tag:blogger.com,1999:blog-388493942024-03-08T00:18:52.113+00:00A Curva DescendenteUm bocado como o carro o Fernando. Um bocadinho a pé e um bocadinho andando.Unknownnoreply@blogger.comBlogger1000125tag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-90895725860099268672023-02-13T16:26:00.003+00:002023-02-13T16:31:54.266+00:00Aparentemente, o fim<p>Desconheço como seja para os demais, ainda que aposte que é muito menor escala.</p><p>Sempre fui objecto de dislates, comentários, conselhos e até ordens.</p><p>- Estás gordo.</p><p>- Está magro (esta, confesso, tem anos)</p><p>- Quando é que cortas o cabelo?</p><p>- Quando é que deixas de fumar?</p><p>- Quando é que arranjas namorada?</p><p>- Quando é que vais estudar?</p><p>- Quando é que tens isso pronto.</p><p>A lista era maior, mas cortei-a para efeitos de concisão.</p><p>Coincidentemente, quem mais gostava de me fazer perguntas como as supra mencionadas era também quem achava que eu era "susceptível".</p><p>A razão pela qual introduzi o presente texto com as linhas com o qual começou deverá ser mais psiquiátrica do que propriamente auxiliativa à percepção do que aqui vai sendo escrito.</p><p>E o que vai ser aqui escrito é algo que me tirou uma noite de sono, ainda ontem.<br /></p><p>Morreu uma amizade.</p><p>Não uma amiga, mas uma amizade.</p><p>Uma amizade de décadas da qual, ainda assim, recordo o seu início. Recordo o que foi o seu desenvolvimento. Sei porque chegou ao fim. </p><p>Perdi muitas amizade ao longo dos anos. A sapiência da minha mãe sempre apontou as causas: "tu exiges demais das pessoas".</p><p>Maybe so.</p><p>Talvez seja o meu carácter de ermita. O gosto que tenho pelo silêncio da solidão. Ao contrário da maioria dos idosos, nunca me assustou ficar sozinho. </p><p>Mas neste caso, não foi por aí.</p><p>Esqueci-me do que me fazia ser amigo dela. Era prestável? Não. Ajudou-me em momentos que precisei? Não. Conhecia-me? Não. Respeitava-me? Não. Respeitava quem estava à minha volta? Não. Solicitou a minha ajuda? Sim. Ajudei? Sim. Precisou de mim? Sim. Alguma vez agradeceu? Não.<br /></p><p>O culminar de tudo foi associar-me a uma caricatura, a um ser perfeitamente detestável. Rematou tudo chamando-me pelo meu apelido, coisa que nunca na vida fez, pelo menos à minha frente.</p><p>Terá sido a pandemia e o que nela dissemos que terá provocado a distância, que terá cavado o fosso.</p><p>Terá sido a vida e as experiências que ela proporciona.</p><p>Terei sido eu e a minha mania de querer algo dos meus amigos, como seja respeito, capacidade de me ouvirem sem criticar, não ser reduzido.</p><p>Bom, mas a vida segue.</p><p>Acho que atingi uma idade em que não vale a pena fazer disto grande cavalo de batalha. Não vale a pena confrontar a pessoa. Isto, por uma razão simples: não quero provocar reforma no comportamento, quero mesmo distância, o fim daquilo na minha existência.</p><p>Também não vale a pena provocar um sismo. Há amigos comuns que quero que se mantenham e não se vejam forçados a tomar conhecimento do que penso, muito menos tenham que tomar lados.</p><p>Um dos grandes humoristas deste tempo terá dito qualquer coisa como: a morte é muito parecida à estupidez, uma vez que tem efeitos nos outros. O morto não tem consciência da morte e o estúpido idem.</p><p>Sendo a morte, aqui, metafórica, "estúpido" e "morto" coincidem. Pela minha parte, não há necessidade de que percebam este meu estado.</p><p>Para isso serve este texto.<br /></p><p> </p><p> </p><p><br /></p><p><br /></p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-43347479946512615912022-12-06T11:55:00.002+00:002022-12-06T11:55:29.164+00:00Há bocado<p>Típica manhã de Dezembro, no início de Dezembro. Ainda escrevo os meses com letra maiúscula.</p><p>No carro, aquela réstia de humidade que cobre as janelas. Estava a limpá-las.</p><p>"Perdoe-me a ousadia, mas vai para o Laranjeiro?"</p><p>Exibia-se um ser humano maior que eu, de voz grossa e vivida, vestido como podia e com um braço ao peito. Olhei-o.</p><p>"Por acaso, hoje não. Vou para Almada, centro sul"</p><p>Cogitou. </p><p>"Deixe estar, obrigado"</p><p>Insisti</p><p>"Mas não quer que o deixe em Almada?"</p><p>"Centro sul? Sim, se calhar ainda consigo ir de metro, não sei é se terei dinheiro para o bilhete."</p><p>"Entre."</p><p>Apresentou-se. Era Engenheiro de comunicações</p><p>"Fui Colega do Guterres e do Mister da Selecção".</p><p>Explicou-me o Curriculum. </p><p>"Trabalhei 16 anos na Inglaterra, era Engenheiro lá. Depois, tive uma doença rara, dois AVC e não me consegui levantar. Hoje, sou sem-abrigo por causa da filha da puta da minha irmã."</p><p>Ainda começou a introduzir o tópico "filha da puta da minha irmã", mas estava mais engajado no caminho que tinha tido antes.</p><p>"Fui a muitos médicos e só um me diagnosticou. Cá, em Portugal, já estive internado sem falar e sem ver".</p><p>O cenário era negro.</p><p>"Agora, dei uma queda, filha da puta".</p><p>Começámos a chegar ao destino. </p><p>"Agora, vou para Cuba, casar-me com uma Cubana. É tal qual a Naomi Campbell. Se olhar para mim, veja lá se não sou tal qual o Morgan Freeman? Em Inglaterra, tenho histórias destas fabulosas."</p><p>Parámos, perguntou-me o nome, disse. </p><p>"Não me vou esquecer de si".</p><p>Não me importava nada de ter ido beber um copo com aquele homem.<br /></p><p><br /></p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-9381518418626867082022-09-15T09:29:00.003+01:002022-09-15T09:30:40.723+01:00O Segundo Dia<p> ...Porque, no primeiro, não me coube a tarefa.</p><p>Desço a escada e, como se Deus existisse e a sua única missão fosse punir-me porque Nele não creio, abate-se uma monumental carga de água com uma pressão que só podia desejar que existisse no meu chuveiro domiciliar.</p><p>Sem casaco, sem chapéu de chuva, a muito custo tento acomodá-lo no carro e protegê-lo na intempérie. Sendo bem sucedido, não deixo de emitir um sonoro berro por razões fúteis, como é ter acabado de "desfrutar" de um novo duche.</p><p>O caminho faz-se sem sobressaltos. Uns quantos automóveis mas nada que obste ao percurso mais ou menos célere. Esperar por mais é ter a vã esperança que o trânsito está sujeito às regras de qualquer doutrina Marxista.</p><p>Ao chegar, o espírito dele está inquebrável. Bem disposto, brincalhão, tudo o que sempre foi e é.</p><p>Encaminho-o para o portão, onde é recebido por uma simpática funcionária. Mais meninos o acompanham.</p><p>Foi aqui que me perdi.</p><p>O volume de transeuntes impede-me de ficar naquele portão. Havia que dar lugar aos demais, iguais em direitos, para que tivessem o mesmo destino no meu.</p><p>Um pouco mais à frente, por uma nesga das grades que separam o estabelecimento da rua, vejo-o. Olhava para os lados, seguindo um carreiro que julgava ser o seu (e quem sabe seria) até à sala de aula.</p><p>Voltei a perder-me.</p><p>Aquele olhar em volta diminuiu-me. Encheu-me de problematizações, conjeturas, enfim, de uma tristeza que só me lembro de sentir em fases más da vida.</p><p>A verdade é que, com o passar dos anos, vejo ali muito de mim, verdadeiramente, uma parte de mim. Mas não uma parte qualquer: trata-se da melhor parte. O que gostaria de ter sido. </p><p>Não me chegam os "vai correr bem", "todas as crianças andaram na escola" ou "todos os pais passam por isso".</p><p>De forma franca o escrevo: não me interessa.</p><p>Vejo a vida a correr, sempre com a pressa da existência e constato que a história me ultrapassa, sem que tenha hipótese de fazer mais por ele. O sentimento de fracasso é-me inevitável. </p><p>Olhando para o lado, o sol está a tentar romper por um par de nuvens. Metáfora?</p><p>Obviamente que não.<br /></p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-76683759395964862532022-03-31T16:36:00.001+01:002022-03-31T16:36:16.892+01:00Escrito previamente não era melhor<iframe width="480" height="270" src="https://youtube.com/embed/jTrP-bcdRIc" frameborder="0"></iframe>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-28088995374585634092022-01-26T17:49:00.003+00:002022-01-26T17:49:24.811+00:00A Sophie Ellis-Bextor ainda existe!<iframe width="480" height="270" src="https://youtube.com/embed/vRYUQYlf7bM" frameborder="0"></iframe>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-80197221152338270292022-01-21T17:31:00.003+00:002022-01-21T17:31:58.476+00:00No caminho para uma noite complicada<p><span data-offset-key="3uus-0-0"><span data-text="true">"Costa está a governar para a história".</span></span><span data-offset-key="3a7v5-0-0"><span data-text="true"> </span></span></p><p><span data-offset-key="3a7v5-0-0"><span data-text="true">A frase é de um comentador conhecido. É pesquisar. Foi dita poucos meses após o decreto de estado de emergência.<br /></span></span></p><div data-contents="true"><div class="" data-block="true" data-editor="40c3u" data-offset-key="27j22-0-0"><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="c7gg9-0-0"><span data-offset-key="c7gg9-0-0"><span data-text="true">Durante um tempo, não acreditei. Contudo, o caminho que vamos seguindo, enquanto comunidade consumidora de opinião e meios de informação, começa a dar razão ao supra citado dito. Em conversa com velhos conhecidos, noto bastante resistência à imagem de António Costa. Em círculos mais alargados, posso ter testemunhado ódio.</span></span></div></div><div class="" data-block="true" data-editor="40c3u" data-offset-key="79kms-0-0"><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="79kms-0-0"><span data-offset-key="79kms-0-0"><span data-text="true"> </span></span></div><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5qjk2-0-0"><span data-offset-key="5qjk2-0-0"><span data-text="true">Por seu lado, António Costa tem trilhado um caminho sinuoso, ora entre o arrogante e bonacheirão, entre o negociador e o obstinado. Dele se diz que está cansado. Que não serve. Que quer sair. Olho para o lado e não vejo quem desminta, quem critique isto, quem defenda o (agora) candidato. </span></span></div></div><div class="" data-block="true" data-editor="40c3u" data-offset-key="3jf91-0-0"><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-text="true"> </span></span></div><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-text="true">É, portanto, para mim surpreendente que as sondagens lhe cheguem a dar o que dão. Porque não refletem o que vejo, o que leio. Não conheço 10 pessoas que votem no Partido Socialista. </span></span></div><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-text="true"><br /></span></span></div><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-text="true">É para mim evidente que Rui Rio ganhará o país. Será Primeiro Ministro.</span></span></div><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-text="true"><br /></span></span></div><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-text="true">Como é tristemente visível no que deu o chumbo do orçamento.<br /></span></span></div><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-text="true"> </span></span></div><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-offset-key="3jf91-0-0"><span data-text="true"> </span></span></div></div></div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-38190110261436253172021-05-18T16:32:00.000+01:002021-05-18T16:32:00.168+01:00E por que razão postei eu isto aqui. Uma resposta sonica<iframe width="480" height="360" src="https://youtube.com/embed/natNbhEqIb4" frameborder="0"></iframe>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-2833198410920239732021-03-31T16:43:00.001+01:002021-03-31T16:43:05.654+01:00Problemas de colocação - Na primeira pessoa, o que dá um ar pouco interessante<p>Um magistral livro que li há poucos meses começava com a seguinte frase: "Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio".</p><p>Embora poderoso, é um slogan que não acompanho.</p><p>Nas passadas semanas (e isto é em mim extremamente recorrente) dei por mim a questionar o meu papel na existência. Afinal, o que sou é o que deveria sempre ter sido? Existe esse determinismo? Poderia ser mais realizado, ou está atingido o máximo? Fico bem com a profissão que tenho, ou claramente não poderia exercer?</p><p>O olhar que deito em mim não terá um respaldo social, isto é, quando faço estas perguntas não respondo pela bitola de um leigo, mas por critérios objectivos.</p><p>E objectivamente só alcancei relativo sucesso (e relativo é hiperbólico) nas funções sociais básicas, como ser marido, eventualmente filho e ainda especulo sobre o meu papel de pai.</p><p>Respeito a minha mulher e nunca faria algo que a magoasse. Quanto aos meus pais, apesar do péssimo feitio e contradições insanáveis diárias que trago na mala, acredito mesmo que podiam ter um filho pior que eu. E não têm.</p><p>Mas, e tudo o resto?</p><p>Vejo gente saciada, capaz de viver bem na sua pele e esse não é, manifestamente, o meu caso. </p><p>Creio que o meu lugar no mundo ainda não é conhecido. Pelo menos por mim. Pode ser que esteja errado e até ao dia de picar o ponto esteja na mesma, com esta problemática em boomerang, indo e vindo, vindo e indo.</p><p>Mas não me vejo competente. Não me tenho por capaz. Lamentavelmente, por falta de uma pluralidade de factores, nunca mudei o rumo. Por aqui segui.</p><p>Com esta interrogação, vem outra. Como serei capaz de lidar com a minha insignificância? </p><p>Tenho constatado que a maioria da humanidade deixou de pensar no seu contributo e exposição. Subitamente, aparecem pessoas que pensam poder influenciar outras, seja no aspecto capitalista ou mercantilista do tema, seja por acções. Pessoas que convencem outras a agir de determinada forma. Quanto a essas, não há assunto, isto é, está tratada a questão. Não são insignificantes, pelo contrário, agem todos os dias na influência, na capacidade de mudar, coisas ou pessoas, realidades e por aí fora.</p><p>Fora de um núcleo que se pode resumir a pouco mais de uma dezena de pessoas, desapareço. Não deixo marca no mundo, serei esquecível. </p><p>Será isto um problema? Pelos vistos, para mim, é. Nunca contei ser tão dispensável, tão desprezível.</p><p>Sonhei ser um profissional respeitado e competente. Falhei. Quis fazer a diferença na minha profissão. Só igual a tantos.</p><p>Sem ter algo que me distinga, algo que me traga, então, o respeito e competência, fiquei na mediania. E está aí um problema filosófico interessante: o que fazer com a mediania e a quem se situa abaixo dela?<br /></p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-47094424230700980082021-01-20T17:33:00.007+00:002021-03-31T16:22:12.645+01:00Portugal e uma bica<p> Voltámos ao confinamento.</p><p><br /></p><p>Não havendo elemento volitivo para abordar o tema, há um aspecto que me mereceu reflexão e que se liga ao estado a que chegámos.</p><p>A partir de hoje (e sabe-se lá até quando) os estabelecimentos comerciais não podem vender bebidas ao postigo e, caso vendam comida, a mesma não pode ser consumida ali à porta.</p><p>Uma amiga minha levantava esta singularidade no whatsapp e razão tinha ela.</p><p>Habituados que estamos a ver, no cinema anglo-saxónico, aqueles baldes de café, que são sempre "to go", em Portugal consome-se uma espécie de cartuxo de caçadeira oco, recheado daquele ouro negro. E o café nunca é "to go". O Café é sempre o café e qualquer coisa. O Café e a conversa. O Café e a contemplação do redor. O Café e a sua degustação calma e tranquila. Beber café a andar é uma negação para nós.</p><p>O animal social que por estas bandas habita é curioso a níveis do impensável. Não tenho a certeza do que digo, mas se algum país remeteu as vendas de bebidas e comidas ao postigo, não sei se teve de as proibir mais tarde, pelos aglomerados que causavam. Acredito nisto em Espanha e Itália. Não acredito nisto na península nórdica.</p><p>Nada em nós é um fim em si mesmo. Os fenómenos de alcoolismo (que obviamente lamento) só em parte são solitários. Quem pesa mais do que deve raramente quer contribuir para a manutenção da pança centrado em si mesmo. </p><p>A verdade é que fazemos das actividades algo comunitário. Há excepções, claro. Mas no que toca à alimentação, nas suas várias vertentes, somos gregários.</p><p>Somos mais Kantianos e Marxistas do que pensávamos.<br /></p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-28163548796867454362021-01-05T12:59:00.002+00:002021-01-05T12:59:24.701+00:00Mensagem de ano novo<p>Como (quase) sempre, naquela manhã de 1 de Janeiro, fiz café, excepcionalmente confeccionei ovos mexidos e sentei-me em frente à televisão. Perante uma sala vazia, a Orquestra de Viena aquecia os metais e preparava-se para mais um Concerto de Ano Novo. </p><p>A performance foi a de sempre, ilidindo a presunção (agora certamente tida por errada) de que é com o público que aquele género de arte se eleva. Treta. Muito Strauss, muitas valsas. Pouca novidade para a perfeição costumeira.</p><p>Tive como inevitável, a cada solo, a cada imagem "típica" de gente a dançar, lembrar-me que estar ali sentado, àquela hora, com aquele programa, era um privilégio. </p><p>A primeira imagem que se projectou na minha cabeça foi a de uma diligência em que fui acompanhar um grande Colega meu, já nem me recordo onde. Estávamos em Janeiro de 2020. Na rádio, noticiava-se que "uma pandemia chinesa já havia morto alguns milhares". O Colega, em jeito de brincadeira, comentava: "Epá, já matou 0,00000000000000000000000000000000000001% deles".</p><p>O vírus estava longe, na China. Alguma vez chegava cá? Tal crença era partilhada por autoridades de vária ordem.</p><p>À medida que os países iam conhecendo infectados por aquela nova ameaça, por cá, a Comunicação Social tinha a tesoura aberta para cortar aquela fita, a fita do primeiro malogrado, do primeiro desgraçado a tossir e a dar-se como febril.</p><p>Por outro lado, a minha actividade profissional parecia, finalmente, entrar naquele ciclo em que os profissionais experimentados chamam "os primeiros cinco anos", onde a clientela é regular, pagadora e se começa a perceber a razão de ter seguido a via do Direito prático. As contas públicas conheciam superavit, as empresas começavam a ter confiança.</p><p>No dia 12 de Março, em casa dos meus pais, assistíamos a um corajoso discurso do Primeiro Ministro. Adivinhava-se a ameaça.</p><p>O resto dos factos são públicos. A interpretação dos mesmos, contudo, fica a cargo de cada um.</p><p>Agora que escrevo estas linhas, tudo me parece ter tido lugar há dezenas de anos. Mas isso nem é o mais curioso. É que, não obstante ter a impressão supra descrita, também sinto que nunca havemos de sair disto. O júbilo que senti com as primeiras imagens de vacinação foi arrasado pelos eventos subsequentes, com o aumento do número de pessoas a morrer devido à doença, com hospitais insuficientes para dar resposta e por, no meio audiovisual, não haver esperança.</p><p>E essa falta de esperança trouxe-me aqui. Ainda que o aceite, o tenha por certo, ainda me custa constatar o absurdo, passar por ele. Mas é tão evidente, tão palpável.</p><p>Resigno-me. Há dois pensamentos que podem ficar aqui, enquanto mensagem de ano novo. O primeiro é meu e o outro não.</p><p>Ninguém morreu, até ver.</p><p>Toda a infelicidade dos homens nasce da esperança.</p><p>Prossigamos. <br /></p><p><br /></p><p> <br /></p><p> <br /></p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-83469910321312693682020-10-30T12:34:00.002+00:002020-10-30T12:34:22.793+00:00Problemas femininos<p>Tenho andando enganado.</p><p>Nunca considerei possível um Homem sentir-se enganado. Este preconceito deve ser o último resto de neandertal que me arrendava um pedaço da mente. Acreditei sempre que um Homem se sentia desiludido, apunhalado, mas nunca enganado. Isto porque o engano era uma humilhação suprema, uma confissão de crime, o derradeiro gozo.</p><p>Cá estava a vida para me provar o contrário. </p><p>Nas pequenas coisas, associadas ao fenómeno da espuma, mantenho: não há enganos, há desilusões, faltas de compreensão, desatenções. Comprar uma jóia bonita e ser falsa: ignorância. Escolher mal um carro: desilusão. </p><p>O engano está nas grandes questões da vida. No amor, na guerra, na amizade. Pode haver desilusão no amor, claro. Pode haver ignorância quanto à necessidade de guerra., má informação.</p><p>Felizmente, quanto ao amor, não tenho de que me queixar.<br /></p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-26743473612307250952020-09-22T17:06:00.001+01:002020-09-22T17:06:14.784+01:00Lido por aí<p> "Mas quando só se dorme quatro horas não se é sentimental. Vêem-se as coisas como elas são, isto é, vêem-se segundo a justiça, a horrenda e irrisória justiça." </p><p>Duas conclusões emergem.</p><p>1.ª: O sono faz falta. Faz-me falta.</p><p>2.ª "A vida é como uma corda de tristeza e alegria que saltamos a correr, pé em baixo, pé em cima, até morrer".</p><p><br /></p><p>O que não vale é deixar de saltar.<br /></p><p><br /></p><h1><br /></h1>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-20572422827670575092020-09-02T19:51:00.001+01:002020-09-02T19:51:36.634+01:00A lembrar-me de qualquer coisa<p>É normal ser custoso voltar ao trabalho após férias.</p><p>É usual, pelo menos tem sido em mim, estar meio entorpecido.</p><p>O que vejo de novo é alguma melancolia depressiva. As férias foram inusitadamente rápidas. Senti os dias a passar a passo de flecha. Via o tempo, quando antes só me lembro de o sentir, como vento. </p><p>Mas senti-me tão bem. Foram, de facto, reparadoras, anti-stress. Talvez pelos locais visitados, talvez pela companhia, tão familiar, senti mínimos históricos de exigência. Consegui isolar o labor e só me lembrar dele agora, que lá voltei.</p><p>Mas há aqui uma tristeza com a qual não estou a saber lidar.<br /></p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-563700755488953702020-08-07T16:00:00.002+01:002020-08-07T16:01:46.682+01:00Contabilidade possível<p> Finalmente, as férias.</p><p><br /></p><p>Independentemente da sua necessidade, do prazer que provocam, da ânsia que geram, as férias são, acima de tudo, uma grande mentira. De resto, das poucas mentiras que o ser humano admite e até roga por viver.</p><p>Não sei como são as férias de toda a gente, mas enquadrando-me eu numa faixa económico-social parecida à da classe média e admitindo que é geral, tenho longas horas de exposição reptilar ao sol, refeições com nomes compostos, esquecimento parcial (já lá vamos) do conceito de ordem pública e bons costumes ou mero direito subjectivo,<i> dolce fare niente</i> e, desde há uns anos a esta parte, vigiar com os olhos que tenho e que não tenho uma criança que, <i>hellas</i>, arranjará sempre situações capazes de vingar em romances.</p><p>E, então, onde está a mentira?</p><p>Meus caros, a vida não é isto. E, meus caros, nem as férias (as minhas, pelo menos) são isto.</p><p>Quanto à vida, não conheço os gebos filhos papá todos do mundo, mas até esses, às vezes, hão de contribuir para o PIB. A vida é, acima de tudo, sofrimento. Onde está sol, boa comida, paz e sossego não costuma haver sofrimento. A vida é sacrifício. Nunca vi disso numa praia, ainda que tenha ouvido a respeito de coisas com galinhas à noite e tal. A vida é um processo nada dialéctico, sem sentido ou propósito. Ora, onde há um objectivo de ganhar cor, descansar e passar tempo com a cria, não se pode falar na vida que conhecemos.</p><p>No que às férias concerne, uma vez mais digo que não conheço as férias de toda a gente, mas as minhas são passadas, mais vezes do que queria admitir, ao telefone. Curiosamente, todas as chamadas reúnem duas características: 1) começam sempre com "Então, Doutor, já está de férias?" e 2) servem para RIGOROSAMENTE NADA. Vou ser mais explícito: a minha maneira de trabalhar é a seguinte: tenho uma novidade e vou logo contá-la ao cliente. O que quer isto dizer? Que se não ligo...não há novidades. Ora, qual é a segunda pergunta que surge? "Sabe alguma coisa do meu processo?". Não, não sei.</p><p>Num verão, uma senhora ligou-me, estando eu em plena praia, a dizer que ia ser despejada. Disse que a Igreja dela ia pagar os meus honorários. Ligou-me umas seis vezes. Enviou mails. Nunca a vi.</p><p>Outra vez, ligou-me um fulano, cujo caso estava há muuuuuuiiiiiittoooo resolvido, mas queria saber coisas.... Nunca mais ligou. Deve estar para breve.</p><p>E é isto, sempre num mundo, sem sair de outro. A tentar descansar, sem o fazer completamente. A escrever textos com tópicos batidos, mas sem categoria para mais.<br /></p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-55700537819283701952020-07-17T17:29:00.003+01:002020-07-17T17:29:25.213+01:00Monumento ao amigo desaparecidoEstava a ouvir a Common People no Spotify. Adoro.<br />
Adiante.<br />
O Spotify tem alguns aspectos que desprezo. Um deles é, estando reunidas algumas condições, escolhe músicas aleatórias, através do algoritmo das nossas preferências.<br />
Quando a "escolha" começou a tocar, fui transportado para dois momentos, um deles com, pelo menos, uma década em cima.<br />
O primeiro e mais velho teve lugar no Nova Tertúlia, ao içar uma caneca, numa noite de especial boa disposição.<br />
O segundo foi passado na primeira casa que arrendei (arrendámos). Queríamos imitar o gesto do primeiro momento e procurávamos a banda sonora.<br />
A tal que o Spotify "escolheu".<br />
Brimful of asha.<br />
<br />
O Sérgio Godinho lembra a frase batida. Eu tenho uma outra, igualmente batida, e inferior à dele: a vida acontece. E se, na maioria das vezes, isso é bom, aqui não foi. Como um soldado em campanha, perdeu-se um comparsa.<br />
<br />
É errado só por vezes me lembrar dele. Talvez pelo lapso temporal o lamento seja mais efectivo.<br />
<br />
Fiz o que deve fazer qualquer cidadão de bem: enviei-lhe mensagem a dizer que é ridícula a distância. Mandei-lhe um abraço.<br />
<br />
Nada nunca será o que já foi. São os paliativos a que temos acesso.Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-27987773653695485392020-07-16T17:21:00.001+01:002020-07-16T17:21:25.319+01:00ÉNuma Quinta-Feira menos movimentada, tocam à porta. Estava marcada uma reunião para dali a quinze minutos. Antecipou-se.<br />
<br />
Chegou.<br />
<br />
Sentou-se.<br />
<br />
E perguntou: Como é que eu lavo dinheiro?Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-77250474462800159482020-07-14T17:43:00.001+01:002020-07-14T17:43:28.596+01:00Maneiras, maneirismos e panegíricosO calor. Sempre ele.<br />
<br />
Ao contrário do que pensaram centenas de Russos (e se calhar bem, sei lá), não é o tempo frio o mais capaz de providenciar por bons raciocínios. O calor de ananases que o pós-pandemia está a trazer-nos tem-me feito pensar. Em coisas. Hoje, uma nova. Partilho. Como se houvesse interesse.<br />
<br />
A vida ensina-nos, sobretudo através do erro, a tratar com terceiros. Como ser educado (ter maneiras). O conceito de "ser educado" é muito lato e até deve estar bem documentado. Ora, desse universo de latitude, ocorreu-me hoje como não ser "excessivo".<br />
<br />
Ao ouvir a música Delilah, interpretada por Tom Jones, ocorreu-me que, ao conhecer-se um Dalila, a primeira coisa que devemos evitar é perguntar: "Dalila? Como a música do Tom Jones?"<br />
<br />
Para os três leitores que aqui passam, isto pode ser evidente. Para mim não é. Ou não era.<br />
<br />
A pergunta formulada é ridícula. É evidente que a senhora em causa (imaginei a Dalila Carmo, atriz, única Dalila que vi. A do Sansão só ouvi falar) deveria responder à letra. "Não, Dalila como a música Chupa Teresa do Quim Barreiros".<br />
<br />
E com isto dei mais um exemplo: Não se pergunta a uma Teresa se é Teresa como a da música do Quim Barreiros.<br />
<br />
Conclusão: canções com nome de gente existem "ao pontapé". Os visados conhecem-nas. Provavelmente estão fartos dela.<br />
<br />
Não deixa de ser injusto para aqueles que, como eu, têm um nome pouco musical. Mas a educação é muito. É, mesmo, tudo.Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-74156590848053711412020-05-14T15:11:00.001+01:002020-05-14T15:11:38.931+01:00Jornadas penitenciais a propósito da pandemia: uma delas vertida aquiA pandemia vetou-me ao isolamento, ou melhor, ao confinamento.<br />
<br />
Distantes do mundo, inevitavelmente, colocamos em causa ou confirmamos uma série de realidades que, ocupados devidamente, pouca atenção nos mereceriam.<br />
<br />
As redes sociais têm-me proporcionado reflexões com conclusões tristes. Penitencio-me, portanto, por só agora perceber o que vos vou transmitir.<br />
<br />
Antes de dizer algo mais, um ponto: não, não sou a favor do seu fim, maior regulação ou imposição de medidas. Está bom como está.<br />
<br />
Isto porque as redes sociais são um produto humano, para os humanos e alimentadas pelos humanos.<br />
<br />
Em tendo oportunidade, e esta é a primeira conclusão, a maioria dos mamíferos pensantes é um misto de Nuno Rogeiro, Freitas Lobo, Jorge Miranda e um utente da casa de saúde do Telhal.<br />
<br />
Ou seja, num comentário é capaz de sintetizar o seguinte, com esta fórmula: "Esta malta (num claro apelo internacionalista, i.e, Nuno Rogeiro) andava a jogar à bola em latas de Canada Dry (Freitas Lobo) e agora querem subsídios de grátis (Jorge Miranda menos a sofisticação linguística)! Anda aqui um gajo a trabalhar que nem um camelo (montador de cozinhas/trolha/oficial de justiça) para virem estes gajos e roubarem-nos a mulheres. Cadeia com eles, pena de morte já! (Utente da casa de saúde do telhal)".<br />
<br />
A segunda conclusão é que tudo piora conforme a rede escolhida, da mais para a menos mainstream. No Instagram está tudo bem. O mundo é bonito ali. Vinho, sol, boas formas. No Facebook, temos a primeira amostragem da síntese supra exposta. Ainda dentro do Facebook, há um caminho descendente: os grupos. Os grupos concatenam gente que vive em caves e vê o sol quando está a chover. As forquilhas estão em promoção e todos têm piras em casa. O twitter é um inferno. Acumulam-se as contas falsas, os extremismos, as ameaças, as calúnias. É mau demais.<br />
<br />
E isto são só três das redes existentes.<br />
<br />
Passei a consumir mais daquele mundo virtual e sinto-me a mudar. Não quero deixar de conhecer as ideias de quem pensa coisas diferentes das minhas, mas há limites ultrapassados todos os segundos.<br />
<br />
A pergunta é: é fraquejar se bloquear? <br />
<br />
<br />
<br />
Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-13861946798196966232020-05-07T12:43:00.000+01:002020-05-07T12:43:11.301+01:00Da liquidação audiovisual do grande confinamentoComo referido há uns posts abaixo, estou em casa desde dia 14 de Março, tendo saído, contas actualizadas, cerca de 10 vezes, para três efeitos: trabalho, despejo de resíduos e abastecimento.<br />
<br />
Ao contrário do que foi por mim esperado, não tive muito com o que ocupar o tempo, uma vez que sou Pai de um Vasco bem activo e que pede atenção.<br />
<br />
Não obstante, consegui (nestes quase dois meses) visualizar duas peças antigas que faltavam ao meu CV audiovisual.<br />
<br />
A primeira é o filme Era uma vez na América. Será escusado tecer grandes comentários. Praticamente toda a gente já teve oportunidade de se "degladiar" com a obra maior de Sérgio Leone. É absolutamente excelente. Tem o que, até agora, não vi noutros filmes de idêntico cartel: as personagens têm, todas elas, péssimo carácter. Não há moral, hipótese de redenção, nada: ali, ninguém presta. E, nem sendo essa a sua mais apelativa caracteristica, mesmo assim, é soberbo.<br />
<br />
A segunda é a série Twin Peaks. Consegui, finalmente, assistir à série original, de 1990. Estou, agora, a ver a temporada mais recente, a qual apresenta um registo de ritmo, música e até narrativo, algo diferente, mas igualmente ímpar.<br />
<br />
Estou, ainda, na recta final de dois livros: The man in the high castle e Dr. Sono. Não é Eça, mas a qualidade está lá. Conto terminá-los esta semana.<br />
<br />
O triste de ser culturalmente diminuído é este: o que se perde.Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-27552227123902114622020-05-01T15:49:00.000+01:002020-05-01T15:49:03.558+01:00Falha de carácterEncontro-me com 34 anos de idade. Uma vez que creio não ir viver outros 34, considerei que tinha adquirido uma maturidade suficientemente consistente para o período remanescente da vida futura.<br />
Percebo que não. Não passei ainda pela fase mais difícil da vida adulta. Sempre o soube, mas esqueci-me.<br />
O meu Pai encontra-se hospitalizado. Está com dores (felizmente, neste momento, mais controlado), mas todo o processo que o levou, desde a crise, até ao tratamento hospitalar foi difícil de aceitar. Não me vou demorar com detalhes, mas posso resumir em duas frases: quando entra no hospital, o único caminho era a operação, tanto que foi obrigado a repetir um teste à COVID-19, quando, no dia anterior, tinha sido testado com resultado negativo. Hoje, estabilizado, vai ter alta, "porque pode haver casos mais urgentes".<br />
Isto mexeu comigo de uma maneira que não pensei.<br />
Fisicamente, subiu-me a temperatura (não tenho febre).<br />
Socialmente, consegui irritar-me seriamente com a minha irmã e com um amigo.<br />
Com a minha irmã foi mais inesperado. Dei por mim a gritar, qual interdito, minto, maior acompanhado.<br />
Com o amigo foi algo mais, digamos, consequencial. Acho que encerrei uma relação de amizade com alguns anos. Espero que se mantenha o respeito mútuo.<br />
Friamente, vejo que falhei.<br />
É inevitável associar estes comportamentos a uma situação de stress, ao sofrimento do meu pai. Num outro dia qualquer, isto não acontecia.<br />
Mas isto não é ser gente. Isto é falhar em situações de pressão.<br />
Volto ao que aqui escrevi há alguns anos: a minha vocação é para mendigo, sem-abrigo ou coisa parecida. Algo sem responsabilidades, sem ligações, eternamente mau.Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-23329543078742394392020-04-20T18:33:00.001+01:002020-04-20T18:33:01.745+01:00Pistas <br />
Li, há instantes, que esta cena (certamente munida de múltiplos significados) tem uma interpretação "reconfortante" para o protagonista: o que vemos depois (cronologicamente no filme) dela é um produto do produto...que ele está a fumar. <br />
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/oczk6wf02qM" width="480"></iframe>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-89487458698812396762020-04-20T18:11:00.002+01:002020-04-20T18:11:37.048+01:00Ad perpetuam rei memoriamSARS-COV-2<br />
COVID-19.<br />
<br />
Em casa desde 14 de Março de 2020. Saí, que me lembre, 6 vezes.<br />
<br />
Registe-se.Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-5892818067448279832020-01-31T12:21:00.000+00:002020-01-31T12:21:26.003+00:00Das coisas que nunca me tinha acontecidoAtrás do meu escritório, um pouco antes de chegar ao serviço de CTT, um velhinho urinava no meio da rua.<br />
Vi-o de longe.<br />
Mudei de direcção.<br />
Inevitavelmente, e porque precisava de ir ao dito serviço, tive de me aproximar, ainda se sacudia a mais valia.<br />
<br />
Disse-me bom dia, enquanto apanhava os alhos e um saco que tinha colocado no chão para concretizar o serviço.<br />
<br />
A primeira sensação foi de algum repúdio. A segunda foi de aceitação. Um dia, poderei ser eu. Quem sabe?<br />
<br />
Nunca me tinha acontecido.Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-1980620822708611102020-01-29T16:55:00.000+00:002020-01-29T17:05:36.999+00:00Apontamentos profissionaisQuis a vida que a minha prática profissional se cruzasse com algo que podia ser uma história de Jornal da Noite da SIC: uma regulação de responsabilidades parentais de uma menor em que o Pai está em Paredes de Coura e a Mãe em Almada. Afinal, com quem viverá a menina?<br />
Represento a Mãe.<br />
Este processo "caiu-me", no âmbito do acesso ao direito (vulgo oficiosas), ao fim de duas escusas prévias, ambas por motivos próprios e em nada relacionados com a personalidade da Mãe.<br />
Depois de duas sessões de julgamento, entendeu a Meritíssima ouvir a menor: uma criança de sete anos.<br />
Passada uma hora de audição, numa sala em que está a menor, Juiz e Procurador, são convidados a entrar os mandatários e as partes, sendo protegida a menina, que é encaminhada para a assistente social.<br />
"A menina tomou uma decisão" - Disse a Juíza - "Foi muito clara. Ela quer ficar com o Pai".<br />
O que se segue são jogos de lágrimas, revoltas. É que, se tal não bastasse, foi dito: "Mas podemos experimentar: concedemos a guarda provisória ao Pai até julho e se correr bem, fica, se correr mal altera-se".<br />
Mais se passou, mas este resumo, que usarei para memória futura, bem basta. <br />
<br />
Convidado, compulsivamente, pela Meritíssima a acompanhar a Mãe, de forma a acalmá-la, e de lhe ter oferecido um café, voltámos ao contacto com a criança.<br />
<br />
"Mãe, estiveste a chorar."<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-38849394.post-86100071937256308792020-01-15T17:45:00.000+00:002020-01-15T17:45:01.491+00:00DC 2020Lembrei-me.<br />
<br />
Passaram vários anos sem que consultasse um dermatologista. Padeço de psoríase e vitíligo. Há uns anos, em Porto Covo, consegui "limpar" as manchas que o meu corpo alberga. Pensei que o sol trataria do assunto todos os anos. Nada mais errado. Foram aparecendo, colonizando.<br />
Graças à insistência da minha esposa, lá fui ao médico.<br />
<br />
Ao acordar, e antes da consulta, fui informado (primeiro por<a href="http://www.bonamaterfamilias.blogspot.com/"> ela</a> e depois pela visualização no telemóvel) de que me acusam de ter uma casa de banho potente ao ponto de causar infiltrações não em um, mas dois andares abaixo do meu.<br />
Dizia o e-mail da notificação, que tinham ido bater à minha porta às 23 horas para me dar conta da hipótese ser eu o causador do dilúvio. Nem ouvi.<br />
<br />
A existência que me carrega (e eu sou carregado por ela, sem dúvida) nunca deixa de me brindar com manchas. Ora na pele, ora em paredes alheias.<br />
<br />
Não sei como vou reagir às pomadas receitadas, nem sei se tenho seguro que possibilite que não me apresente à insolvência com as reparações que poderei ter que fazer. Viver um dia de cada vez é isto. É mau. É penoso. Porque, aparentemente, o conceito de descanso é meramente teórico. Uma ideia.<br />
<br />
Não existe a paz.<br />
<br />
E o ano começa assim. Responsabilizando-me pelo meu cuidado cutâneo. Sendo-me imputado o escorrimento de águas.<br />
<br />
Não haja dúvidas de que terei saudades de 2019.Unknownnoreply@blogger.com