Quando o sol se põe, começo a lembrar-me dele, por alguma razão.
O auge da sua falta foi, sem qualquer dúvida, no dia do meu casamento. Senti-me culpado. Por tantas coisas. A primeira foi por não o ter ali. Viu-me sair de casa. Ainda soube da minha mudança para outra casa. Não me viu casar.
Falava bastante com ele. Tinha posição sobre tudo, concordasse-se ou não com ela. Tinha perspectiva, observava. Seria excelente saber o que pensa e o que ele pensava sempre me interessou. Não era mau a julgar caracteres e já tinha visto umas coisas. E ainda há a questão do sentido de humor. Forte.
Nunca o conheci com os defeitos que, ao longo do meu crescimento, lhe foram apontando. Certamente que os teria, o meu ponto é que não os via. Comigo sempre foi acima de excelente.
Deixou mágoa. A partida mudou, de forma objectiva e necessariamente definitiva, a vida. A minha e outras.
E lembro-me dele, sobretudo, quando uma vez, sozinhos, depois de ouvir uma das minhas ladainhas sobre a inutilidade da existência, me disse, de forma avisada e sincera, que devia arranjar ajuda.
Bom, essa ajuda veio, de várias formas. Mais ninguém me teria dito "vai-te tratar" com a seriedade e amizade dele. Costumo odiar sinceridade, mas ali soube-me bem. Talvez por se ter dado um dos raros casos em que a verdade/sinceridade se adequava e mal não faria.
Recordo-o sorridente.
E isso é tudo.