Conheço poucas pessoas que não gostem de vinho.
Ponto prévio: não sou daquelas pessoas que categoriza as outras por aquilo que comem (e bebem) ou não. Por exemplo, jamais ficaria menos impressionado com alguém se soubesse que esse alguém não gostava de trufas. O mesmo sucede para o vinho.
O vinho é das poucas bebidas que pode ser consumida à refeição e como bebida social. Dir-me-ão que todas têm a mesma benção. Digo que não. Jamais algum manjar ficará bem acompanhado com Blue Coraçao ou Baileys.
É uma bebida democrática. É bebida pelo bêbedo. É bebida pelo nobre. É transversal. Ainda que nunca nos passe pela goela um Barca Velha de 2004 (e a mim nunca passou), soubemos que existe vinho bom a menos de 5 euros.
Venho, por esta via, lamentar a falta de vinho nas reuniões que António Costa tem mantido. Não é que não perceba. Os jornalistas iam achar horrendo o bafo expelido depois de um encontro com Passos e Portas. Iam imputar-lhe adjectivos desonrosos. Chamar-lhe coisas feias. Jurar que não era o líder que o país precisava.
Entendo, mas lamento.
A minha experiência ensinou-me que os melhores negócios se fazem à mesa. Em mesas onde não se bebe água. Não deviam ter existido reuniões. Deviam ter sido marcados jantares ou almoços. Penso que todos ganhariam. Desde logo, o sector privado da restauração, que bem carecido está. Ganhavam os jornalistas. É que para além do que diriam no caso de existir uma simples reunião, teriam mais assunto: a conta, quem a pagou, o que se bebeu, o que se comeu, quem comeu o quê. Poderia dar-se o caso de existir uma reportagem na Tabu com o cozinheiro que preparou a cabeça de peixe que Passos tinha deglutido. Até mesmo uma crónica no Correio da Manhã com uma tabela de correspondências entre o que Costa comeu e Sócrates havia comido, naquele mesmo restaurante, há 5 anos, com prejuízo para o primeiro, uma vez que Sócrates comeu as ostras de entrada, mandou vir o Heston Blumenthal para fazer o prato e encerrou com uma edição limitada de uma mousse de chocolate confeccionada apud receita inventada por um mestre chocolateiro morto em Jacarta.
Mas, melhor que tudo, as televisões poderiam contratar "entendidos" que pudessem ligar o vinho tomado com o perfil do tomador. "Portas pediu José de Sousa 2011, o que revela que gosta de homens mais velhos". "Catarina Martins optou por um Mateus Rosé, o que claramente a desqualifica para qualquer cargo governativo". "Jerónimo de Sousa bebeu palheto, o que mostra a tradição a que o PC é fiel". Por aí fora.
Este post é, como disse, um lamento. O melhor de Portugal é a hotelaria, o turismo. A jóia da coroa é a gastronomia. Sem respeito pelos Portugueses, os actores políticos deram um sinal terrível ao país.
Não faço planos de perdoar.