quarta-feira, março 25, 2015

Sopa

Há palavras que nos castigam, que moem a paciência, que nos fazem desejar a surdez.

De entre as muitas que me provocam especial dificuldade, vinha hoje falar da palavra "sopa".

A magia da palavra "sopa" é muito pessoal. Há pessoas que a fazem soar de forma normalíssima, o que agradeço, penhoradamente. Depois, há as outras.

- As pessoas que medem 1,70 metros e pesam 30 kilos.

- As pessoas que estão no ginásio e conseguem sorrir enquanto correm na passadeira.

- As pessoas que dizem que vão almoçar uma "sopa".

- Nutricionistas em geral que falam dos "benefícios da sopa" (quase arranquei um ouvido ao escrever esta merda, fod@-#$)

Toda esta gente, profundamente necessitada de ser enjaulada, profere esta maldita palavra de 4 letras com um som capaz de me fazer desistir da vida. Falam dela como se fosse a solução, como se fosse algo de saboroso.

NÃO É!!!

Ora bem, e dito isto, valia a pena explicar-me. Terá de haver uma razão para estar a comunicar ao vasto auditório que me segue esta espécie de privação de uma relativa qualidade de vida.

E, como sempre, é o trauma. Tem de haver um trauma. Bem recalcado. Bem metido. Impossível de expulsar.

Quando somos mais jovens, entidades existem que "nos obrigam a comer a sopa". 

Está aqui um problema. "Obrigar" e "Sopa". Nunca existe um "obrigar" a fazer algo que valha a pena. Não. "Obrigar" traz dor, traz chatice, traz textos destes anos depois.

A partir de uma certa idade, é certo, podemos escolher. Mas na infância não.

Está aqui a primeira razão.

A segunda razão é a mais evidente: SE A SOPA (AIIIIIIIIIIIIIIII) FOSSE UM ALIMENTO SABOROSO (AIIIII, "SOPA" E "SABOROSO" NA MESMA FRASE!!!) ninguém era obeso. Havia menos diabéticos, menos pessoal com hipertensão e por aí fora.

Terceira razão: a sopa representa um estilo de vida. Um estilo de vida de freiras, de fascistas-higiénicos, de gente que nunca comeu mais nada senão coves em caldo. (Sem querer generalizar. Percebam, é duro escrever tantas vezes a palavrinha e lembrar-me da sua entoação na cabeça. Raios). É um estilo de vida que não me interessa. Até porque, quando morrer, há de estar alguém ao pé do meu casaco de pinho a dizer:

- Este rapaz estava gordo. Só comia pizzas e hamburguers. Nunca o vi a comer uma sopa.

(Estava capaz de jurar que voltava à vida só para esfolar o autor da frase)

Enfim. Ao contrário de tudo mais, eu até aguento bem quem diz "sopinha". É mais irritante, mas remete para o imaginário das coisas rápidas (como sejam um "minutinho" ou "instantinho"). Uma "sopinha" é um castigo que passará rápido.

Antes de terminar, queria fazer uma importante distinção. Caldo Verde não é sopa. Canja não é sopa. Sopa da Pedra não é Sopa. O nome é Caldo Verde, Canja e Sopa da Pedra.

Enfim. O saudável irrita-me. Por isso estou assim.