a ver a série do seu início.
Num episódio recente, uma das personagens principais, Sean McNamara, escrevia o seu epitáfio. Não porque tivesse morrido ou estivesse para isso. Inquirido pelo seu filho sobre as razões de tal acto, respondeu-lhe que era um exercício de motivação.
Há, na minha opinião, uma grande música dos Titãs, precisamente chamada de "Epitáfio". Uma lista de lamentos e de "coulda-shoulda-woulda". Apesar de ser excelente, como disse, não achei correcto que lhe dessem um nome que não corresponde àquilo que é. A letra da música, o poema, para usar uma palavra que devia ter um significado mais restrito, é um rol "do que devia ter sido". O epitáfio tem de conter aquilo que efectivamente foi/aconteceu.
Na pior das hipóteses, o epitáfio é um testamento, um legado de factos e conquistas do de cujus.
Abomino a ideia de ser eu a escrevê-lo. Ainda pensei fazê-lo. Contudo, é demasiado tétrico. Demasiado mórbido. Faltar-me-ia a objectividade. Faltar-me-ia tudo.
Será estranho pedir a um amigo para fazê-lo? Será mais justo solicitá-lo a um inimigo?
Pus-me a pensar. Não há ninguém que o pudesse fazer por mim. A minha família e até amigos, inexplicavelmente, gostam de mim. Seria doce. Os restantes seres assumem perante mim uma postura de indiferença ou desdém que também não permitiria a execução com qualidade.
Ao fim e ao cabo, o que somos é subjectivo. Claro que há factos e actos. Mas os factos e os actos não são nada sem interpretação.
quarta-feira, julho 08, 2015
À beira
Estou quase com 30 anos.
A este respeito, lembrei-me de uma questão que me é colocada há décadas (sim, há décadas): "por que razão não gostas de fazer/celebrar o teu aniversário?"
Já o disse dezenas de vezes. Agora, fica escrito e, so help me god, vou colocar uma "etiqueta" (tag) no fim. Para me lembrar. Para servir de remissão.
Que sentido tem festejar a mediocridade? Tenho quase 30 anos e sou um trabalhador de segunda, desprezado, ignorado, tantas vezes vilipendiado, desonrado.
Que sentido tem festejar a data? Tenho quase 30 anos e, lembrando os factos supra expostos, nem por isso ganho melhor, sequer bem, não tenho o dinheiro para viver o que queria nem para fazer coisas por quem gostava.
Que sentido tem ouvir a canção dos parabéns? Quando morrer, serei uma vírgula na história, um nada, um ninguém, uma alma inominada que serviu e mal.
Porquê pensar diferente? Tirei um curso massificado, não estou com idade nem vida para mudar, não ingressei na carreira que queria, trabalho, há quase 6 anos, num sitio onde filho meu nunca porá os pés.
Mas e então não é engraçado celebrar o meu nascimento? Acredito que sim, para as poucas pessoas que gostam de mim. Isso não me inclui a mim. Trocava a minha pela vida de qualquer pessoa. Odeio o que faço. Odeio ainda mais com quem faço.
Ao fim e ao cabo, percebo que o meu problema é a situação profissional. Que me mata.
Mas, claro, a culpa é toda minha. Não estou disposto a abdicar do que tenho em troca de paz. Porque se abdicar, tão cedo não arranjo ocupação. Porque se abdicar, desisti.
Mas, à beira dos meus 30 anos, é isto.
Estudei para ter uma carreira melhor do que a que tenho. A minha carreira não existe.
Deixei de sair à noite para poder descansar para um exame no dia seguinte. Se fosse hoje, até fortemente alcoolizado teria ido fazer o exame.
Deixei de fazer uma tese de mestrado porque estava a trabalhar e, quando vi que não chegava para as encomendas, até porque também tinha a agregação à O.A metida ao barulho, escolhi o trabalho. Devia ter saído daqui e começava de novo.
Mas não.
Tenho 30 anos e nem o respeito próprio alcancei.
Se tudo correr bem, esse dia fatídico será passado longe desta corja com quem coexisto 10 horas por dia.
A este respeito, lembrei-me de uma questão que me é colocada há décadas (sim, há décadas): "por que razão não gostas de fazer/celebrar o teu aniversário?"
Já o disse dezenas de vezes. Agora, fica escrito e, so help me god, vou colocar uma "etiqueta" (tag) no fim. Para me lembrar. Para servir de remissão.
Que sentido tem festejar a mediocridade? Tenho quase 30 anos e sou um trabalhador de segunda, desprezado, ignorado, tantas vezes vilipendiado, desonrado.
Que sentido tem festejar a data? Tenho quase 30 anos e, lembrando os factos supra expostos, nem por isso ganho melhor, sequer bem, não tenho o dinheiro para viver o que queria nem para fazer coisas por quem gostava.
Que sentido tem ouvir a canção dos parabéns? Quando morrer, serei uma vírgula na história, um nada, um ninguém, uma alma inominada que serviu e mal.
Porquê pensar diferente? Tirei um curso massificado, não estou com idade nem vida para mudar, não ingressei na carreira que queria, trabalho, há quase 6 anos, num sitio onde filho meu nunca porá os pés.
Mas e então não é engraçado celebrar o meu nascimento? Acredito que sim, para as poucas pessoas que gostam de mim. Isso não me inclui a mim. Trocava a minha pela vida de qualquer pessoa. Odeio o que faço. Odeio ainda mais com quem faço.
Ao fim e ao cabo, percebo que o meu problema é a situação profissional. Que me mata.
Mas, claro, a culpa é toda minha. Não estou disposto a abdicar do que tenho em troca de paz. Porque se abdicar, tão cedo não arranjo ocupação. Porque se abdicar, desisti.
Mas, à beira dos meus 30 anos, é isto.
Estudei para ter uma carreira melhor do que a que tenho. A minha carreira não existe.
Deixei de sair à noite para poder descansar para um exame no dia seguinte. Se fosse hoje, até fortemente alcoolizado teria ido fazer o exame.
Deixei de fazer uma tese de mestrado porque estava a trabalhar e, quando vi que não chegava para as encomendas, até porque também tinha a agregação à O.A metida ao barulho, escolhi o trabalho. Devia ter saído daqui e começava de novo.
Mas não.
Tenho 30 anos e nem o respeito próprio alcancei.
Se tudo correr bem, esse dia fatídico será passado longe desta corja com quem coexisto 10 horas por dia.
quinta-feira, julho 02, 2015
Agora, um desvio na rota, mas não no espírito.
Francisco José Viegas, que chegou a ser Secretário de Estado para a Cultura, tinha um belo blog no qual, de vez em quando, escrevia sobre futebol. A "rubrica", se assim quisermos chamar, dava pelo nome de "Cantinho do Hooligan". Hoje, apetece-me falar do Sporting.
O Sporting Clube de Portugal, fundado em 1906, é um imenso clube. Tem e inspira uma filosofia diferente das restantes agremiações desportivas. Enquanto Benfica e Porto têm uma matriz e base de apoio mais popular, o Sporting diferencia-se e aposta num entendimento do Desporto numa vertente mais plural. O Sporting é um clube de modalidades (para além do futebol). O Sporting tem um nome ouvido em todo o mundo. Em todos os meetings de atletismo, campeonatos de tudo e mais um par de botas, lá ouvimos o constante "(...) atleta do Sporting". Claro, os outros clubes também os têm. Sucede que os bons, verdadeiramente bons, são nossos. No disrespect.
Dito isto, o futebol é aquilo que preocupa 98% dos adeptos do clube.
E, no que a futebol diz respeito, isto não anda bem. Vamos a factos:
1. Há pouco dinheiro para grandes contratações;
2. A gestão desportiva é débil e inconsequente, senão vejamos;
2.1 Foi despedido o treinador que melhor pôs a equipa a jogar nos últimos anos e que ganhou, de facto, alguma coisa;
2.2 Nenhuma contratação trouxe algo de melhor à equipa, desde a tomada de posse de BdC;
3. A gestão (latu sensu) do clube corre o risco de ruir brevemente, ora;
3.1 No mesmo espaço físico estarão BdC, Jorge Jesus, Octávio Machado, Inácio, M. Fernandes
3.2 Deste lote, não há uma alma com bom feitio e espírito de negociação, é vai-ou-racha, sendo que vários destes elementos dão-se como cão e gato ou já deram;
3.3 Se não há vitórias no início do campeonato, rebenta a bomba.
Uma vez que não sou nenhum Rui Santos, deixo uma preocupação: que o edifício caia. Que ninguém se entenda. Que sejamos gozados pela incompetência e falta de visão.
A contratação do Octávio é errada. Não quero personalizar, mas acho que teve um tempo e que o tempo passou. Mesmo o tempo que teve foi um tempo mal passado.
Tenho pena do estilo do BdC. Aquilo não é o Sporting.
Acho que não vamos ganhar nada este ano. É mesmo triste, mas acho. Para além de um treinador que é, na minha opinião, acima de excelente e triplamente doutorado, não em futebol, mas em "bola", não há mais nada. Não há factores de acrescento, só factores de debilidade.
E pronto. Resta apoiar.
Obrigado e boa tarde.
O Sporting Clube de Portugal, fundado em 1906, é um imenso clube. Tem e inspira uma filosofia diferente das restantes agremiações desportivas. Enquanto Benfica e Porto têm uma matriz e base de apoio mais popular, o Sporting diferencia-se e aposta num entendimento do Desporto numa vertente mais plural. O Sporting é um clube de modalidades (para além do futebol). O Sporting tem um nome ouvido em todo o mundo. Em todos os meetings de atletismo, campeonatos de tudo e mais um par de botas, lá ouvimos o constante "(...) atleta do Sporting". Claro, os outros clubes também os têm. Sucede que os bons, verdadeiramente bons, são nossos. No disrespect.
Dito isto, o futebol é aquilo que preocupa 98% dos adeptos do clube.
E, no que a futebol diz respeito, isto não anda bem. Vamos a factos:
1. Há pouco dinheiro para grandes contratações;
2. A gestão desportiva é débil e inconsequente, senão vejamos;
2.1 Foi despedido o treinador que melhor pôs a equipa a jogar nos últimos anos e que ganhou, de facto, alguma coisa;
2.2 Nenhuma contratação trouxe algo de melhor à equipa, desde a tomada de posse de BdC;
3. A gestão (latu sensu) do clube corre o risco de ruir brevemente, ora;
3.1 No mesmo espaço físico estarão BdC, Jorge Jesus, Octávio Machado, Inácio, M. Fernandes
3.2 Deste lote, não há uma alma com bom feitio e espírito de negociação, é vai-ou-racha, sendo que vários destes elementos dão-se como cão e gato ou já deram;
3.3 Se não há vitórias no início do campeonato, rebenta a bomba.
Uma vez que não sou nenhum Rui Santos, deixo uma preocupação: que o edifício caia. Que ninguém se entenda. Que sejamos gozados pela incompetência e falta de visão.
A contratação do Octávio é errada. Não quero personalizar, mas acho que teve um tempo e que o tempo passou. Mesmo o tempo que teve foi um tempo mal passado.
Tenho pena do estilo do BdC. Aquilo não é o Sporting.
Acho que não vamos ganhar nada este ano. É mesmo triste, mas acho. Para além de um treinador que é, na minha opinião, acima de excelente e triplamente doutorado, não em futebol, mas em "bola", não há mais nada. Não há factores de acrescento, só factores de debilidade.
E pronto. Resta apoiar.
Obrigado e boa tarde.
terça-feira, junho 30, 2015
Por alguma razão
Quando o sol se põe, começo a lembrar-me dele, por alguma razão.
O auge da sua falta foi, sem qualquer dúvida, no dia do meu casamento. Senti-me culpado. Por tantas coisas. A primeira foi por não o ter ali. Viu-me sair de casa. Ainda soube da minha mudança para outra casa. Não me viu casar.
Falava bastante com ele. Tinha posição sobre tudo, concordasse-se ou não com ela. Tinha perspectiva, observava. Seria excelente saber o que pensa e o que ele pensava sempre me interessou. Não era mau a julgar caracteres e já tinha visto umas coisas. E ainda há a questão do sentido de humor. Forte.
Nunca o conheci com os defeitos que, ao longo do meu crescimento, lhe foram apontando. Certamente que os teria, o meu ponto é que não os via. Comigo sempre foi acima de excelente.
Deixou mágoa. A partida mudou, de forma objectiva e necessariamente definitiva, a vida. A minha e outras.
E lembro-me dele, sobretudo, quando uma vez, sozinhos, depois de ouvir uma das minhas ladainhas sobre a inutilidade da existência, me disse, de forma avisada e sincera, que devia arranjar ajuda.
Bom, essa ajuda veio, de várias formas. Mais ninguém me teria dito "vai-te tratar" com a seriedade e amizade dele. Costumo odiar sinceridade, mas ali soube-me bem. Talvez por se ter dado um dos raros casos em que a verdade/sinceridade se adequava e mal não faria.
Recordo-o sorridente.
E isso é tudo.
O auge da sua falta foi, sem qualquer dúvida, no dia do meu casamento. Senti-me culpado. Por tantas coisas. A primeira foi por não o ter ali. Viu-me sair de casa. Ainda soube da minha mudança para outra casa. Não me viu casar.
Falava bastante com ele. Tinha posição sobre tudo, concordasse-se ou não com ela. Tinha perspectiva, observava. Seria excelente saber o que pensa e o que ele pensava sempre me interessou. Não era mau a julgar caracteres e já tinha visto umas coisas. E ainda há a questão do sentido de humor. Forte.
Nunca o conheci com os defeitos que, ao longo do meu crescimento, lhe foram apontando. Certamente que os teria, o meu ponto é que não os via. Comigo sempre foi acima de excelente.
Deixou mágoa. A partida mudou, de forma objectiva e necessariamente definitiva, a vida. A minha e outras.
E lembro-me dele, sobretudo, quando uma vez, sozinhos, depois de ouvir uma das minhas ladainhas sobre a inutilidade da existência, me disse, de forma avisada e sincera, que devia arranjar ajuda.
Bom, essa ajuda veio, de várias formas. Mais ninguém me teria dito "vai-te tratar" com a seriedade e amizade dele. Costumo odiar sinceridade, mas ali soube-me bem. Talvez por se ter dado um dos raros casos em que a verdade/sinceridade se adequava e mal não faria.
Recordo-o sorridente.
E isso é tudo.
quarta-feira, junho 17, 2015
3 anos
Completam-se 3 anos, neste dia, desde que saí da casa dos meus pais e fui viver com "a tal", a que é hoje minha mulher.
Vou começar pelo inevitável chavão: passou a voar. Ainda me lembro como se tivesse sido há bocado. Saímos, ambos, das nossas origens e fomos ocupar a casa à tarde.
A casa era modesta, bastante humilde, mas serviu o seu propósito, o de albergar um jovem casal, durante pouco mais de um ano. As deficiências do imóvel eram algumas. As do lar nem tanto. Tive sérias infiltrações, rastejantes, frio de rachar e calor de assar.
Apesar de ter sido uma casa para esquecer, há de ficar sempre na minha memória. Porque, apesar de tudo, foi ali que começou a nova etapa da minha vida.
Vou começar pelo inevitável chavão: passou a voar. Ainda me lembro como se tivesse sido há bocado. Saímos, ambos, das nossas origens e fomos ocupar a casa à tarde.
A casa era modesta, bastante humilde, mas serviu o seu propósito, o de albergar um jovem casal, durante pouco mais de um ano. As deficiências do imóvel eram algumas. As do lar nem tanto. Tive sérias infiltrações, rastejantes, frio de rachar e calor de assar.
Apesar de ter sido uma casa para esquecer, há de ficar sempre na minha memória. Porque, apesar de tudo, foi ali que começou a nova etapa da minha vida.
terça-feira, junho 02, 2015
Ser Sócrates, ser 44
No passado dia 31 de Maio de 2015, o Sporting Clube de Portugal ganhou a sua 16.º Taça de Portugal.
Para a massa adepta de um clube que tem andado arredado, quer das discussões, quer dos títulos, significa muito ter o que festejar, quando, e sobretudo, a vitória é de uma raça inigualável.
No dia seguinte ao triunfo, quando venho trabalhar, lembro-me que tenho um cachecol guardado no armário do arquivo. Trata-se, obviamente, de um cachecol à Sporting, com símbolo, cores, the whole nine yards. Orgulhosamente, exibo-o, ainda que não ostensivamente, por cima de uma cómoda que habita o meu gabinete.
Durante o dia, ao receber clientes, e para não ferir susceptibilidades, arrumava-o. Contudo, quando a chamada costa estava livre, lá aparecia ele.
Os meus colegas, Benfiquistas agudos, ao verem aquilo, riam amistosamente, cumprimentavam-me pelo sucesso da minha equipa do coração. O próprio chefe, viu, gargalhou sonoramente e jamais me fez um reparo por ter ali colocado o artefacto.
Hoje, ao chegar, dou de caras, no gabinete onde cumpro calvário, com o irmão do patrão, figura a que já fiz referência no passado.
"Duarte, fui eu que te tirei o cachecol dali. Se a gente não queremos ser provocados, não podemos provocar. Eu conheço o meu irmão e sei que ele não gosta destas coisas. Eu conheço o meu irmão"
Senti-me um preso em Évora.
Para a massa adepta de um clube que tem andado arredado, quer das discussões, quer dos títulos, significa muito ter o que festejar, quando, e sobretudo, a vitória é de uma raça inigualável.
No dia seguinte ao triunfo, quando venho trabalhar, lembro-me que tenho um cachecol guardado no armário do arquivo. Trata-se, obviamente, de um cachecol à Sporting, com símbolo, cores, the whole nine yards. Orgulhosamente, exibo-o, ainda que não ostensivamente, por cima de uma cómoda que habita o meu gabinete.
Durante o dia, ao receber clientes, e para não ferir susceptibilidades, arrumava-o. Contudo, quando a chamada costa estava livre, lá aparecia ele.
Os meus colegas, Benfiquistas agudos, ao verem aquilo, riam amistosamente, cumprimentavam-me pelo sucesso da minha equipa do coração. O próprio chefe, viu, gargalhou sonoramente e jamais me fez um reparo por ter ali colocado o artefacto.
Hoje, ao chegar, dou de caras, no gabinete onde cumpro calvário, com o irmão do patrão, figura a que já fiz referência no passado.
"Duarte, fui eu que te tirei o cachecol dali. Se a gente não queremos ser provocados, não podemos provocar. Eu conheço o meu irmão e sei que ele não gosta destas coisas. Eu conheço o meu irmão"
Senti-me um preso em Évora.
quarta-feira, maio 27, 2015
Uma estreia
Hoje, fui ameaçado.
Não falo no sentido técnico-jurídico. Falo no plano "social".
É uma estreia.
Não foi uma ameaça de morte. Não foi contra a minha vida, ou integridade física.
Foi no âmbito profissional.
Sendo sempre correcto e justo com todos, fui ameaçado.
Não falo no sentido técnico-jurídico. Falo no plano "social".
É uma estreia.
Não foi uma ameaça de morte. Não foi contra a minha vida, ou integridade física.
Foi no âmbito profissional.
Sendo sempre correcto e justo com todos, fui ameaçado.
segunda-feira, maio 25, 2015
São 8 anos
A minha existência é, por alguma razão que me escapa, marcada por uma angústia constante. A verdade é que poucas vezes tive equilíbrios que me permitissem alguma paz. Contudo, foram muitas as vezes que fui feliz. Modo geral, sou-o.
Faz hoje 8 anos que a minha vida sofreu a primeira grande alteração: encontrei alguém que até estava disposto a aturar-me. Claro que a minha família nunca me faltou com nada, não me podendo queixar. Sucede que, há 8 anos, alguém começou a ver em mim algo que nem eu próprio vislumbro.
Depois de tantos episódios (tantos e bons!), acabei por me casar com a Tal. Aquela que, há 8 anos, me disse que sim.
Se hoje somos casados, também posso dizer que nunca deixámos de ser namorados.
segunda-feira, maio 18, 2015
A multiplicação dos aniversários
"Comemoro" (e mais aspas houvesse) 3 anos de agregação à Ordem dos Advogados.
Recordo-me do dia. Foi tão indiferente, que até comecei a fumar. Foi tão ligeiro, que nem consegui estar ao pé das examinadoras quando foi revelada a nota.
Em suma, um dia fácil, ou não dependessem quase três anos da mais pura submissão a um só momento.
3 anos depois, nesta Segunda-Feira, chego ao escritório e recebo uma mensagem no telemóvel.
"Já tive a má notícia, a juiza condenou-me a pagar tudo a eles".
Fui procurado por um colega. Disse-me que precisava da minha ajuda. Havia duas partes em contenda e ele, advogado, sendo amigo de ambas, não queria patrocinar aquela que lhe tinha solicitado patrocínio forense. Pediu-me, então, que avançasse, que representasse aquela que o tinha procurado. O trato era simples: ele fazia os articulados e eu o julgamento.
O caso era ruím. Em traços largos, duas amigas de infância, uma mais rica e outra menos, começaram a explorar um café, juntamente com o marido da rica. O negócio foi proveitoso e quiseram avançar para uma frutaria, na porta ao lado. A frutaria era para ser explorada pelas duas, tanto que ambas, formalmente, eram gerentes. A rica e o marido pediram um empréstimo ao banco e equiparam a casa. Contudo, o negócio correu mal. Não havia receitas, surgiram multas de várias entidades...um pavor. É então que a rica decide que quer fechar aquilo. A menos abonada diz que não, que mantém o barco. Celebra novo contrato de arrendamento e fica a laborar lá.
Alguns anos mais tarde, a rica e o marido dão entrada de uma acção a pedir uma avultada quantia pelos móveis que ficaram no estabelecimento, alegando a existência de um contrato de compra e venda. A "Demandada" procura o meu colega e o meu colega procura-me a mim.
Vim a saber várias coisas.
- Nunca foi celebrado contrato algum. Aliás, os "Demandantes" juntam na Petição Inicial uma minuta e para lá remetem quando querem provar a "existência do contrato";
- Por várias vezes, a minha constituinte insistiu para que os "Demandantes" fossem buscar os seus móveis, até lhe enviou cartas;
- A rica (so to speak) tinha a chave da loja, e sempre teve, para poder ir buscar os móveis e nunca foi;
- A rica deixou dívidas e a pobre pagou-as.
Faz-se julgamento. A minha primeira pergunta para todas as testemunhas, seja dos "Demandantes" como da "Demandada" foi: tem conhecimento se foi celebrado algum contrato entre as partes? A resposta, de todas!, foi uma só: "não". Se não há nada escrito e se ninguém pode confirmar a existência de contrato, está criada uma nova modalidade de prova: a prova por presunção de existência de contrato.
As testemunhas sabiam que tinha havido amizade, um negócio, que as coisas correram mal, mas nunca ninguém disse que tinha havido um contrato.
No aniversário dia em que me agreguei, perdi uma acção.
A meu ver, perdi-a sem razão (a sentença é anedótica ao ponto de dar como provados factos que TODAS as testemunhas negaram).
Perdi.
Perder quando o cliente pode suportar é uma coisa. Perder quando nem havia alternativa é uma coisa. Perder quando nada se logrou é uma coisa.
De forma vergonhosa, uma quadrilha foi a um Julgado de Paz pedir dinheiro e saiu de lá com uma sentença.
Sem provar nada. Sem mostrar nada.
E eu não pude evitar.
Perdi.
Se houver deus, não estarei mais 3 anos metido neste sistema.
Não haja equívocos: esta é a pior profissão do mundo.
E eu celebro o terceiro aniversário de "carreira". Sou um Tony.
Recordo-me do dia. Foi tão indiferente, que até comecei a fumar. Foi tão ligeiro, que nem consegui estar ao pé das examinadoras quando foi revelada a nota.
Em suma, um dia fácil, ou não dependessem quase três anos da mais pura submissão a um só momento.
3 anos depois, nesta Segunda-Feira, chego ao escritório e recebo uma mensagem no telemóvel.
"Já tive a má notícia, a juiza condenou-me a pagar tudo a eles".
*
Fui procurado por um colega. Disse-me que precisava da minha ajuda. Havia duas partes em contenda e ele, advogado, sendo amigo de ambas, não queria patrocinar aquela que lhe tinha solicitado patrocínio forense. Pediu-me, então, que avançasse, que representasse aquela que o tinha procurado. O trato era simples: ele fazia os articulados e eu o julgamento.
O caso era ruím. Em traços largos, duas amigas de infância, uma mais rica e outra menos, começaram a explorar um café, juntamente com o marido da rica. O negócio foi proveitoso e quiseram avançar para uma frutaria, na porta ao lado. A frutaria era para ser explorada pelas duas, tanto que ambas, formalmente, eram gerentes. A rica e o marido pediram um empréstimo ao banco e equiparam a casa. Contudo, o negócio correu mal. Não havia receitas, surgiram multas de várias entidades...um pavor. É então que a rica decide que quer fechar aquilo. A menos abonada diz que não, que mantém o barco. Celebra novo contrato de arrendamento e fica a laborar lá.
Alguns anos mais tarde, a rica e o marido dão entrada de uma acção a pedir uma avultada quantia pelos móveis que ficaram no estabelecimento, alegando a existência de um contrato de compra e venda. A "Demandada" procura o meu colega e o meu colega procura-me a mim.
Vim a saber várias coisas.
- Nunca foi celebrado contrato algum. Aliás, os "Demandantes" juntam na Petição Inicial uma minuta e para lá remetem quando querem provar a "existência do contrato";
- Por várias vezes, a minha constituinte insistiu para que os "Demandantes" fossem buscar os seus móveis, até lhe enviou cartas;
- A rica (so to speak) tinha a chave da loja, e sempre teve, para poder ir buscar os móveis e nunca foi;
- A rica deixou dívidas e a pobre pagou-as.
Faz-se julgamento. A minha primeira pergunta para todas as testemunhas, seja dos "Demandantes" como da "Demandada" foi: tem conhecimento se foi celebrado algum contrato entre as partes? A resposta, de todas!, foi uma só: "não". Se não há nada escrito e se ninguém pode confirmar a existência de contrato, está criada uma nova modalidade de prova: a prova por presunção de existência de contrato.
As testemunhas sabiam que tinha havido amizade, um negócio, que as coisas correram mal, mas nunca ninguém disse que tinha havido um contrato.
*
No aniversário dia em que me agreguei, perdi uma acção.
A meu ver, perdi-a sem razão (a sentença é anedótica ao ponto de dar como provados factos que TODAS as testemunhas negaram).
Perdi.
Perder quando o cliente pode suportar é uma coisa. Perder quando nem havia alternativa é uma coisa. Perder quando nada se logrou é uma coisa.
De forma vergonhosa, uma quadrilha foi a um Julgado de Paz pedir dinheiro e saiu de lá com uma sentença.
Sem provar nada. Sem mostrar nada.
E eu não pude evitar.
Perdi.
Se houver deus, não estarei mais 3 anos metido neste sistema.
Não haja equívocos: esta é a pior profissão do mundo.
E eu celebro o terceiro aniversário de "carreira". Sou um Tony.
quarta-feira, maio 06, 2015
Palavras
Há algo de reconfortante em saber que as angustias de que padeço já foram amplamente musicadas pelo Sérgio Godinho e Jorge Palma.
É que eles estão bem.
É que eles estão bem.
terça-feira, abril 28, 2015
Levantar hipóteses
Sou um bimbo camuflado.
Vale a pena ser mais concreto. Sou um bimbo sentimentalão. Não daqueles que são "azeite" (viva o princípio da aquisição linguística, se é que existe), ou da terrinha, ou mesmo rapioqueiros.
Gosto de ver o amor na forma real do termo (e por real refiro-me a pertença, como quem fala de direitos reais e da aquisição originária da posse).
Daí ser bimbo. Ouvir com gosto a Lana del Rey quando canta o "Nothing without you", esta dos Madredeus ou uma obra qualquer do Sérgio Godinho.
Acaba por ser um aspecto em mim que gostava de relegar. O problema, sempre o mesmo, são as associações que o subconsciente acaba por fazer.
Hoje, dia em que perco (e pode perder-se em tantos campos), lembro-me que o amparo está naqueles que aqui estão.
E eis o amor. Amor é amparo. Pelo menos na minha idade.
Vale a pena ser mais concreto. Sou um bimbo sentimentalão. Não daqueles que são "azeite" (viva o princípio da aquisição linguística, se é que existe), ou da terrinha, ou mesmo rapioqueiros.
Gosto de ver o amor na forma real do termo (e por real refiro-me a pertença, como quem fala de direitos reais e da aquisição originária da posse).
Daí ser bimbo. Ouvir com gosto a Lana del Rey quando canta o "Nothing without you", esta dos Madredeus ou uma obra qualquer do Sérgio Godinho.
Acaba por ser um aspecto em mim que gostava de relegar. O problema, sempre o mesmo, são as associações que o subconsciente acaba por fazer.
Hoje, dia em que perco (e pode perder-se em tantos campos), lembro-me que o amparo está naqueles que aqui estão.
E eis o amor. Amor é amparo. Pelo menos na minha idade.
segunda-feira, abril 20, 2015
O loop na prática
Tenho ideia de já ter escrito o que escrevi atrás há um tempo.
É recorrente em mim repetir-me. É recorrente em mim repetir-me.
Seja lá como for, percebi esta cena quando vi o filme pela primeira vez.
Na madrugada a que me refiro abaixo, senti-a.
É recorrente em mim repetir-me. É recorrente em mim repetir-me.
Seja lá como for, percebi esta cena quando vi o filme pela primeira vez.
Na madrugada a que me refiro abaixo, senti-a.
Um bocado
A Faculdade de Direito, não obstante o número de alunos que admite ao seu curso, não tem propriamente a fama de facilitar o seu caminho dentro de portas.
Ingressei, assim, em 2004 num curso que me daria uma profissão, pensava eu, diferente da que tenho hoje. O primeiro ano foi particularmente doloroso, com a adaptação e conhecimento de realidades que nunca pensei existirem.
Conheci lá um dos meus bons amigos. Por méritos próprios, transitámos para o segundo ano e, mercê do que referi supra, a nossa sub-turma teve de ser fundida com outra. Com efeito, de cerca de trinta e muitas pessoas que compunham a sub-turma de primeiro ano, menos de 50% resistiram, cenário que se generalizava. Como tal, somaram-se os alunos que ainda "respiravam" e juntaram-nos.
Não me vou esquecer dos olhos desse meu amigo quando olhou para uma das aquisições supervenientes. Uma jovem Eborense de cabelos escuros e boas notas (a fama precedia-a).
Naqueles momentos, deve ter havido uma constituição de sociedade cósmica. O Karma, aliou-se à sorte e fundou-se a "Vai, que dá, Lda.". O objecto social seria a promoção de felicidade daqueles dois moços.
Ontem, fui ao Baptizado do filho deles.
Celebrando a receção do petiz (um braçado de criança), voltei a 2004. Voltei a paredes que, não raras vezes, me puseram à beira da loucura. Não obstante, foi um regresso quase físico. Podia ver, à minha frente, episódios que foram determinantes na pessoa que sou, naquilo em que me tornei. Mas também voltaram as imagens de uma solidariedade materializada.
Na madrugada de 25 de Maio de 2007, recebiam-me em casa e aturavam o meu, também, recém-constituído auge. Passaram o "Lost in Translation" e faziam voar as palavras. Ainda hoje gozam com a minha cara de felicidade.
Contudo, naquele apoio e verdadeira claque, que sempre foram, estavam duas almas que se confirmaram, mutuamente, até aos dias de hoje.
E, ontem, fui ao Baptizado do filho deles.
Ingressei, assim, em 2004 num curso que me daria uma profissão, pensava eu, diferente da que tenho hoje. O primeiro ano foi particularmente doloroso, com a adaptação e conhecimento de realidades que nunca pensei existirem.
Conheci lá um dos meus bons amigos. Por méritos próprios, transitámos para o segundo ano e, mercê do que referi supra, a nossa sub-turma teve de ser fundida com outra. Com efeito, de cerca de trinta e muitas pessoas que compunham a sub-turma de primeiro ano, menos de 50% resistiram, cenário que se generalizava. Como tal, somaram-se os alunos que ainda "respiravam" e juntaram-nos.
Não me vou esquecer dos olhos desse meu amigo quando olhou para uma das aquisições supervenientes. Uma jovem Eborense de cabelos escuros e boas notas (a fama precedia-a).
Naqueles momentos, deve ter havido uma constituição de sociedade cósmica. O Karma, aliou-se à sorte e fundou-se a "Vai, que dá, Lda.". O objecto social seria a promoção de felicidade daqueles dois moços.
Ontem, fui ao Baptizado do filho deles.
Celebrando a receção do petiz (um braçado de criança), voltei a 2004. Voltei a paredes que, não raras vezes, me puseram à beira da loucura. Não obstante, foi um regresso quase físico. Podia ver, à minha frente, episódios que foram determinantes na pessoa que sou, naquilo em que me tornei. Mas também voltaram as imagens de uma solidariedade materializada.
Na madrugada de 25 de Maio de 2007, recebiam-me em casa e aturavam o meu, também, recém-constituído auge. Passaram o "Lost in Translation" e faziam voar as palavras. Ainda hoje gozam com a minha cara de felicidade.
Contudo, naquele apoio e verdadeira claque, que sempre foram, estavam duas almas que se confirmaram, mutuamente, até aos dias de hoje.
E, ontem, fui ao Baptizado do filho deles.
quinta-feira, abril 02, 2015
No dia da morte de Manoel de Oliveira
Aqui há dias, fui à Fnac numa ótica de prospeção de mercado. Tendo a considerar importante perceber o que há de novo, ainda que em mim exista a tentação do clássico.
Depois de alguns minutos de pesquisas (sim, meros minutos) dei por mim a ler, talvez, o livro que mais gozo me deu ler nos últimos anos: "O Estrangeiro", de Camus. Não estou a falar da obra original, mas da feliz adaptação para banda desenhada.
Em mim cresceu a óbvia e eterna esperança na humanidade, uma vez que ainda não conhecia a possibilidade (a mera possibilidade) de adaptar grandes clássicos à B.D.
Ali fiquei, pouco mais do que uma hora, a rejubilar. Boas ilustrações, a essência da obra apanhada. Enfim, estava conseguido um objectivo.
Naturalmente, voltou a mim uma história que conhecia. Lembro-me de a ler nos idos de 2005. Falhavam pormenores que foram colmatados.
"O Estrangeiro" tem, para mim, um problema: não sei se o interpreto como deve ser interpretado. A mim, lembra-me a vida como ela é. Depois de um acontecimento trágico, por meios que são insondáveis, a vida traz sempre uma série de acontecimentos inexplicáveis, ainda que pareçam corolário da mais elementar fluidez. Recordo alguns episódios da minha vida em que assim sucedeu. O povo (essa entidade superior, e olhem que não é ironia) chama a isto "estar na mó de baixo". Àquele desgraçado, morre a mãe, mete-se com quem não deve, comete um facto típico, ilícito, culposo e punível e vai preso. Não vou estragar o final a quem não leu. O importante disto é o "como", sem haver tanta necessidade de um "porquê". (Para a obra, o "porquê" e conclusões são importantes, ou não. Depende.)
E o "como" levou-me, inexoravelmente, a Manoel de Oliveira. Manoel de Oliveira disse, há meses, uma frase que é lapidar e resume a existência: "a vida é uma derrota".
A vida foi uma derrota para Mersault (Protagonista da obra a que me referi supra). A vida é uma derrota para Manoel de Oliveira. Para quantos mais não foi?
A falta de horizontes, sejam nossos, seja daqueles que nos rodeiam. A falta de compaixão. A falta de sucesso.
E tão relativo que é o sucesso.
Os Xutos (a banda), disseram o mesmo, no "Homem do Leme".
Não vi todos os filmes do chamado "Mestre". Não terei visto metade. Vi alguns. Sabia que estava ali uma alterantiva ao cinema-efeitos-especiais, ao blockbuster. Estava ali um sentido de estética que apreciava. Um ritmo que gostava de ver impresso. Uma forma de ver a arte. Havia diferença. Sobretudo, havia qualidade.
E tanta "porrada" levava Manoel de Oliveira. Das "secas" ao "desinteressante", passando pelo "velho" ao "visto".
Não haja dúvida: fez o que quis. Terá feito como quis? Sempre que quis?
Em resposta à sua arte sempre existiram os inevitáveis antagonistas. A condenação aconteceu.
Agora, morre. Deixando legando. Vivendo nos seus filmes. Fazendo ecoar o nome.
Mas morre.
Porque é inevitável. Dando sentido à vida, claro, mas não resistindo à inevitabilidade.
Acima de tudo, e é este o ponto, creio que o mundo não lhe foi indiferente. Creio, até, no contrário.
Só por isso, ganhou.
Depois de alguns minutos de pesquisas (sim, meros minutos) dei por mim a ler, talvez, o livro que mais gozo me deu ler nos últimos anos: "O Estrangeiro", de Camus. Não estou a falar da obra original, mas da feliz adaptação para banda desenhada.
Em mim cresceu a óbvia e eterna esperança na humanidade, uma vez que ainda não conhecia a possibilidade (a mera possibilidade) de adaptar grandes clássicos à B.D.
Ali fiquei, pouco mais do que uma hora, a rejubilar. Boas ilustrações, a essência da obra apanhada. Enfim, estava conseguido um objectivo.
Naturalmente, voltou a mim uma história que conhecia. Lembro-me de a ler nos idos de 2005. Falhavam pormenores que foram colmatados.
"O Estrangeiro" tem, para mim, um problema: não sei se o interpreto como deve ser interpretado. A mim, lembra-me a vida como ela é. Depois de um acontecimento trágico, por meios que são insondáveis, a vida traz sempre uma série de acontecimentos inexplicáveis, ainda que pareçam corolário da mais elementar fluidez. Recordo alguns episódios da minha vida em que assim sucedeu. O povo (essa entidade superior, e olhem que não é ironia) chama a isto "estar na mó de baixo". Àquele desgraçado, morre a mãe, mete-se com quem não deve, comete um facto típico, ilícito, culposo e punível e vai preso. Não vou estragar o final a quem não leu. O importante disto é o "como", sem haver tanta necessidade de um "porquê". (Para a obra, o "porquê" e conclusões são importantes, ou não. Depende.)
E o "como" levou-me, inexoravelmente, a Manoel de Oliveira. Manoel de Oliveira disse, há meses, uma frase que é lapidar e resume a existência: "a vida é uma derrota".
A vida foi uma derrota para Mersault (Protagonista da obra a que me referi supra). A vida é uma derrota para Manoel de Oliveira. Para quantos mais não foi?
A falta de horizontes, sejam nossos, seja daqueles que nos rodeiam. A falta de compaixão. A falta de sucesso.
E tão relativo que é o sucesso.
Os Xutos (a banda), disseram o mesmo, no "Homem do Leme".
Não vi todos os filmes do chamado "Mestre". Não terei visto metade. Vi alguns. Sabia que estava ali uma alterantiva ao cinema-efeitos-especiais, ao blockbuster. Estava ali um sentido de estética que apreciava. Um ritmo que gostava de ver impresso. Uma forma de ver a arte. Havia diferença. Sobretudo, havia qualidade.
E tanta "porrada" levava Manoel de Oliveira. Das "secas" ao "desinteressante", passando pelo "velho" ao "visto".
Não haja dúvida: fez o que quis. Terá feito como quis? Sempre que quis?
Em resposta à sua arte sempre existiram os inevitáveis antagonistas. A condenação aconteceu.
Agora, morre. Deixando legando. Vivendo nos seus filmes. Fazendo ecoar o nome.
Mas morre.
Porque é inevitável. Dando sentido à vida, claro, mas não resistindo à inevitabilidade.
Acima de tudo, e é este o ponto, creio que o mundo não lhe foi indiferente. Creio, até, no contrário.
Só por isso, ganhou.
sexta-feira, março 27, 2015
Vamos jogar no Totobola
Um pequeno post sobre isto que se está a passar com José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.
Estava no cinema, à espera de ver um filme que, penso, dispunha de bastantes predicados. Recebo uma mensagem (em rigor, duas) de meu pai:
- "Já viste a última?"
Respondi que não
- "Sócrates detido".
Foi como uma bomba.
Na verdade, quase sempre apoiei Sócrates. Ainda hoje acho que, caso se tem mantido à frente dos destinos do País, isto não tinha chegado à miséria a que chegou. Claro, admito estar enganado. Adiante.
Desde que Sócrates foi preso que tenho adivinhado tudo quanto se tem passado de relevante. Resumindo:
- Depois da detenção, acertei na medida de coação: Prisão Preventiva;
- Depois da medida de coação, adivinhei o desfecho: Perder todos os recursos e mais alguns que invente para alterar a dita medida de coação;
- O Advogado que Sócrates escolheu pode ser um bom Advogado. Não serve para este processo;
- Havia de se chegar à conclusão que o livro não fora escrito por ele.
Ora bem, para não parecer presumido, vou jogar no totobola e apostar nos próximos acontecimentos:
- Os prazos de prisão preventiva vão bater nos limites máximos: antes disso, Sócrates não sai da cadeia.
- A Acusação vai ser conhecida a meio de uma qualquer campanha eleitoral (Dica do meu progenitor), seja ela a das Legislativas ou Presidenciais;
- Os advogados vão abrir instrução: Sócrates vai ser pronunciado;
- Feito o julgamento, que se irá arrastar, Sócrates vai ser condenado por todos os crimes, mas, em cúmulo (que é o que a mula diz ao mulo) não passa dos 7 anos e meio;
- Vai haver recurso para tudo o que seja instância: Sócrates não ganha mais nada, senão umas férias pagas num E.P deste Portugalão.
Coisa diferente é perguntarem-me se acho que os crimes foram cometidos. A isso, respondo como a quase tudo o que mete vida jurídica: não conheço o processo, portanto não sei.
Estava no cinema, à espera de ver um filme que, penso, dispunha de bastantes predicados. Recebo uma mensagem (em rigor, duas) de meu pai:
- "Já viste a última?"
Respondi que não
- "Sócrates detido".
Foi como uma bomba.
Na verdade, quase sempre apoiei Sócrates. Ainda hoje acho que, caso se tem mantido à frente dos destinos do País, isto não tinha chegado à miséria a que chegou. Claro, admito estar enganado. Adiante.
Desde que Sócrates foi preso que tenho adivinhado tudo quanto se tem passado de relevante. Resumindo:
- Depois da detenção, acertei na medida de coação: Prisão Preventiva;
- Depois da medida de coação, adivinhei o desfecho: Perder todos os recursos e mais alguns que invente para alterar a dita medida de coação;
- O Advogado que Sócrates escolheu pode ser um bom Advogado. Não serve para este processo;
- Havia de se chegar à conclusão que o livro não fora escrito por ele.
Ora bem, para não parecer presumido, vou jogar no totobola e apostar nos próximos acontecimentos:
- Os prazos de prisão preventiva vão bater nos limites máximos: antes disso, Sócrates não sai da cadeia.
- A Acusação vai ser conhecida a meio de uma qualquer campanha eleitoral (Dica do meu progenitor), seja ela a das Legislativas ou Presidenciais;
- Os advogados vão abrir instrução: Sócrates vai ser pronunciado;
- Feito o julgamento, que se irá arrastar, Sócrates vai ser condenado por todos os crimes, mas, em cúmulo (que é o que a mula diz ao mulo) não passa dos 7 anos e meio;
- Vai haver recurso para tudo o que seja instância: Sócrates não ganha mais nada, senão umas férias pagas num E.P deste Portugalão.
Coisa diferente é perguntarem-me se acho que os crimes foram cometidos. A isso, respondo como a quase tudo o que mete vida jurídica: não conheço o processo, portanto não sei.
Fecho de Semana
Sem quaisquer leituras secundárias, posto este videoclip de uma música de Sia, chamada Elastic Heart.
Vale pela coreografia, onde se encena uma espécie de batalha, ainda que as leituras que da visualização advenham dêem pano para mangas.
A pensar na semana, em tudo o que ela deu, seria lógico expor duas almas numa jaula em que, no final, ela até consegue sair.
Vale pela coreografia, onde se encena uma espécie de batalha, ainda que as leituras que da visualização advenham dêem pano para mangas.
A pensar na semana, em tudo o que ela deu, seria lógico expor duas almas numa jaula em que, no final, ela até consegue sair.
quinta-feira, março 26, 2015
Crises
Bernardo Pires de Lima foi ontem ao "Inferno", programa do Canal Q. Estava a apresentar o seu livro sobre a Síria. No mesmo, consta uma passagem que será qualquer coisa como: "É profundamente injusto dizer que a Síria está em crise". A leitura desta passagem devia ser a seguinte: crise tem a Europa. Na Síria será mais uma catástrofe humanitária.
Ontem foi dia 25 de Março. Dei por mim a pensar: de que raio me estarei a esquecer. Foi o dia inteiro numa busca aos arquivos da massa cinzenta, tentando perceber, afinal, do que me tinha esquecido.
No final do dia, lembrei-me.
O 25 de Março não era nada. O número 25 é tudo.
Durante muitos anos, o dia 25 foi uma instituição. Todos os meses, naquele dia, me lembrava da mudança da minha vida. Para melhor, claro.
Há um anos atrás, estaria num belo restaurante, com muito menos peso do que tenho agora, a olhar para uma delicada escultura humana, sempre recordando o dia em que me aceitou.
Não é que agora não faça o mesmo. Mudou a data, mercê de factos supervenientes.
Um homem casado tem a felicidade imensa de saber que alguém o aceitou como é.
Ontem foi dia 25 de Março. Dei por mim a pensar: de que raio me estarei a esquecer. Foi o dia inteiro numa busca aos arquivos da massa cinzenta, tentando perceber, afinal, do que me tinha esquecido.
No final do dia, lembrei-me.
O 25 de Março não era nada. O número 25 é tudo.
Durante muitos anos, o dia 25 foi uma instituição. Todos os meses, naquele dia, me lembrava da mudança da minha vida. Para melhor, claro.
Há um anos atrás, estaria num belo restaurante, com muito menos peso do que tenho agora, a olhar para uma delicada escultura humana, sempre recordando o dia em que me aceitou.
Não é que agora não faça o mesmo. Mudou a data, mercê de factos supervenientes.
Um homem casado tem a felicidade imensa de saber que alguém o aceitou como é.
quarta-feira, março 25, 2015
Sopa
Há palavras que nos castigam, que moem a paciência, que nos fazem desejar a surdez.
De entre as muitas que me provocam especial dificuldade, vinha hoje falar da palavra "sopa".
A magia da palavra "sopa" é muito pessoal. Há pessoas que a fazem soar de forma normalíssima, o que agradeço, penhoradamente. Depois, há as outras.
- As pessoas que medem 1,70 metros e pesam 30 kilos.
- As pessoas que estão no ginásio e conseguem sorrir enquanto correm na passadeira.
- As pessoas que dizem que vão almoçar uma "sopa".
- Nutricionistas em geral que falam dos "benefícios da sopa" (quase arranquei um ouvido ao escrever esta merda, fod@-#$)
Toda esta gente, profundamente necessitada de ser enjaulada, profere esta maldita palavra de 4 letras com um som capaz de me fazer desistir da vida. Falam dela como se fosse a solução, como se fosse algo de saboroso.
NÃO É!!!
Ora bem, e dito isto, valia a pena explicar-me. Terá de haver uma razão para estar a comunicar ao vasto auditório que me segue esta espécie de privação de uma relativa qualidade de vida.
E, como sempre, é o trauma. Tem de haver um trauma. Bem recalcado. Bem metido. Impossível de expulsar.
Quando somos mais jovens, entidades existem que "nos obrigam a comer a sopa".
Está aqui um problema. "Obrigar" e "Sopa". Nunca existe um "obrigar" a fazer algo que valha a pena. Não. "Obrigar" traz dor, traz chatice, traz textos destes anos depois.
A partir de uma certa idade, é certo, podemos escolher. Mas na infância não.
Está aqui a primeira razão.
A segunda razão é a mais evidente: SE A SOPA (AIIIIIIIIIIIIIIII) FOSSE UM ALIMENTO SABOROSO (AIIIII, "SOPA" E "SABOROSO" NA MESMA FRASE!!!) ninguém era obeso. Havia menos diabéticos, menos pessoal com hipertensão e por aí fora.
Terceira razão: a sopa representa um estilo de vida. Um estilo de vida de freiras, de fascistas-higiénicos, de gente que nunca comeu mais nada senão coves em caldo. (Sem querer generalizar. Percebam, é duro escrever tantas vezes a palavrinha e lembrar-me da sua entoação na cabeça. Raios). É um estilo de vida que não me interessa. Até porque, quando morrer, há de estar alguém ao pé do meu casaco de pinho a dizer:
- Este rapaz estava gordo. Só comia pizzas e hamburguers. Nunca o vi a comer uma sopa.
(Estava capaz de jurar que voltava à vida só para esfolar o autor da frase)
Enfim. Ao contrário de tudo mais, eu até aguento bem quem diz "sopinha". É mais irritante, mas remete para o imaginário das coisas rápidas (como sejam um "minutinho" ou "instantinho"). Uma "sopinha" é um castigo que passará rápido.
Antes de terminar, queria fazer uma importante distinção. Caldo Verde não é sopa. Canja não é sopa. Sopa da Pedra não é Sopa. O nome é Caldo Verde, Canja e Sopa da Pedra.
Enfim. O saudável irrita-me. Por isso estou assim.
De entre as muitas que me provocam especial dificuldade, vinha hoje falar da palavra "sopa".
A magia da palavra "sopa" é muito pessoal. Há pessoas que a fazem soar de forma normalíssima, o que agradeço, penhoradamente. Depois, há as outras.
- As pessoas que medem 1,70 metros e pesam 30 kilos.
- As pessoas que estão no ginásio e conseguem sorrir enquanto correm na passadeira.
- As pessoas que dizem que vão almoçar uma "sopa".
- Nutricionistas em geral que falam dos "benefícios da sopa" (quase arranquei um ouvido ao escrever esta merda, fod@-#$)
Toda esta gente, profundamente necessitada de ser enjaulada, profere esta maldita palavra de 4 letras com um som capaz de me fazer desistir da vida. Falam dela como se fosse a solução, como se fosse algo de saboroso.
NÃO É!!!
Ora bem, e dito isto, valia a pena explicar-me. Terá de haver uma razão para estar a comunicar ao vasto auditório que me segue esta espécie de privação de uma relativa qualidade de vida.
E, como sempre, é o trauma. Tem de haver um trauma. Bem recalcado. Bem metido. Impossível de expulsar.
Quando somos mais jovens, entidades existem que "nos obrigam a comer a sopa".
Está aqui um problema. "Obrigar" e "Sopa". Nunca existe um "obrigar" a fazer algo que valha a pena. Não. "Obrigar" traz dor, traz chatice, traz textos destes anos depois.
A partir de uma certa idade, é certo, podemos escolher. Mas na infância não.
Está aqui a primeira razão.
A segunda razão é a mais evidente: SE A SOPA (AIIIIIIIIIIIIIIII) FOSSE UM ALIMENTO SABOROSO (AIIIII, "SOPA" E "SABOROSO" NA MESMA FRASE!!!) ninguém era obeso. Havia menos diabéticos, menos pessoal com hipertensão e por aí fora.
Terceira razão: a sopa representa um estilo de vida. Um estilo de vida de freiras, de fascistas-higiénicos, de gente que nunca comeu mais nada senão coves em caldo. (Sem querer generalizar. Percebam, é duro escrever tantas vezes a palavrinha e lembrar-me da sua entoação na cabeça. Raios). É um estilo de vida que não me interessa. Até porque, quando morrer, há de estar alguém ao pé do meu casaco de pinho a dizer:
- Este rapaz estava gordo. Só comia pizzas e hamburguers. Nunca o vi a comer uma sopa.
(Estava capaz de jurar que voltava à vida só para esfolar o autor da frase)
Enfim. Ao contrário de tudo mais, eu até aguento bem quem diz "sopinha". É mais irritante, mas remete para o imaginário das coisas rápidas (como sejam um "minutinho" ou "instantinho"). Uma "sopinha" é um castigo que passará rápido.
Antes de terminar, queria fazer uma importante distinção. Caldo Verde não é sopa. Canja não é sopa. Sopa da Pedra não é Sopa. O nome é Caldo Verde, Canja e Sopa da Pedra.
Enfim. O saudável irrita-me. Por isso estou assim.
quarta-feira, março 18, 2015
Lamentos
Tenho lido pouco. Tenho visto pouco cinema europeu. A última vez que fui ao teatro foi há mais de um ano. À Opera nem se fala. Tenho comido coisas que me fazem mal, mas sabem bem. Tenho sido sedentário. Vai fazer em Maio 3 anos de tabaco, ainda que em doses reduzidas.
Que vida boa seria se lesse que nem um doido, conhecesse tudo quanto é ator e realizador da Picheleira até Minsk, escrevesse crítica de teatro para uma revista da especialidade e soubesse cada nota do Anel dos Nibelungos (A série toda). Que saudável seria se comesse verduras e condenasse ao fogo do inferno os hidratos e o açucar. Que grosso estaria se o ginásio fosse diário. O Tabaco dá estilo, poupem-me.
- Senhor Padre?
- Reza um Pai Nosso e um Avé Maria, para te dar força. Deus t'abençoe.
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr.
Que vida boa seria se lesse que nem um doido, conhecesse tudo quanto é ator e realizador da Picheleira até Minsk, escrevesse crítica de teatro para uma revista da especialidade e soubesse cada nota do Anel dos Nibelungos (A série toda). Que saudável seria se comesse verduras e condenasse ao fogo do inferno os hidratos e o açucar. Que grosso estaria se o ginásio fosse diário. O Tabaco dá estilo, poupem-me.
- Senhor Padre?
- Reza um Pai Nosso e um Avé Maria, para te dar força. Deus t'abençoe.
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr.
Joe Cocker - With a little help from my friends
Sendo esta uma Quarta muito Segunda, dei por mim a fazer comparações.
Comparações normais. Com o antes e o agora. Com estes e com aqueles.
Tenho em mim um gene cabresto que me faz olhar para o passado e ver que estive sempre melhor do que estou.
Se o homem também é o que é e mais as circunstâncias, raio.
What would you think if I sang out of tune
Would you stand up and walk out on me?
Lend me your ears and I'll sing you a song
And I'll try not to sing out of key
Oh I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends
What do I do when my love is away?
(Does it worry you to be alone?)
How do I feel by the end of the day?
(Are you sad because you're on your own?)
No I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends
(Do you need anybody?)
I need somebody to love
(Could it be anybody?)
I want somebody to love
(Would you believe in a love at first sight?)
Yes I'm certain that it happens all the time
(What do you see when you turn out the light?)
I can't tell you, but I know it's mine
Oh I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Oh I'm going to try with a little help from my friends
(Do you need anybody?)
I just need somebody to love
(Could it be anybody?)
I want somebody to love
Oh I get by with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends
Oh I get high with a little help from my friends
Yes I get by with a little help from my friends
With a little help from my friends
Comparações normais. Com o antes e o agora. Com estes e com aqueles.
Tenho em mim um gene cabresto que me faz olhar para o passado e ver que estive sempre melhor do que estou.
Se o homem também é o que é e mais as circunstâncias, raio.
What would you think if I sang out of tune
Would you stand up and walk out on me?
Lend me your ears and I'll sing you a song
And I'll try not to sing out of key
Oh I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends
What do I do when my love is away?
(Does it worry you to be alone?)
How do I feel by the end of the day?
(Are you sad because you're on your own?)
No I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends
(Do you need anybody?)
I need somebody to love
(Could it be anybody?)
I want somebody to love
(Would you believe in a love at first sight?)
Yes I'm certain that it happens all the time
(What do you see when you turn out the light?)
I can't tell you, but I know it's mine
Oh I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Oh I'm going to try with a little help from my friends
(Do you need anybody?)
I just need somebody to love
(Could it be anybody?)
I want somebody to love
Oh I get by with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends
Oh I get high with a little help from my friends
Yes I get by with a little help from my friends
With a little help from my friends
sexta-feira, março 13, 2015
Aggiornamento
Os últimos posts têm reflectido queixas atrás de queixas.
Não é legau (Brasileirismo latente).
Vamos mudar de toada.
Claro, há uma razão para o arrazoado de queixume. Há uma parábola que assiste: "Meu filho, quando coçares os tomates e notares que coçaste três, desengana-te: não tens uma terceira bola, estão é a ir-te ao cú".
Perdão pelo calão. Isto segue dentro de momentos.
Não é legau (Brasileirismo latente).
Vamos mudar de toada.
Claro, há uma razão para o arrazoado de queixume. Há uma parábola que assiste: "Meu filho, quando coçares os tomates e notares que coçaste três, desengana-te: não tens uma terceira bola, estão é a ir-te ao cú".
Perdão pelo calão. Isto segue dentro de momentos.
quarta-feira, março 11, 2015
Mera prova indiciária
Fiz um teste para saber que tipo de pai seria.
Calhou Walter White.
Podia ter calhado o Phil Dunphy, Sonny Koufax, até mesmo Tony Soprano.
Walter White.
Do Breaking Bad.
Calhou Walter White.
Podia ter calhado o Phil Dunphy, Sonny Koufax, até mesmo Tony Soprano.
Walter White.
Do Breaking Bad.
segunda-feira, março 09, 2015
Lições
Findou, hoje, a produção de prova num processo que corre termos num Julgado de Paz desse Portugalão.
O processo foi-me "confiado" numa ótica de favor, mais concretamente, a parte e a contra-parte são amigos comuns de um colega meu. Por não se querer envolver, o colega pediu-me para fazer o julgamento, cabendo-lhe fazer determinada peça processual, um articulado.
Foi o processo que, sem dúvida, me abalou mais, nem sendo nada de especial. Sem querer revelar os detalhes, aprendi:
1. Nunca aceitar processos de clientes que não te pertecem. Há excepções.
2. Nunca mostrar educação com as testemunhas da parte contrária. Passas por "calmo". Um advogado "calmo" é sinónimo de "corno manso".
3. Aumentar a dose de cinismo na vida diária. Desde que comecei a ser advogado que me vejo um cínico nojento. Para a profissão, é bom. Melhor mesmo só psicopata, no sentido mesmo médico do termo.
4. Nunca receber no fim. É que não sei quanto vou receber, nem quando. Fiz um favor.
5. Nunca faças favores incondicionais, no que à profissão diz respeito. Goes without saying.
Só tenho a dizer que, felizmente, não volto àquele lugar tão cedo.
Também tinha uma lista de desejos. Vou ficar-me pelas lições.
O processo foi-me "confiado" numa ótica de favor, mais concretamente, a parte e a contra-parte são amigos comuns de um colega meu. Por não se querer envolver, o colega pediu-me para fazer o julgamento, cabendo-lhe fazer determinada peça processual, um articulado.
Foi o processo que, sem dúvida, me abalou mais, nem sendo nada de especial. Sem querer revelar os detalhes, aprendi:
1. Nunca aceitar processos de clientes que não te pertecem. Há excepções.
2. Nunca mostrar educação com as testemunhas da parte contrária. Passas por "calmo". Um advogado "calmo" é sinónimo de "corno manso".
3. Aumentar a dose de cinismo na vida diária. Desde que comecei a ser advogado que me vejo um cínico nojento. Para a profissão, é bom. Melhor mesmo só psicopata, no sentido mesmo médico do termo.
4. Nunca receber no fim. É que não sei quanto vou receber, nem quando. Fiz um favor.
5. Nunca faças favores incondicionais, no que à profissão diz respeito. Goes without saying.
Só tenho a dizer que, felizmente, não volto àquele lugar tão cedo.
Também tinha uma lista de desejos. Vou ficar-me pelas lições.
sexta-feira, março 06, 2015
Avulsos
Percebi que a minha pança tem personalidade jurídica.
Merece ser individualizada, ter património, número de identificação fiscal e cartão do cidadão. Merece votar, usufruir do SNS e da Escola Pública.
A minha pança votaria à Direita. CDS-PP. Tirava o curso de Engenharia Agrónoma e só frequentava clínicas privadas, como a dos Lusíadas.
Quem me dera gostar mais de ginásio (e ter tempo...ter tempo...). Se gostasse, a minha pança poderia acasalar com uma pança fémea e terem pancinhas pequenas, que educariam sob forte influência católica. E poderia porque já não estaria em mim a dar-me relevos que bem dispensava.
Merece ser individualizada, ter património, número de identificação fiscal e cartão do cidadão. Merece votar, usufruir do SNS e da Escola Pública.
A minha pança votaria à Direita. CDS-PP. Tirava o curso de Engenharia Agrónoma e só frequentava clínicas privadas, como a dos Lusíadas.
Quem me dera gostar mais de ginásio (e ter tempo...ter tempo...). Se gostasse, a minha pança poderia acasalar com uma pança fémea e terem pancinhas pequenas, que educariam sob forte influência católica. E poderia porque já não estaria em mim a dar-me relevos que bem dispensava.
quarta-feira, março 04, 2015
Devaneios de meio de tarde com remate de convite a contratar.
Gostava de abrir escritório.
Não era sozinho. O ideal era 3/4 pessoas, para se conseguir dividir despesas. Cada um com seus clientes e respectivo pagamento.
Com 4 pessoas, dava € 200/mês a cada um.
Eu sei que ninguém quer, mas,
Quem quer?
Não era sozinho. O ideal era 3/4 pessoas, para se conseguir dividir despesas. Cada um com seus clientes e respectivo pagamento.
Com 4 pessoas, dava € 200/mês a cada um.
Eu sei que ninguém quer, mas,
Quem quer?
terça-feira, março 03, 2015
Souvenirs
(Penso que já terei escrito um post com o mesmo início. A vida é isto mesmo: um Alzheimer consciente)
Em certo filme de Manoel de Oliveira (meu ídolo pessoal), uma das personagens pergunta a outra como se diz "saudades" na língua desse imortal estadista que é Hollande (ela só pergunta mesmo como se diz "saudades"). Andam por ali até que alguém diz que será, talvez, Souvenirs.
Para mim, um Souvenir é um porta-chaves de uma zona balnear. Quiçá, um boneco das Caldas.
Contudo, e na senda do supra exposto, peço justiça.
Nada disso.
Lembrei-me do episódio de uma colega de escritório que daqui saiu no fim do estágio. Tinha arranjado um emprego numa espécie de Secretaria de Estado do Turismo, mas não estou a ser preciso. Seria algo desse género.
Lá foi ela contar ao Ilustre e Distinto Chefe Supremo Cateran que ia embora. De onde estava, ainda se ouviam aqueles sons de alegria contida, expelidos em resposta quando alguém nos diz que ganhou € 5 numa raspadinha, ou quando um notável urso passa com 50% num teste.
Lá regressou ao posto e perguntei-lhe como tinha sido.
Foi então que me contou que tinha dado a novidade, ele tinha-se rido, dito qualquer coisa como "muito bem" (lá está, "ganhaste uma coca-cola extra? boa!") e rematado:
- Olha, lá para onde fores, vê lá se chegas a horas.
Sempre que a vejo (vivemos perto um do outro), é inevitável lembrar-me da história.
Em certo filme de Manoel de Oliveira (meu ídolo pessoal), uma das personagens pergunta a outra como se diz "saudades" na língua desse imortal estadista que é Hollande (ela só pergunta mesmo como se diz "saudades"). Andam por ali até que alguém diz que será, talvez, Souvenirs.
Para mim, um Souvenir é um porta-chaves de uma zona balnear. Quiçá, um boneco das Caldas.
Contudo, e na senda do supra exposto, peço justiça.
Nada disso.
Lembrei-me do episódio de uma colega de escritório que daqui saiu no fim do estágio. Tinha arranjado um emprego numa espécie de Secretaria de Estado do Turismo, mas não estou a ser preciso. Seria algo desse género.
Lá foi ela contar ao Ilustre e Distinto Chefe Supremo Cateran que ia embora. De onde estava, ainda se ouviam aqueles sons de alegria contida, expelidos em resposta quando alguém nos diz que ganhou € 5 numa raspadinha, ou quando um notável urso passa com 50% num teste.
Lá regressou ao posto e perguntei-lhe como tinha sido.
Foi então que me contou que tinha dado a novidade, ele tinha-se rido, dito qualquer coisa como "muito bem" (lá está, "ganhaste uma coca-cola extra? boa!") e rematado:
- Olha, lá para onde fores, vê lá se chegas a horas.
Sempre que a vejo (vivemos perto um do outro), é inevitável lembrar-me da história.
quarta-feira, fevereiro 25, 2015
terça-feira, fevereiro 24, 2015
Terapia
Num sketch da Porta dos Fundos, o cenário é o Tribunal. O Advogado defende a sua constituinte alegando que só está acusada porque o mundo está cheio de invejosas. Às tantas, é citada uma vizinha, ao que se segue qualquer coisa como:
- Essa senhora tem falta de terapia.
- Terapia?
- Sim, terapia cheia de pratos para lavar.
Também eu tenho falta disso agora, pelo que escrevo.
Estava a atender um cliente no meu gabinete. Um cliente. No gabinete. Estávamos a falar de coisas jurídicas e da vida do desgraçado que está numa luta pela lavagem da honra quase perdida. Eis que sucede o impensável.
Um gordo. Um filho da puta de um gordo velho.
Sem avisar, entra no meu gabinete dirige-se ao meu cliente e pergunta-lhe se traz mais alguém. O cliente diz que não ao que o gordo, o filho da puta do gordo, responde: "Ah, é que deixou a porta aberta!", rematando com um olhar de censura e um encolher de ombros.
O filho da puta é advogado? Não. É jurista? Não. Tem alguma formação na área do secretariado? Não. Sabe alguma coisa da vida? Pelos vistos sabe tudo menos o essencial: se desse um tiro na cabeça fazia um favor à humanidade.
- Essa senhora tem falta de terapia.
- Terapia?
- Sim, terapia cheia de pratos para lavar.
Também eu tenho falta disso agora, pelo que escrevo.
Estava a atender um cliente no meu gabinete. Um cliente. No gabinete. Estávamos a falar de coisas jurídicas e da vida do desgraçado que está numa luta pela lavagem da honra quase perdida. Eis que sucede o impensável.
Um gordo. Um filho da puta de um gordo velho.
Sem avisar, entra no meu gabinete dirige-se ao meu cliente e pergunta-lhe se traz mais alguém. O cliente diz que não ao que o gordo, o filho da puta do gordo, responde: "Ah, é que deixou a porta aberta!", rematando com um olhar de censura e um encolher de ombros.
O filho da puta é advogado? Não. É jurista? Não. Tem alguma formação na área do secretariado? Não. Sabe alguma coisa da vida? Pelos vistos sabe tudo menos o essencial: se desse um tiro na cabeça fazia um favor à humanidade.
segunda-feira, fevereiro 23, 2015
Adenda ao Nepotismo
Num tom mais confessional, e com sono (o que me dá forte para a depressão), aqui vai um relato:
Já há muito que deixei, de facto, de trabalhar para uma sociedade. Agora, trabalho para uma família. Isto seria bom se a família fosse a Azevedo, Mello, Amorim e, na locura, Corleone. Mas não. Ser da margem sul, com tudo de bom que de lá advém, oferece, não raras vezes, uma purga olimpica, de maneiras que trabalho para os Silva.
Os Silva são pessoas de origem humilde. Ora, isso não é virtude nenhuma, refira-se. Ter uma origem humilde está no plano de a humanidade ter de respirar para viver ou ter nascido preto. Não se escolhe, é assim e pronto.
Adiante.
A verdadeira nobreza está nos actos praticados quando se deixa de ser humilde, a nível financeiro. Eis que chega a bifurcação: de um lado, ser um merdas mete-nojo que agita a nota como se exibisse a taça da liga dos campeões; por outro, continuar a ser um ser sóbrio, que faz a sua vida, sem que o poder recém-adquirido lhe suba à cabeça.
A família Silva é constituída por Silvas mais velhos e Silvas mais novos. Dos novos falei anteriormente. Hoje é dos velhos que me ocupo.
Conheço a matriarca. Não conheci o patriarca. Conheço filhos, noras, netos.
Estamos a falar de um clã em que perto de 100% dos elementos não vale um chavelho.
Para aquela agremiação familiar, estou em crer que tenho o mesmo valor de um caniche, isto é, um cão com bastante volume, ainda que pequeno, que merece uma taça de ração e água.
Um dos Silvas é meu patrão. Tudo bem, quase todos temos um. Não vem mal ao mundo. Ideal era sermos todos patrões.
Esse Silva tem um irmão Silva. E esse irmão Silva tem a dignidade que a Constituição lhe confere. É problemático, uma vez que também tem personalidade jurídica. Isto é simples: não pode ser atropelado voluntariamente, ter um acidente provocado por terceiros que o vitimize mortalmente ou magoe muito, nem lhe podemos imputar condutas de orientação duvidosa.
E é este o meu lamento.
Obrigado, bom dia.
(Estou a escrever este post de irritação porque o homem entrou no meu gabinete e tive de levar com um tratado sobre a temperatura certa do Ar Condicionado. Quase me proibiu de ter frio. Se calhar, proibiu mesmo.)
Já há muito que deixei, de facto, de trabalhar para uma sociedade. Agora, trabalho para uma família. Isto seria bom se a família fosse a Azevedo, Mello, Amorim e, na locura, Corleone. Mas não. Ser da margem sul, com tudo de bom que de lá advém, oferece, não raras vezes, uma purga olimpica, de maneiras que trabalho para os Silva.
Os Silva são pessoas de origem humilde. Ora, isso não é virtude nenhuma, refira-se. Ter uma origem humilde está no plano de a humanidade ter de respirar para viver ou ter nascido preto. Não se escolhe, é assim e pronto.
Adiante.
A verdadeira nobreza está nos actos praticados quando se deixa de ser humilde, a nível financeiro. Eis que chega a bifurcação: de um lado, ser um merdas mete-nojo que agita a nota como se exibisse a taça da liga dos campeões; por outro, continuar a ser um ser sóbrio, que faz a sua vida, sem que o poder recém-adquirido lhe suba à cabeça.
A família Silva é constituída por Silvas mais velhos e Silvas mais novos. Dos novos falei anteriormente. Hoje é dos velhos que me ocupo.
Conheço a matriarca. Não conheci o patriarca. Conheço filhos, noras, netos.
Estamos a falar de um clã em que perto de 100% dos elementos não vale um chavelho.
Para aquela agremiação familiar, estou em crer que tenho o mesmo valor de um caniche, isto é, um cão com bastante volume, ainda que pequeno, que merece uma taça de ração e água.
Um dos Silvas é meu patrão. Tudo bem, quase todos temos um. Não vem mal ao mundo. Ideal era sermos todos patrões.
Esse Silva tem um irmão Silva. E esse irmão Silva tem a dignidade que a Constituição lhe confere. É problemático, uma vez que também tem personalidade jurídica. Isto é simples: não pode ser atropelado voluntariamente, ter um acidente provocado por terceiros que o vitimize mortalmente ou magoe muito, nem lhe podemos imputar condutas de orientação duvidosa.
E é este o meu lamento.
Obrigado, bom dia.
(Estou a escrever este post de irritação porque o homem entrou no meu gabinete e tive de levar com um tratado sobre a temperatura certa do Ar Condicionado. Quase me proibiu de ter frio. Se calhar, proibiu mesmo.)
sexta-feira, fevereiro 20, 2015
Nepotismo
A filha do meu chefe está hoje a passar o dia no escritório onde eu e o respectivo pai exercem a sua profissão.
Já trabalho no referido espaço há mais de 5 anos. Conheço-a quase desde o início da minha estadia.
Cumpre dizer que está na mesma.
Agora, os pormenores. Dizer a alguém que está na mesma só é elogio para velhos. "Estar na mesma" em qualquer idade que não seja a terceira é profundamente merdoso. "Sempre foste um infantil e para sempre serás".
Ora, o espécime está na mesma desde que a conheço. É capaz de se pôr a cantar a altos berros (o que só ajuda numa actividade que precisa de silêncio) de repente, é capaz de não falar às pessoas e olhar de lado a mostrar quem manda (não sucedeu hoje) como é capaz de sabotar o trabalho administrativo.
Eu lembro-me quando tinha a idade dela. Não era assim.
Nunca fui assim.
Ao fim e ao cabo, o que esteve errado comigo só me prejudicava a mim. Era e sou gordo. Curioso, no meio disto tudo, ninguém diz àquela vitela que é mal educada. Já eu estou sempre a ouvir que sou gordo.
Sempre ouvi.
Já nunca ouvi ninguém repreender outrém pela falta de educação.
Deve ser por isso que estou condenado e ela terá virtude como futuro.
Não vivi noutros tempos, nem noutras sociedades, mas aqui e agora, fere mais a aparência física que a detestabilidade intrínseca.
Já trabalho no referido espaço há mais de 5 anos. Conheço-a quase desde o início da minha estadia.
Cumpre dizer que está na mesma.
Agora, os pormenores. Dizer a alguém que está na mesma só é elogio para velhos. "Estar na mesma" em qualquer idade que não seja a terceira é profundamente merdoso. "Sempre foste um infantil e para sempre serás".
Ora, o espécime está na mesma desde que a conheço. É capaz de se pôr a cantar a altos berros (o que só ajuda numa actividade que precisa de silêncio) de repente, é capaz de não falar às pessoas e olhar de lado a mostrar quem manda (não sucedeu hoje) como é capaz de sabotar o trabalho administrativo.
Eu lembro-me quando tinha a idade dela. Não era assim.
Nunca fui assim.
Ao fim e ao cabo, o que esteve errado comigo só me prejudicava a mim. Era e sou gordo. Curioso, no meio disto tudo, ninguém diz àquela vitela que é mal educada. Já eu estou sempre a ouvir que sou gordo.
Sempre ouvi.
Já nunca ouvi ninguém repreender outrém pela falta de educação.
Deve ser por isso que estou condenado e ela terá virtude como futuro.
Não vivi noutros tempos, nem noutras sociedades, mas aqui e agora, fere mais a aparência física que a detestabilidade intrínseca.
Óleo
- "Agora, na televisão, andam a dizer que o óleo faz mal".
- "Pois, parece que é".
- "Eu, quando faço o meu bifinho, nunca deixo de pôr óleo na frigideira. Diz que é melhor pôr azeite, mas eu odeio azeite, ca nojo".
- "Desculpe, pode dar-me um cigarro?".
Abaixo das Janelas Verdes (Green Windows, numa toada mais internacional).
Seguidamente, chegou quem esperava e fui realizar uma diligência judicial (nome pomposo para algo tão rotineiro).
Subi as escadas de um prédio decrépito e só encontrei uma afastada sósia de Anita Guerreiro.
Ali ficámos bem mais do que deviamos a ouvir a predilecção por Bocage e as dedicatórias que tinha feito ao recém-editado livro de um companheiro de tertúlia. Palavra que repetia: Vato.
Não sacando nada daquela freguesia, mas tendo "caçado" uma pista, fomos a uma loja do Chinês ali ao pé, loja que se situava no prédio onde estariam a viver os "objectos" da referida diligência.
De chinesa, a empregada tinha pouco. Perguntou se alguém ia preso. Comprei-lhe um espelho pequeno. Diziam-me que havia falta. Mentira.
Finalmente, fomos à Rua das Janelas Verdes. Tocámos à porta de um majestoso prédio e fomos atendidos por alguém que até conhecia quem procurávamos. Sucedia que já se havia mudado há meses.
Quando terminámos, batia o final de tarde e era dia 12 de Junho. O ar confundia-se com o cheiro de sardinha assada e até as estradas começavam a ficar intransitáveis. Já mal se continha a reprimida, ao longo do ano, vontade de celebrar o Santo António (na gíria, ir para os santos) e lá fomos embora.
Senti que não devia ter saído dali. Devia ter ficado e bebido uma imperial e comido uma bifana, apesar de serem só sete da tarde.
É que desde uma (quase) fatídica noite, não voltei a celebrar o Santo António. Naquele instante em que via esplanadas a serem decoradas com a bela toalha vermelha, cesto do pão e guardanapos de papel branquinho, percebi que a existência era outra.
Noutros tempos, teria ido a Lisboa de propósito para lá passar a noite, na melhor das companhias, ficando por lá, até que batesse o sol e o pequeno-almoço fosse tomado numa qualquer pastelaria da Av. do Brasil, com torradas queimadas.
Daquela vez, vim-me embora quando a festa começou.
- "Pois, parece que é".
- "Eu, quando faço o meu bifinho, nunca deixo de pôr óleo na frigideira. Diz que é melhor pôr azeite, mas eu odeio azeite, ca nojo".
- "Desculpe, pode dar-me um cigarro?".
Abaixo das Janelas Verdes (Green Windows, numa toada mais internacional).
Seguidamente, chegou quem esperava e fui realizar uma diligência judicial (nome pomposo para algo tão rotineiro).
Subi as escadas de um prédio decrépito e só encontrei uma afastada sósia de Anita Guerreiro.
Ali ficámos bem mais do que deviamos a ouvir a predilecção por Bocage e as dedicatórias que tinha feito ao recém-editado livro de um companheiro de tertúlia. Palavra que repetia: Vato.
Não sacando nada daquela freguesia, mas tendo "caçado" uma pista, fomos a uma loja do Chinês ali ao pé, loja que se situava no prédio onde estariam a viver os "objectos" da referida diligência.
De chinesa, a empregada tinha pouco. Perguntou se alguém ia preso. Comprei-lhe um espelho pequeno. Diziam-me que havia falta. Mentira.
Finalmente, fomos à Rua das Janelas Verdes. Tocámos à porta de um majestoso prédio e fomos atendidos por alguém que até conhecia quem procurávamos. Sucedia que já se havia mudado há meses.
Quando terminámos, batia o final de tarde e era dia 12 de Junho. O ar confundia-se com o cheiro de sardinha assada e até as estradas começavam a ficar intransitáveis. Já mal se continha a reprimida, ao longo do ano, vontade de celebrar o Santo António (na gíria, ir para os santos) e lá fomos embora.
Senti que não devia ter saído dali. Devia ter ficado e bebido uma imperial e comido uma bifana, apesar de serem só sete da tarde.
É que desde uma (quase) fatídica noite, não voltei a celebrar o Santo António. Naquele instante em que via esplanadas a serem decoradas com a bela toalha vermelha, cesto do pão e guardanapos de papel branquinho, percebi que a existência era outra.
Noutros tempos, teria ido a Lisboa de propósito para lá passar a noite, na melhor das companhias, ficando por lá, até que batesse o sol e o pequeno-almoço fosse tomado numa qualquer pastelaria da Av. do Brasil, com torradas queimadas.
Daquela vez, vim-me embora quando a festa começou.
sexta-feira, fevereiro 13, 2015
Licitudes e amoralidades
Será que é lícito dizer a alguém desrazoável que é, efectivamente, desrazoável?
É razoável presumir que não.
E ninguém mais do que eu dá valor às presunções. Muito raramente são ilididas.
(Um desabafo mais infantil): naturalmente por me faltar um bocado do cérebro, passo a vida a ouvir críticas. Seja no plano laboral (onde é tão bom malhar neste Jô Soares) seja no plano pessoal. E, como bom cristão, dou a outra face.
Já quando o exercício é levado a cabo por mim, tenho guerra.
Estou um bocado farto do mundo que rodeia.
O ideal era desaparecer durante anos.
Sim, anos.
Para longe.
Fazer o que faço, mas na Arrifana, Matosinhos ou Zambujeira.
Longe. Incontactável.
Sem ninguém.
Só eu.
Sonhos.
É razoável presumir que não.
E ninguém mais do que eu dá valor às presunções. Muito raramente são ilididas.
(Um desabafo mais infantil): naturalmente por me faltar um bocado do cérebro, passo a vida a ouvir críticas. Seja no plano laboral (onde é tão bom malhar neste Jô Soares) seja no plano pessoal. E, como bom cristão, dou a outra face.
Já quando o exercício é levado a cabo por mim, tenho guerra.
Estou um bocado farto do mundo que rodeia.
O ideal era desaparecer durante anos.
Sim, anos.
Para longe.
Fazer o que faço, mas na Arrifana, Matosinhos ou Zambujeira.
Longe. Incontactável.
Sem ninguém.
Só eu.
Sonhos.
quarta-feira, fevereiro 11, 2015
Pequeno momento privativo de Kumbaya ou um texto próprio de velho de Jardim, jogando sueca e tentando lembrar se tomou os comprimidos.
Diz que é de 1968.
Aqui há dias, numa conversa familiar, minha mãe, Professora de profissão, contava-me que falou da Teoria da Evolução na aula. A resposta terá sido algo como: "A Stora acha que viemos dos macacos"?.
A conversa aprofundou. Em suma, aquelas almas não sabiam quem era Herman José. Com muita dificuldade sabiam quem era Ricardo Araújo Pereira.
Não me tenho como culto, penso até que estou ao nível de um simio que aprendeu a colocar os cubos nas ranhuras, tipo Gervásio, mas fiquei melindrado.
Anos de promoção da escola pública, dinheiro gasto, esperanças investidas.
E foi isto.
"Nos tempos que correm, não sei distinguir o bem do mal, o mal do bem".
A propósito de cinema ou (um post que podia ter sido escrito por Carlos Costa. Não o Governador do BdP. O outro. Dos Ídolos)
Há semanas, vi um filme que, não sendo original, muito menos unânime, é, na minha mui modesta opinião, um dos grandes filmes do ano, senão mesmo o melhor.
Para isto ter piada, não vou falar em nomes.
Vale a pena uma sinopse, contudo. O filme, estreado recentemente (é a melhor pista de que me lembro), conta a história de um jovem músico que entra num prestigiado conservatório de música e é "marcado" por uma lenda viva que o recruta para a sua banda.
O que se passa depois é digno de muitas interpretações. A mais fácil (e talvez mais verdadeira) é esta: aquele jovem foi recrutado por nele ter sido visto algum talento, mas o elemento que o recrutou pede meças a Satã e vai fazer-lhe a vida negra sob o pretexto de dele extrair o melhor.
O filme é grande porque não é clara (ainda que o personagem o diga expressamente) a intenção do "mestre". Não é líquido que aquele ser queira extrair o melhor do seu pupilo. Sabemos que existe maldade. Desrespeito. Diminuição. Espezinhamento (isto existe?). Mas a que título? Com que razão.
Mas há um outro aspecto que faz com esta fita me marque para sempre. Sem a parte do talento e da área, aquela também é a minha vida. Mais: tem sido a nossa vida. (Atenção, que a parte do "sem talento" é para mim).
A coberto de algum valor, de algum objetivo, que nem se sabe se existe, somos, ouvimos e lemos o que não queremos. E quem nos dera poder ignorar.
Vale e valerá sempre o menos, o fracasso, a omissão. Foi assim que vi a vida até este ponto.
Pedir desculpa não tem dificuldade nenhuma.
Elogiar genuinamente é um unicórnio. Tanto, que às vezes pensamos que não valemos nada.
E o problema, a meu ver, nem é tanto se não valermos. O conceito de média existe por alguma razão.
É mesmo não saber.
Enfim, no filme, a chave disto tudo estava no jovem. E porquê? Porque grande é quem sabe. Grande é quem não precisa que lhe meçam a altura.
Tomara eu.
Para isto ter piada, não vou falar em nomes.
Vale a pena uma sinopse, contudo. O filme, estreado recentemente (é a melhor pista de que me lembro), conta a história de um jovem músico que entra num prestigiado conservatório de música e é "marcado" por uma lenda viva que o recruta para a sua banda.
O que se passa depois é digno de muitas interpretações. A mais fácil (e talvez mais verdadeira) é esta: aquele jovem foi recrutado por nele ter sido visto algum talento, mas o elemento que o recrutou pede meças a Satã e vai fazer-lhe a vida negra sob o pretexto de dele extrair o melhor.
O filme é grande porque não é clara (ainda que o personagem o diga expressamente) a intenção do "mestre". Não é líquido que aquele ser queira extrair o melhor do seu pupilo. Sabemos que existe maldade. Desrespeito. Diminuição. Espezinhamento (isto existe?). Mas a que título? Com que razão.
Mas há um outro aspecto que faz com esta fita me marque para sempre. Sem a parte do talento e da área, aquela também é a minha vida. Mais: tem sido a nossa vida. (Atenção, que a parte do "sem talento" é para mim).
A coberto de algum valor, de algum objetivo, que nem se sabe se existe, somos, ouvimos e lemos o que não queremos. E quem nos dera poder ignorar.
Vale e valerá sempre o menos, o fracasso, a omissão. Foi assim que vi a vida até este ponto.
Pedir desculpa não tem dificuldade nenhuma.
Elogiar genuinamente é um unicórnio. Tanto, que às vezes pensamos que não valemos nada.
E o problema, a meu ver, nem é tanto se não valermos. O conceito de média existe por alguma razão.
É mesmo não saber.
Enfim, no filme, a chave disto tudo estava no jovem. E porquê? Porque grande é quem sabe. Grande é quem não precisa que lhe meçam a altura.
Tomara eu.
sexta-feira, janeiro 23, 2015
Variações
Licenciei-me em 2009, depois de 5 (longos ou nem tanto, depende da perspectiva) anos.
Estudei, a princípio, o ordenamento jurídico pelo qual as pessoas se regem neste país. Do mais político ao mais prático.
Depois, ingressei na advocacia. Para quem não sabe, a advocacia, para mim, foi quase como a polícia para qualquer cidadão: "não sabes fazer nada? Vai para a polícia."
Então, tive a oportunidade de aplicar a lei. É um problema. Pode ser estimulante, consoante a área de prática ou o nervosismo do cliente. Contudo, um problema é sempre um problema.
Todos os dias morro um bocado devido à escolha que fiz. Para tantos, o curso de direito foi um suplício de um calvário de dificuldades, mercê da carga teórica e desinteresse que algumas matérias suscitam. Digamos que sofri um pouco naqueles cinco anos. Mas sofrer é bem diferente de uma morte, ainda que metafórica.
Hoje, quase 5 anos depois da conclusão do iter jurídico, chegado de um almoço catita, tenho na minha secretária uma sentença.
Sem revelar dados mais técnicos, dizia, em suma, que não tinha razão.
O direito é curioso: podemos não ter razão a vários níveis. Ganhar é ter razão em todos.
Estar a escrever este texto é, tão-somente, um exercício de contacto com a realidade.
Desde cedo que a vida me disse que a minha capacidade intelectual dava, quando muito, para qualquer coisa relacionada com a distribuição alimentar. Conduzir um camião de alfaces. Repor stock nas prateleiras de uma superficie de supermercado. Empilhar caixotes. Varrer corredores.
Diga-se, em abono da verdade, que não pretendo escarnecer de qualquer destas actividades. São dignas e executadas por alguém, sem qualquer dúvida, bem melhor que eu.
Só que devo colocar as coisas em perspectiva. Nenhuma das profissões citadas precisa de 5 anos de estudo e sucessivos seminários de aperfeiçoamento. Basta a boa vontade e força. E isso são coisas que não me faltaram.
Mas, hoje, perdi. Perdi em vários níveis e em vários campos. Mal comparando, é como se o Sporting tivesse perdido em casa contra o último classificado das distritais e os rivais tivessem ganho ao Real Madrid e Barcelona nos respectivos domínios.
E perdi porque li (não concordo, repito-o até à exaustão) mal a lei aplicável.
5 anos de curso.
Quase 5 anos de prática.
E li mal a lei. (Diz o Juiz.)
Princípio de Peter verificado.
Tenho que mudar as agulhas.
Estudei, a princípio, o ordenamento jurídico pelo qual as pessoas se regem neste país. Do mais político ao mais prático.
Depois, ingressei na advocacia. Para quem não sabe, a advocacia, para mim, foi quase como a polícia para qualquer cidadão: "não sabes fazer nada? Vai para a polícia."
Então, tive a oportunidade de aplicar a lei. É um problema. Pode ser estimulante, consoante a área de prática ou o nervosismo do cliente. Contudo, um problema é sempre um problema.
Todos os dias morro um bocado devido à escolha que fiz. Para tantos, o curso de direito foi um suplício de um calvário de dificuldades, mercê da carga teórica e desinteresse que algumas matérias suscitam. Digamos que sofri um pouco naqueles cinco anos. Mas sofrer é bem diferente de uma morte, ainda que metafórica.
Hoje, quase 5 anos depois da conclusão do iter jurídico, chegado de um almoço catita, tenho na minha secretária uma sentença.
Sem revelar dados mais técnicos, dizia, em suma, que não tinha razão.
O direito é curioso: podemos não ter razão a vários níveis. Ganhar é ter razão em todos.
Estar a escrever este texto é, tão-somente, um exercício de contacto com a realidade.
Desde cedo que a vida me disse que a minha capacidade intelectual dava, quando muito, para qualquer coisa relacionada com a distribuição alimentar. Conduzir um camião de alfaces. Repor stock nas prateleiras de uma superficie de supermercado. Empilhar caixotes. Varrer corredores.
Diga-se, em abono da verdade, que não pretendo escarnecer de qualquer destas actividades. São dignas e executadas por alguém, sem qualquer dúvida, bem melhor que eu.
Só que devo colocar as coisas em perspectiva. Nenhuma das profissões citadas precisa de 5 anos de estudo e sucessivos seminários de aperfeiçoamento. Basta a boa vontade e força. E isso são coisas que não me faltaram.
Mas, hoje, perdi. Perdi em vários níveis e em vários campos. Mal comparando, é como se o Sporting tivesse perdido em casa contra o último classificado das distritais e os rivais tivessem ganho ao Real Madrid e Barcelona nos respectivos domínios.
E perdi porque li (não concordo, repito-o até à exaustão) mal a lei aplicável.
5 anos de curso.
Quase 5 anos de prática.
E li mal a lei. (Diz o Juiz.)
Princípio de Peter verificado.
Tenho que mudar as agulhas.
segunda-feira, janeiro 19, 2015
Problema da 4.ª Classe
Tenho viatura automóvel própria. Devo dizer, em abono da verdade, que é uma ferramenta de trabalho e lazer como nunca tive.
Não tenho casa própria, mas vivo numa arrendada, em Almada. E já lá vivo vai para dois anos.
É natural, quando não obrigatório, deslocar-me naquela que é a tradicional rotina pequeno-burguesa "casa-trabalho-casa".
Mas vale a pena ser específico. Durante a semana, a rotina exacta é: casa-trabalho-casa-trabalho-casa. E porquê? Porque a refeição a que se convencionou chamar almoço é tomada, por mim, em casa.
Não vem ao caso toda a miríade de complexos sócio-económicos que brotam deste estilo de vida.
Abrevio: no dia de hoje, quando vim a casa almoçar, estacionei a viatura onde estaciono sempre. Quando voltei, tinha uma notificação, a primeira da minha vida: não era uma multa de trânsito, nem de estacionamento. Isso viria depois. Depois do quê? Depois de falhar a oportunidade que me foi dada para pagar uma taxa indevida de ocupação de um lugar de estacionamento pago.
Adiciono mais umas variáveis:
- Em Almada, há 3 tipos de lugares de estacionamento (grosso modo): livres, para residentes e pagos.
- Tenho livre acesso aos lugares "para residentes";
- Estacionei naquilo a que apelidei de "lugar pago".
- Procurei e não havia qualquer lugar disponível para residente.
Pergunta-se:
Tendo em conta que:
- Os lugares pagos o são desde as 9 horas até às 19 horas, durante os dias úteis e das 9 horas até às 14h aos sábados,
- Que entro ao serviço depois das 9 horas,
Como é que é a minha vida?
Não tenho casa própria, mas vivo numa arrendada, em Almada. E já lá vivo vai para dois anos.
É natural, quando não obrigatório, deslocar-me naquela que é a tradicional rotina pequeno-burguesa "casa-trabalho-casa".
Mas vale a pena ser específico. Durante a semana, a rotina exacta é: casa-trabalho-casa-trabalho-casa. E porquê? Porque a refeição a que se convencionou chamar almoço é tomada, por mim, em casa.
Não vem ao caso toda a miríade de complexos sócio-económicos que brotam deste estilo de vida.
Abrevio: no dia de hoje, quando vim a casa almoçar, estacionei a viatura onde estaciono sempre. Quando voltei, tinha uma notificação, a primeira da minha vida: não era uma multa de trânsito, nem de estacionamento. Isso viria depois. Depois do quê? Depois de falhar a oportunidade que me foi dada para pagar uma taxa indevida de ocupação de um lugar de estacionamento pago.
Adiciono mais umas variáveis:
- Em Almada, há 3 tipos de lugares de estacionamento (grosso modo): livres, para residentes e pagos.
- Tenho livre acesso aos lugares "para residentes";
- Estacionei naquilo a que apelidei de "lugar pago".
- Procurei e não havia qualquer lugar disponível para residente.
Pergunta-se:
Tendo em conta que:
- Os lugares pagos o são desde as 9 horas até às 19 horas, durante os dias úteis e das 9 horas até às 14h aos sábados,
- Que entro ao serviço depois das 9 horas,
Como é que é a minha vida?
segunda-feira, janeiro 12, 2015
Ainda não decidi
"Pensar é estar doente dos olhos" ou o autor deste post pensa
demais e, portanto, quer fazer um downsizing desse departamento por si próprio
apelidado "Departamento de meditação que cai, mais das vezes, em saco
roto".
Deixo de falar na terceira pessoa, agora.
Ainda não decidi se sou, ou não, Charlie.
Como quero diminuir o peso do supra citado "Departamento" limitei-me a ver os factos e a tirar conclusões, sempre no tom mais básico a que qualquer representante da humanidade pode aspirar.
Os ataques são de um nojo inominável. Soma-se tudo o que está errado: tirar a vida às pessoas, em nome de inexistências, por motivos reprováveis.
Atacou-se a vida, a liberdade de expressão, de imprensa e fez-se a apologia da violência e de um sector extremista de uma religião que até prega a paz.
Porventura, quando se ergue a bandeira de "Somos todos Charlie", queria estender-se a todos e a cada um a dor do ataque. Não com o preço da própria existência, mas num acto simbólico em que ficámos todos afectados com a diminuição, pela força, de liberdades essenciais. Será qualquer coisa do género: calar um é calar todos. Aconteceu a um como podia ter acontecido a todos.
Depois apareceu o Gustavo Santos.
Quem tem andado atento a vídeos e programas de TV sabe de quem se trata. Life Coach (e associar o termo ao futebol?) e apresentador. Ex-bailarino e atual lenha para queimar.
A única coisa que, até hoje, o Gustava Santos me deu foi uma valente gargalhada. E não estou as falar do comentário que fez no FB. Refiro-me aos vídeos motivacionais em que "o grande amor da vida do Gustavo é o Gustavo. Por isso é que se chama a vida do Gustava. A nossa mente chama-se mente porque nos mente todos os dias".
Depois de me lembrar do "Meu irmão", imortal êxito do quarteto 1111, ri-me.
Gustavo Santos foi linchado. Só faltou irem a casa dele com Ak-47 e darem-lhe um tiro.
Para além do Gustavo Santos, apareceu Rui Sinel de Cordes. João Quadros. José de Pina. Tudo nomes cujo trabalho aprecio, cada um à sua maneira. Chegaram comentadores. Chegaram anónimos.
Já ninguém queria ser Charlie. Uns porque "não é Charlie quem quer". Outros porque não gostam de rótulos e outros por ser Charlie não é nada daquilo que tem sido apregoado.
Nisto, sinto-me como o Paulo de Carvalho.
Fiquei sem saber quem era e o que fazia aqui.
Depois de tanta linha escrita, tanta tinta usada, só me apercebi que sou o autor deste post.
Sei lá se sou Charlie.
O "mote" usado para agregar as pessoas para uma causa (Je suis Charlie) foi, ele próprio, alvo de discussão, de separação, de ofensa e de contenda, ainda que a uma escala reduzida.
E era usado para o bem!
O dever de qualquer pessoa de bem, concorde ou não com os Cartoons, Cristão ou Muçulmano, jornalista ou "civil", preto ou branco, mais cómico ou menos cómico, mais ou menos susceptível, é só um e um só: condenar o acto que vitimou aquelas pessoas. Porque não há desculpa no mundo que salve quem as atacou.
Não há razão para pensar se houve excesso dos cartoonistas. Nem para pensar sobre os limites de humor. Não é essa a discussão.
Morreram pessoas. Morreram no exercício das suas funções. Morreram sem razão atendível.
Só se pode discutir os limites do humor quando há liberdade. Só se pode discutir o que é ou não ofensa quando existem e se aplicam os mecanismos próprios do Estado de Direito.
Quem mata porque está ofendido não sabe o que é a liberdade. Quem defende cegamente um ideal sem postura crítica não é livre.
Por isso, com o devido respeito, marimbo-me para quem é e para quem não é Charlie.
Deixo de falar na terceira pessoa, agora.
Ainda não decidi se sou, ou não, Charlie.
Como quero diminuir o peso do supra citado "Departamento" limitei-me a ver os factos e a tirar conclusões, sempre no tom mais básico a que qualquer representante da humanidade pode aspirar.
Os ataques são de um nojo inominável. Soma-se tudo o que está errado: tirar a vida às pessoas, em nome de inexistências, por motivos reprováveis.
Atacou-se a vida, a liberdade de expressão, de imprensa e fez-se a apologia da violência e de um sector extremista de uma religião que até prega a paz.
Porventura, quando se ergue a bandeira de "Somos todos Charlie", queria estender-se a todos e a cada um a dor do ataque. Não com o preço da própria existência, mas num acto simbólico em que ficámos todos afectados com a diminuição, pela força, de liberdades essenciais. Será qualquer coisa do género: calar um é calar todos. Aconteceu a um como podia ter acontecido a todos.
Depois apareceu o Gustavo Santos.
Quem tem andado atento a vídeos e programas de TV sabe de quem se trata. Life Coach (e associar o termo ao futebol?) e apresentador. Ex-bailarino e atual lenha para queimar.
A única coisa que, até hoje, o Gustava Santos me deu foi uma valente gargalhada. E não estou as falar do comentário que fez no FB. Refiro-me aos vídeos motivacionais em que "o grande amor da vida do Gustavo é o Gustavo. Por isso é que se chama a vida do Gustava. A nossa mente chama-se mente porque nos mente todos os dias".
Depois de me lembrar do "Meu irmão", imortal êxito do quarteto 1111, ri-me.
Gustavo Santos foi linchado. Só faltou irem a casa dele com Ak-47 e darem-lhe um tiro.
Para além do Gustavo Santos, apareceu Rui Sinel de Cordes. João Quadros. José de Pina. Tudo nomes cujo trabalho aprecio, cada um à sua maneira. Chegaram comentadores. Chegaram anónimos.
Já ninguém queria ser Charlie. Uns porque "não é Charlie quem quer". Outros porque não gostam de rótulos e outros por ser Charlie não é nada daquilo que tem sido apregoado.
Nisto, sinto-me como o Paulo de Carvalho.
Fiquei sem saber quem era e o que fazia aqui.
Depois de tanta linha escrita, tanta tinta usada, só me apercebi que sou o autor deste post.
Sei lá se sou Charlie.
O "mote" usado para agregar as pessoas para uma causa (Je suis Charlie) foi, ele próprio, alvo de discussão, de separação, de ofensa e de contenda, ainda que a uma escala reduzida.
E era usado para o bem!
O dever de qualquer pessoa de bem, concorde ou não com os Cartoons, Cristão ou Muçulmano, jornalista ou "civil", preto ou branco, mais cómico ou menos cómico, mais ou menos susceptível, é só um e um só: condenar o acto que vitimou aquelas pessoas. Porque não há desculpa no mundo que salve quem as atacou.
Não há razão para pensar se houve excesso dos cartoonistas. Nem para pensar sobre os limites de humor. Não é essa a discussão.
Morreram pessoas. Morreram no exercício das suas funções. Morreram sem razão atendível.
Só se pode discutir os limites do humor quando há liberdade. Só se pode discutir o que é ou não ofensa quando existem e se aplicam os mecanismos próprios do Estado de Direito.
Quem mata porque está ofendido não sabe o que é a liberdade. Quem defende cegamente um ideal sem postura crítica não é livre.
Por isso, com o devido respeito, marimbo-me para quem é e para quem não é Charlie.
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