Há palavras que nos castigam, que moem a paciência, que nos fazem desejar a surdez.
De entre as muitas que me provocam especial dificuldade, vinha hoje falar da palavra "sopa".
A magia da palavra "sopa" é muito pessoal. Há pessoas que a fazem soar de forma normalíssima, o que agradeço, penhoradamente. Depois, há as outras.
- As pessoas que medem 1,70 metros e pesam 30 kilos.
- As pessoas que estão no ginásio e conseguem sorrir enquanto correm na passadeira.
- As pessoas que dizem que vão almoçar uma "sopa".
- Nutricionistas em geral que falam dos "benefícios da sopa" (quase arranquei um ouvido ao escrever esta merda, fod@-#$)
Toda esta gente, profundamente necessitada de ser enjaulada, profere esta maldita palavra de 4 letras com um som capaz de me fazer desistir da vida. Falam dela como se fosse a solução, como se fosse algo de saboroso.
NÃO É!!!
Ora bem, e dito isto, valia a pena explicar-me. Terá de haver uma razão para estar a comunicar ao vasto auditório que me segue esta espécie de privação de uma relativa qualidade de vida.
E, como sempre, é o trauma. Tem de haver um trauma. Bem recalcado. Bem metido. Impossível de expulsar.
Quando somos mais jovens, entidades existem que "nos obrigam a comer a sopa".
Está aqui um problema. "Obrigar" e "Sopa". Nunca existe um "obrigar" a fazer algo que valha a pena. Não. "Obrigar" traz dor, traz chatice, traz textos destes anos depois.
A partir de uma certa idade, é certo, podemos escolher. Mas na infância não.
Está aqui a primeira razão.
A segunda razão é a mais evidente: SE A SOPA (AIIIIIIIIIIIIIIII) FOSSE UM ALIMENTO SABOROSO (AIIIII, "SOPA" E "SABOROSO" NA MESMA FRASE!!!) ninguém era obeso. Havia menos diabéticos, menos pessoal com hipertensão e por aí fora.
Terceira razão: a sopa representa um estilo de vida. Um estilo de vida de freiras, de fascistas-higiénicos, de gente que nunca comeu mais nada senão coves em caldo. (Sem querer generalizar. Percebam, é duro escrever tantas vezes a palavrinha e lembrar-me da sua entoação na cabeça. Raios). É um estilo de vida que não me interessa. Até porque, quando morrer, há de estar alguém ao pé do meu casaco de pinho a dizer:
- Este rapaz estava gordo. Só comia pizzas e hamburguers. Nunca o vi a comer uma sopa.
(Estava capaz de jurar que voltava à vida só para esfolar o autor da frase)
Enfim. Ao contrário de tudo mais, eu até aguento bem quem diz "sopinha". É mais irritante, mas remete para o imaginário das coisas rápidas (como sejam um "minutinho" ou "instantinho"). Uma "sopinha" é um castigo que passará rápido.
Antes de terminar, queria fazer uma importante distinção. Caldo Verde não é sopa. Canja não é sopa. Sopa da Pedra não é Sopa. O nome é Caldo Verde, Canja e Sopa da Pedra.
Enfim. O saudável irrita-me. Por isso estou assim.