Nunca granjeou grande popularidade a série a que me refiro acima.
Haverá vários motivos, mas o principal será, talvez, o grau de whatthefuckness que abunda em cada episódio e personagem. Muito triângulo, muita carne, muito daquilo que não é aberto.
Emitida, actualmente, pela SIC Radical, recomecei, assim como a minha melhor metade, a ver a série do seu início.
Num episódio recente, uma das personagens principais, Sean McNamara, escrevia o seu epitáfio. Não porque tivesse morrido ou estivesse para isso. Inquirido pelo seu filho sobre as razões de tal acto, respondeu-lhe que era um exercício de motivação.
Há, na minha opinião, uma grande música dos Titãs, precisamente chamada de "Epitáfio". Uma lista de lamentos e de "coulda-shoulda-woulda". Apesar de ser excelente, como disse, não achei correcto que lhe dessem um nome que não corresponde àquilo que é. A letra da música, o poema, para usar uma palavra que devia ter um significado mais restrito, é um rol "do que devia ter sido". O epitáfio tem de conter aquilo que efectivamente foi/aconteceu.
Na pior das hipóteses, o epitáfio é um testamento, um legado de factos e conquistas do de cujus.
Abomino a ideia de ser eu a escrevê-lo. Ainda pensei fazê-lo. Contudo, é demasiado tétrico. Demasiado mórbido. Faltar-me-ia a objectividade. Faltar-me-ia tudo.
Será estranho pedir a um amigo para fazê-lo? Será mais justo solicitá-lo a um inimigo?
Pus-me a pensar. Não há ninguém que o pudesse fazer por mim. A minha família e até amigos, inexplicavelmente, gostam de mim. Seria doce. Os restantes seres assumem perante mim uma postura de indiferença ou desdém que também não permitiria a execução com qualidade.
Ao fim e ao cabo, o que somos é subjectivo. Claro que há factos e actos. Mas os factos e os actos não são nada sem interpretação.