Um dos aspetos positivos da existência do autor deste blogue é a frequente mobilidade geográfica a que foi sujeito. Quer isto dizer, em palavras simples, que mudei frequentemente de casa, tendo encontrado em cada prédio um lar. Ao fim e ao cabo, são as pessoas que o fazem.
Pela primeira vez, naquele ano, que nem me lembro qual seja, passávamos o ano na nova casa.
Reuniu-se um porradão de gente. Havia espaço. Cada um levou a iguaria apropriada e a festa fez-se.
Quando pouco faltava para a meia noite, determinada convidada distribuiu aquelas velas que fazem faíscas nos bolos de anos pelos mais pequenos.
Contudo, não deu à mais nova.
A pequena, ao ver que todos tinham, menos ela, começou a chorar.
Aquele ano entrou comigo a ver lágrimas. Uma cara de tristeza e desespero. Uma dor que não se compreendia, um rosto que parecia que o corpo que lhe pertencia carregava o pecado inteiro do mundo.
Porque não lhe tinha sido atribuída uma vela.
terça-feira, dezembro 31, 2013
segunda-feira, dezembro 23, 2013
Sinceros votos de boas festas
Num longíquo ano, em que já havia sido adquirida uma fantástica câmera de filmar marca Sony, como sempre foi e será tradição, reuniu-se a família para celebrar o Natal "lá em casa".
Falham as memórias mais certas, mas há coisas que são nítidas, quanto mais não seja por se perpetuarem e replicarem no tempo. A mesa dos doces, a azáfama na cozinha, as conversas, os risos, os momentos.
Estavam todos vivos. Até os gatos.
Abrem-se as prendas.
O meu pai filma o momento. Quando se pensava que iriamos ver a alegria quase contagiante estampada nos rostos de quem vai perceber que segredos traz um embrulho, o filme mostrava uma outra cena: os supra citados gatos.
Um deles entretinha-se com os papeis e laços que constituiam os embrulhos.
O outro tinha subido à mesa e deleitava-se com a aletria.
A música de fundo da comédia era de risos e galhofa provocados pelos convivas.
Ainda no mesmo filme, ouvia-se uma expressão, posteriormente batida, porque repetida: "Ai, é o último natal, o último natal".
Claro que não foi o último natal. Para ela.
Como escreveu, não há muito tempo, Lobo Antunes: "Quando eu era pequeno ninguém morria. Porque carga de água se morre agora, pelo simples facto de eu ter crescido?".
Falham as memórias mais certas, mas há coisas que são nítidas, quanto mais não seja por se perpetuarem e replicarem no tempo. A mesa dos doces, a azáfama na cozinha, as conversas, os risos, os momentos.
Estavam todos vivos. Até os gatos.
Abrem-se as prendas.
O meu pai filma o momento. Quando se pensava que iriamos ver a alegria quase contagiante estampada nos rostos de quem vai perceber que segredos traz um embrulho, o filme mostrava uma outra cena: os supra citados gatos.
Um deles entretinha-se com os papeis e laços que constituiam os embrulhos.
O outro tinha subido à mesa e deleitava-se com a aletria.
A música de fundo da comédia era de risos e galhofa provocados pelos convivas.
Ainda no mesmo filme, ouvia-se uma expressão, posteriormente batida, porque repetida: "Ai, é o último natal, o último natal".
Claro que não foi o último natal. Para ela.
Como escreveu, não há muito tempo, Lobo Antunes: "Quando eu era pequeno ninguém morria. Porque carga de água se morre agora, pelo simples facto de eu ter crescido?".
sexta-feira, dezembro 06, 2013
Das fases
Ia constatar qualquer coisa, mas quero ser específico.
Naturalmente, não ando sempre angustiado. Há momentos de luz trazidos pela família e amigos. São espaços entre a sombra constante que tem sido a minha vida desde há mais de 4 anos a esta parte.
O que queria mesmo não era constatar, era mesmo perguntar: quando é que fui feliz mais de uns dias seguidos?
Terá havido uma fase em que andava, como se diz, bem?
É que não me lembro.
Naturalmente, não ando sempre angustiado. Há momentos de luz trazidos pela família e amigos. São espaços entre a sombra constante que tem sido a minha vida desde há mais de 4 anos a esta parte.
O que queria mesmo não era constatar, era mesmo perguntar: quando é que fui feliz mais de uns dias seguidos?
Terá havido uma fase em que andava, como se diz, bem?
É que não me lembro.
A propósito da morte de um Homem
Morreu Nelson Mandela.
Não sei o suficiente a respeito da sua vida. Sei qualquer coisa a respeito da sua luta. Aquilo que significou.
Lamentavelmente, o ano de 2013 teima em ceifar os melhores.
Que perdure na memória coletiva.
Não sei o suficiente a respeito da sua vida. Sei qualquer coisa a respeito da sua luta. Aquilo que significou.
Lamentavelmente, o ano de 2013 teima em ceifar os melhores.
Que perdure na memória coletiva.
terça-feira, novembro 26, 2013
Excerto
COUNSELOR I fell asleep. I’m sorry.
CAFÉ MAN There is no harm.
COUNSELOR No harm. Lovely thought. Magical thought.
CAFÉ MAN Como?
COUNSELOR Good night.
CAFÉ MAN Es muy peligroso. En las calles.
COUNSELOR I know.
CAFÉ MAN They hear somebody in the street they shoot them. Then they turn
on the light to see who is dead.
COUNSELOR Why do they do that?
CAFÉ MAN (Shrugging) To make a joke. To show that death does not care.
That death has no meaning.
COUNSELOR Qué piensa? Usted. Do you believe that?
CAFÉ MAN No. Of course not. All my family is dead. I am the one who has no
meaning.
CAFÉ MAN There is no harm.
COUNSELOR No harm. Lovely thought. Magical thought.
CAFÉ MAN Como?
COUNSELOR Good night.
CAFÉ MAN Es muy peligroso. En las calles.
COUNSELOR I know.
CAFÉ MAN They hear somebody in the street they shoot them. Then they turn
on the light to see who is dead.
COUNSELOR Why do they do that?
CAFÉ MAN (Shrugging) To make a joke. To show that death does not care.
That death has no meaning.
COUNSELOR Qué piensa? Usted. Do you believe that?
CAFÉ MAN No. Of course not. All my family is dead. I am the one who has no
meaning.
quinta-feira, novembro 21, 2013
Ibra e Ronaldo. Um diálogo possível mas absolutamente imaginário. A única coisa a dizer a respeito do apuramento.
Ah, marco dois golos.
Eu marco três. Adeus e até ao teu regresso.
sexta-feira, novembro 08, 2013
terça-feira, novembro 05, 2013
Paradoxo
Um diálogo impossível.
Quando era pequeno, nem sei se já andaria na escola primária, calhou o tópico ser a atirar para o filosófico. Não estou a falar de metafísica dos costumes nem da morte de deus.
Nem sei como, nem porquê. Começou um diálogo em que me disseste uma das frases mais importantes da minha vida:
- "Duarte, tudo tem o seu lado bom e mau. Tudo. Pensa na dinamite. Tu ouves falar da dinamite quando se fala de tragédias. Gente que morre com a dinamite. Mas pensa lá no jeito que aquilo dá para derrubar aqueles prédios velhos, que dão espaços a novos. Pensa no jeito que dá ao pessoal que trabalha em pedreiras e precisa daquele poder de explosão. Pensa nos progressos que se puderam fazer graças à dinamite."
Não contente com aquela conclusão, fui perguntando se determinada coisa ou pessoa tinha lado bom, ou só bom ou só mau. Respondeste sempre com distinção, encontrando sempre o lado bom e mau em tudo e todos.
Ainda que não saibas, esse foi sempre o meu lema de vida, desde aquele momento: tudo tem o seu lado bom e mau.
Até que foste visitar o teu irmão. O Dionísio. A tua mãe.
Ainda se mantém a opinião? Que bondade se tira dessa tua viagem? Que bem te veio, que benesse caiu sobre nós?
Tornou-se impossível ver o bem na partida de alguém. Para mim, pelo menos.
Não deixará de ser o meu lema, mas lembrar-me-ei que toda a regra tem uma exceção.
Assim, teremos uma exceção para uma pessoa excecional.
Quando era pequeno, nem sei se já andaria na escola primária, calhou o tópico ser a atirar para o filosófico. Não estou a falar de metafísica dos costumes nem da morte de deus.
Nem sei como, nem porquê. Começou um diálogo em que me disseste uma das frases mais importantes da minha vida:
- "Duarte, tudo tem o seu lado bom e mau. Tudo. Pensa na dinamite. Tu ouves falar da dinamite quando se fala de tragédias. Gente que morre com a dinamite. Mas pensa lá no jeito que aquilo dá para derrubar aqueles prédios velhos, que dão espaços a novos. Pensa no jeito que dá ao pessoal que trabalha em pedreiras e precisa daquele poder de explosão. Pensa nos progressos que se puderam fazer graças à dinamite."
Não contente com aquela conclusão, fui perguntando se determinada coisa ou pessoa tinha lado bom, ou só bom ou só mau. Respondeste sempre com distinção, encontrando sempre o lado bom e mau em tudo e todos.
Ainda que não saibas, esse foi sempre o meu lema de vida, desde aquele momento: tudo tem o seu lado bom e mau.
Até que foste visitar o teu irmão. O Dionísio. A tua mãe.
Ainda se mantém a opinião? Que bondade se tira dessa tua viagem? Que bem te veio, que benesse caiu sobre nós?
Tornou-se impossível ver o bem na partida de alguém. Para mim, pelo menos.
Não deixará de ser o meu lema, mas lembrar-me-ei que toda a regra tem uma exceção.
Assim, teremos uma exceção para uma pessoa excecional.
terça-feira, outubro 22, 2013
Acabei de ler vários posts que escrevi, neste espaço.
Duas conclusões:
- Lembro-me de todos os momentos que pude aflorar ou abordar;
- O blogue devia chamar-se "Declarações para memória futura".
O momento mais curioso destes minutos talvez seja um post já com dois ou três anos que relata uma pequena história que me deixou a pensar uns dias.
A pouco e pouco vamos interiorizando aquela célebre cançoneta do Sérgio Godinho: A vida é feita de pequenos nadas.
Duas conclusões:
- Lembro-me de todos os momentos que pude aflorar ou abordar;
- O blogue devia chamar-se "Declarações para memória futura".
O momento mais curioso destes minutos talvez seja um post já com dois ou três anos que relata uma pequena história que me deixou a pensar uns dias.
A pouco e pouco vamos interiorizando aquela célebre cançoneta do Sérgio Godinho: A vida é feita de pequenos nadas.
segunda-feira, outubro 14, 2013
Jovens Diplomados
Quatro anos depois de ter concluindo a minha licenciatura, chegou o meu diploma.
Se a busca pelo diploma fosse absolutamente formal, em invés de ser uma busca no sentido material, só passados 9 anos desde a entrada na Faculdade teria aquele bocado de papel.
Se a busca pelo diploma fosse absolutamente formal, em invés de ser uma busca no sentido material, só passados 9 anos desde a entrada na Faculdade teria aquele bocado de papel.
sexta-feira, outubro 11, 2013
Qualquer coisa
Passa-se qualquer coisa.
Uma sensação.
Não se dorme tão bem.
Ânsia. Incerteza.
Fica a minha música preferida dos GNR. Nada conhecida. Muito específica. Dada à interpretações.
quinta-feira, outubro 10, 2013
A vida continua ou sic transit gloria mundi
Noel Gallagher - Stop Crying Your Heart Out [Acoustic Live]
quinta-feira, outubro 03, 2013
O Problema do luto
O luto traz, desde logo, um problema. Quando ele chegou, alguém saiu. Mas o que quero dizer não fica por aqui.
Nesse momento de sofrimento, em que queremos parar, pensar e lembrar tudo quanto de bom nos trouxe o ausente, precisamos, acima de tudo, de tempo.
E tempo não temos.
O tempo é consumido pelo trabalho, pelas obrigações, pelas outras necessidades.
O nosso tempo de lembrança situa-se entre o trabalho e casa, naquele exíguo caminho.
Situa-se entre o momento em que acabamos de jantar e nos sentamos, a ver a novela.
Só voltam as memórias antes de dormir. Depois de apagadas as luzes.
Quem partiu está ali, connosco, até que se fecham os olhos.
O que é pouco. O que é nada.
Nesse momento de sofrimento, em que queremos parar, pensar e lembrar tudo quanto de bom nos trouxe o ausente, precisamos, acima de tudo, de tempo.
E tempo não temos.
O tempo é consumido pelo trabalho, pelas obrigações, pelas outras necessidades.
O nosso tempo de lembrança situa-se entre o trabalho e casa, naquele exíguo caminho.
Situa-se entre o momento em que acabamos de jantar e nos sentamos, a ver a novela.
Só voltam as memórias antes de dormir. Depois de apagadas as luzes.
Quem partiu está ali, connosco, até que se fecham os olhos.
O que é pouco. O que é nada.
terça-feira, setembro 17, 2013
Concluindo
Naquele magnífico filme que é Kill Bill, a Noiva, a páginas tantas, está num restaurante para riscar mais um nome da lista.
A visada é uma chefe da máfia local e, et pour cause, a Noiva tem de despachar meia tropa fandanga de ninjas para almejar poder dar a conhecer a sua Hattori Hanzo à "BossA".
Depois de aviar o pessoal que lá estava, oponente e oposta olham-se nos olhos e a vingadora pensa que tem caminho aberto para lograr o desiderato.
Até que ouve uns motores...eram mais uns cinquenta macacos para alimentar.
Só depois desses poderia haver qualquer coisa parecida com uma luta mano-a-mano entre ambas.
Ouvidos os motores, diz a tal chefe, de nome O-Ren Ishii:
- Pensaste que era assim tão fácil?
Resposta:
- Sabes, por um momento, sim, parece que pensei.
E é isto.
A visada é uma chefe da máfia local e, et pour cause, a Noiva tem de despachar meia tropa fandanga de ninjas para almejar poder dar a conhecer a sua Hattori Hanzo à "BossA".
Depois de aviar o pessoal que lá estava, oponente e oposta olham-se nos olhos e a vingadora pensa que tem caminho aberto para lograr o desiderato.
Até que ouve uns motores...eram mais uns cinquenta macacos para alimentar.
Só depois desses poderia haver qualquer coisa parecida com uma luta mano-a-mano entre ambas.
Ouvidos os motores, diz a tal chefe, de nome O-Ren Ishii:
- Pensaste que era assim tão fácil?
Resposta:
- Sabes, por um momento, sim, parece que pensei.
E é isto.
quarta-feira, setembro 11, 2013
Férias
Já acabaram.
Um dia antes de entrar de férias, uma significativa parte do mundo, como a conheço, começou a desabar.
Claro, a vida não acabou. Ficou mais triste.
O ano judicial (aquele que me diz particularmente respeito) abre carregado de angustia.
Só posso esperar que, de alguma maneira, melhore.
Um dia antes de entrar de férias, uma significativa parte do mundo, como a conheço, começou a desabar.
Claro, a vida não acabou. Ficou mais triste.
O ano judicial (aquele que me diz particularmente respeito) abre carregado de angustia.
Só posso esperar que, de alguma maneira, melhore.
quinta-feira, agosto 08, 2013
David Fincher
Constatando que este espaço latrínico está sem ação há algum tempo, decidi apurar quais os habituais temas e tópicos que tenho vindo a abordar, de forma a poder dar algum seguimento, sob pena de esta colossal obra que diariamente construo ser desmantelada e cair, inevitavelmente, no esquecimentoo.
Confesso que me assustei.
É que, há pouco dias, vi aquele monumental filme que é o Seven - Sete Pecados Mortais, do David Fincher, com Brad e Morgan nos papeis.
Pois bem, a páginas tantas, os detetives dão com o domicílio do assassino e entram no dito. Ao fazê-lo, encontram uma pluralidade de bens, de entre os quais se destacam uns milhares de cadernos com apontamentos.
Caros, eu podia ter escrito aqueles cadernos e o John Doe, o tal assassino do filme, podia ser este blogger que vos endereça estas palavras.
E isto, para mim, é o chamado "issue".
Note-se: este texto, que ora finalizo, podia ser da autoria do Johnzinho.
Medo.
Confesso que me assustei.
É que, há pouco dias, vi aquele monumental filme que é o Seven - Sete Pecados Mortais, do David Fincher, com Brad e Morgan nos papeis.
Pois bem, a páginas tantas, os detetives dão com o domicílio do assassino e entram no dito. Ao fazê-lo, encontram uma pluralidade de bens, de entre os quais se destacam uns milhares de cadernos com apontamentos.
Caros, eu podia ter escrito aqueles cadernos e o John Doe, o tal assassino do filme, podia ser este blogger que vos endereça estas palavras.
E isto, para mim, é o chamado "issue".
Note-se: este texto, que ora finalizo, podia ser da autoria do Johnzinho.
Medo.
sexta-feira, junho 21, 2013
Um momento!
O triste no meio disto, e depois de pensar um bocado sobre o que Chico Buarque está a cantar, é que, quando chega mesma o último dia ninguém sente, ninguém sabe.
Ninguém acorda e diz: "epá, isto, hoje, acaba".
Disse que é triste, mas se calhar nem tanto. Numa qualquer confluência cósmica ficou decidido que o último dia é surpresa, como o Kinder.
É agradável pensar que nada é por acaso. E o "fim" é tudo menos acaso. E, como se disse, ninguém sabe quando chega, o que faz do acontecimento o oposto do acaso.
quarta-feira, junho 19, 2013
A meio caminho da estatuição da norma
A união de facto é a situação jurídica de duas pessoas que, independentemente do sexo, vivam em condições análogas às dos cônjuges há mais de dois anos.
Artigo 1.º, n.º 2 da Lei da União de Facto
Pois um ano já passou.
Curiosamente, foi exactamente aquilo que pensava que seria.
E foi, creio, porque conhecia bem quem comigo passou a partilhar os espaços e intimidades (intimidade no sentido escatológico, bem entendido).
Naturalmente, há danos colateriais.
Passei, como tantos me disseram, dizem e dirão, a ter "corpo de homem casado". Não é um elogio.
O bom disto e o que, ao fim e ao cabo, me faz continuar, é o processo de contínua aprendizagem sobre aquela que comigo vive em "condições análogas às dos cônjuges" (que termo infeliz). Aprender com ela é também aprender um bocado sobre o que sou, porém, com uma diferença.
O que se aprende dela é bom.
Acabo de perceber isto
A sorte é um acontecimento.
Um acontecimento que ocorre quando dele precisamos, mas em que as probabilidades de ele ocorrer são perto de zero.
A minha sorte era chegar uma proposta. Um pedido. Qualquer coisa que trouxesse alternativa.
Aguardam-se os dias em que poderei dizer que estes anos foram os piores da minha vida.
Entretanto, só posso mesmo dizer que são.
Um acontecimento que ocorre quando dele precisamos, mas em que as probabilidades de ele ocorrer são perto de zero.
A minha sorte era chegar uma proposta. Um pedido. Qualquer coisa que trouxesse alternativa.
Aguardam-se os dias em que poderei dizer que estes anos foram os piores da minha vida.
Entretanto, só posso mesmo dizer que são.
segunda-feira, junho 17, 2013
Uma composição para a escola primária
Menino Bloggerzinho, para amanhã terá de fazer uma composição em que fale dos seguintes temas:
- Malucos;
- Ilusão;
- Malucos;
- Trabalho;
- Indiferença;
- Malucos
Era uma vez um tatazio.
Agora a sério.
Chego. Mais cedo do que é costume. Vinha de uma diligência.
No local onde exerço as minhas funções, existe uma peça chamada, carinhosamente, "folha de obra". A "folha de obra" mais não é que um registo obrigatório das tarefas desempenhadas, incluindo cliente, processo e tempo dispendido.
Há que entregá-la todos os dias, devidamente preenchida. Este menino não entrega a sua há dois dias. Um verdadeiro escândalo.
O chefe teve para comigo alguma palavra? Não. O chefe importa-se muito? Pouco? Nada.
Então, o que te faz escrever, menino?
Chego. Mais cedo do que é costume. Vinha de uma diligência.
Vem até mim um tatatazio.
"É por causa das folhas?"
"É. Mas não é só isso".
"'Tão?"
"Tu não andas bem."
"Não ando bem?"
"Não. Há qualquer coisa".
"O quê?"
"Epá, tu andas a isolar-te."
(Pausa para silêncio dramático)
"Ando a isolar-me?"
"Andas. Antigamente, andavas sempre por aí, fazias piadas, metias-te com o pessoal. Agora não. Sentas-te, estás com o "fónes" postos a ouvir música. Não é normal".
(Pausa para aguentar o riso)
"Pois, oh coiso (inserir outro nome), epá, ajuda a concentrar-me ter um ruído..."
"Mas é que tu não foste sempre assim" (Ele que me conhece há tantos anos...)
"Fui, coisinho, fui..."
"É que eu tou na psicanálise e sei ver essas coisas. Eu próprio já estive como tu. Estás com algum problema na tua vida privada?"
A conversa continuou.
Agradeci do fundo do meu coração a preocupação. No meio, foi dizendo que era fundamental para ele ter equipas motivadas e que isso, para ele, era tudo.
Só posso concluir que fui alvo de uma intervenção.
E fui alvo de uma intervenção porque não lhe entreguei as "Folhas de Obra".
Que castigo desproporcional.
- Malucos;
- Ilusão;
- Malucos;
- Trabalho;
- Indiferença;
- Malucos
Era uma vez um tatazio.
Agora a sério.
Chego. Mais cedo do que é costume. Vinha de uma diligência.
No local onde exerço as minhas funções, existe uma peça chamada, carinhosamente, "folha de obra". A "folha de obra" mais não é que um registo obrigatório das tarefas desempenhadas, incluindo cliente, processo e tempo dispendido.
Há que entregá-la todos os dias, devidamente preenchida. Este menino não entrega a sua há dois dias. Um verdadeiro escândalo.
O chefe teve para comigo alguma palavra? Não. O chefe importa-se muito? Pouco? Nada.
Então, o que te faz escrever, menino?
Chego. Mais cedo do que é costume. Vinha de uma diligência.
Vem até mim um tatatazio.
"É por causa das folhas?"
"É. Mas não é só isso".
"'Tão?"
"Tu não andas bem."
"Não ando bem?"
"Não. Há qualquer coisa".
"O quê?"
"Epá, tu andas a isolar-te."
(Pausa para silêncio dramático)
"Ando a isolar-me?"
"Andas. Antigamente, andavas sempre por aí, fazias piadas, metias-te com o pessoal. Agora não. Sentas-te, estás com o "fónes" postos a ouvir música. Não é normal".
(Pausa para aguentar o riso)
"Pois, oh coiso (inserir outro nome), epá, ajuda a concentrar-me ter um ruído..."
"Mas é que tu não foste sempre assim" (Ele que me conhece há tantos anos...)
"Fui, coisinho, fui..."
"É que eu tou na psicanálise e sei ver essas coisas. Eu próprio já estive como tu. Estás com algum problema na tua vida privada?"
A conversa continuou.
Agradeci do fundo do meu coração a preocupação. No meio, foi dizendo que era fundamental para ele ter equipas motivadas e que isso, para ele, era tudo.
Só posso concluir que fui alvo de uma intervenção.
E fui alvo de uma intervenção porque não lhe entreguei as "Folhas de Obra".
Que castigo desproporcional.
quinta-feira, junho 13, 2013
Dias importantes
É o dia de aniversário.
Meu? Teu?
Sendo de quem é, é um pouco o dia de aniversário, pelo menos, de duas pessoas.
Não que se celebrem os anos de vida: porque a ela se devem os mesmos.
E não só porque a ela se devem os mesmos: porque ela os fez ótimos.
E não só porque ela os fez ótimos: porque os fez à sua imagem.
Parabéns.!
Meu? Teu?
Sendo de quem é, é um pouco o dia de aniversário, pelo menos, de duas pessoas.
Não que se celebrem os anos de vida: porque a ela se devem os mesmos.
E não só porque a ela se devem os mesmos: porque ela os fez ótimos.
E não só porque ela os fez ótimos: porque os fez à sua imagem.
Parabéns.!
Contributo para uma noção
Cinco anos cinco.
Aulas, práticas e teóricas, horas incalculáveis em bibliotecas e salas de estudo.
Bocas, vitórias, derrotas.
Testes. Stress.
Trabalha-se para uma causa, com um objectivo: chegar-se um lugar, criar-se uma posição.
Hoje, há que confessar que nunca vi tanto trabalho e especialização deitada à rua.
Culpa?
Minha.
Aulas, práticas e teóricas, horas incalculáveis em bibliotecas e salas de estudo.
Bocas, vitórias, derrotas.
Testes. Stress.
Trabalha-se para uma causa, com um objectivo: chegar-se um lugar, criar-se uma posição.
Hoje, há que confessar que nunca vi tanto trabalho e especialização deitada à rua.
Culpa?
Minha.
terça-feira, junho 04, 2013
segunda-feira, junho 03, 2013
Algumas Segundas
Proliferam as imagens alusivas à temática capitalista-laboral da Segunda-Feira.
Normalmente, há gente com olheiras, sono e elementos afins.
Durante uma boa parte da minha vida, acompanhava o espírito social relativo ao primeiro dia útil da semana.
Agora, não.
A grande diferença do "antes e do depois" é a tristeza patente no início da semana.
Nunca me incomodou física nem psicologicamente voltar ao trabalho. Custava, é certo, mas era sempre uma maneira de rever os meus amigos.
Agora, não.
Enfim, o trabalho não é nada como o resto da vida.
Como dizia o Bruno Nogueira, no "Último a Sair", para a Lucy: "O mundo não é só isto. O mundo é bué cenas."
Normalmente, há gente com olheiras, sono e elementos afins.
Durante uma boa parte da minha vida, acompanhava o espírito social relativo ao primeiro dia útil da semana.
Agora, não.
A grande diferença do "antes e do depois" é a tristeza patente no início da semana.
Nunca me incomodou física nem psicologicamente voltar ao trabalho. Custava, é certo, mas era sempre uma maneira de rever os meus amigos.
Agora, não.
Enfim, o trabalho não é nada como o resto da vida.
Como dizia o Bruno Nogueira, no "Último a Sair", para a Lucy: "O mundo não é só isto. O mundo é bué cenas."
quinta-feira, maio 30, 2013
Cenas de Advogado (Ou, por outra, aprendiz de...)
"Uma vez estive uma manhã inteira para chegar a um acordo e não se alcançou o dito por causa de uma frase".
segunda-feira, maio 27, 2013
segunda-feira, maio 20, 2013
A intimidade
Para uma definição: cá está ela.
Enquanto qualidade daquilo que é íntimo, a intimidade é, na minha modesta opinião, uma última barreira.
Do grande princípio da confiança que norteia toda e qualquer relação, seja pessoal ou jurídica (mesmo!), que não convém violar, deriva a defesa da intimidade.
Essa defesa faz-se das mais diversas formas.
Por um lado, não propagandeando o que nela existe, e por outro, decisivo, fazendo dela um círculo privilegiado de conversa, debate, avanço.
Num plano algo diferente deste, temos a conversa da treta.
A conversa da treta surge como uma das mais fantásticas criações da natureza. Qualquer ser-humano tem capacidade da produzir, de a fazer alastrar, até de a defender.
Certo dia, a conversa da treta e a intimidade encontraram-se.
Digamos, para jogar uma bisca lambida.
Como não são pessoas, não falaram uma com a outra.
Nem jogaram às cartas.
Porém, a mera hipótese metafórica de um encontro entre um substantivo e uma expressão faz logo antever que está na própria rerum natura a total antitese.
A moral da história não é o gelado ser de morango.
Quando se misturam realidades incomunicáveis é estúpido.
E o que é estúpido é só estúpido ou poderá resultar, ainda, na moagem mental.
E a mente não é materia prima para fazer pão.
Enquanto qualidade daquilo que é íntimo, a intimidade é, na minha modesta opinião, uma última barreira.
Do grande princípio da confiança que norteia toda e qualquer relação, seja pessoal ou jurídica (mesmo!), que não convém violar, deriva a defesa da intimidade.
Essa defesa faz-se das mais diversas formas.
Por um lado, não propagandeando o que nela existe, e por outro, decisivo, fazendo dela um círculo privilegiado de conversa, debate, avanço.
Num plano algo diferente deste, temos a conversa da treta.
A conversa da treta surge como uma das mais fantásticas criações da natureza. Qualquer ser-humano tem capacidade da produzir, de a fazer alastrar, até de a defender.
Certo dia, a conversa da treta e a intimidade encontraram-se.
Digamos, para jogar uma bisca lambida.
Como não são pessoas, não falaram uma com a outra.
Nem jogaram às cartas.
Porém, a mera hipótese metafórica de um encontro entre um substantivo e uma expressão faz logo antever que está na própria rerum natura a total antitese.
A moral da história não é o gelado ser de morango.
Quando se misturam realidades incomunicáveis é estúpido.
E o que é estúpido é só estúpido ou poderá resultar, ainda, na moagem mental.
E a mente não é materia prima para fazer pão.
segunda-feira, maio 06, 2013
Dicionário
Patrão
s. m.
1.
Chefe de uma empresa industrial ou comercial.
2.
Qualquer pessoa em relação aos que a servem.
3.
Amo.
4.
Comandante de barco.
=
ARRAIS, MESTRE
5.
Patrono.
6.
[Antigo]
Padrão.
7. Pessoa a quem não se pode mandar para o caralho que a foda.
segunda-feira, abril 29, 2013
Labores del Hogar
Trata-se de uma revista cuja resistência ao tempo é teste que não sei se passou.
A trabalhar num determinado tipo de peça processual, dou comigo a somar os despojos do dia.
E ainda são só cinco da tarde.
Neste momento, tenho dois patrões.
Agora, estou sujeito aos registos temporais.
Por enquanto, só tenho dúvidas na minha cabeça.
Por que raio havia de estar a viver num momento de crise?
Quanto tempo demora uma peça processual?
Quanto tempo?
Por que razão estou confinado a isto?
Odeio fazer perguntas.
Não gosto do que faço.
Não faço o que gosto.
Pior: pareço uma pita maluca com poesia de casa de banho.
É isso.
Uma pita maluca.
A trabalhar num determinado tipo de peça processual, dou comigo a somar os despojos do dia.
E ainda são só cinco da tarde.
Neste momento, tenho dois patrões.
Agora, estou sujeito aos registos temporais.
Por enquanto, só tenho dúvidas na minha cabeça.
Por que raio havia de estar a viver num momento de crise?
Quanto tempo demora uma peça processual?
Quanto tempo?
Por que razão estou confinado a isto?
Odeio fazer perguntas.
Não gosto do que faço.
Não faço o que gosto.
Pior: pareço uma pita maluca com poesia de casa de banho.
É isso.
Uma pita maluca.
quarta-feira, abril 24, 2013
Ao serviço do mal
Ando a ler, aqui e ali, (mais ali do que aqui) um livro interessante chamado a Nova Teoria do Mal, de Miguel Real.
A complexidade das linhas é clara: começa por uma análise ao funcionamento do cérebro, vai desenvolvendo, até concluir (e nisto estou a ser parcimonioso) que a face do mal são os economistas.
Ainda agora, dei comigo a ouvir o Animal dos R.E.M.
Claro que todas estas referências de pequeno-burguês não significariam nada, não fosse o trabalho que, neste exacto momento, estou a desempenhar.
E que trabalho é esse?
Tentar safar um cliente (também pequeno) que denunciou um contrato a termo que, digamos, não cumpria com os requisitos legais.
A trabalhadora veio impugnar aquilo tudo.
Há que contestar.
Calhou-me.
Nada de más interpretações: gosto muito deste tipo de serviço.
Por outro lado, foi precisamente por isto que não quis ser advogado.
A complexidade das linhas é clara: começa por uma análise ao funcionamento do cérebro, vai desenvolvendo, até concluir (e nisto estou a ser parcimonioso) que a face do mal são os economistas.
Ainda agora, dei comigo a ouvir o Animal dos R.E.M.
Claro que todas estas referências de pequeno-burguês não significariam nada, não fosse o trabalho que, neste exacto momento, estou a desempenhar.
E que trabalho é esse?
Tentar safar um cliente (também pequeno) que denunciou um contrato a termo que, digamos, não cumpria com os requisitos legais.
A trabalhadora veio impugnar aquilo tudo.
Há que contestar.
Calhou-me.
Nada de más interpretações: gosto muito deste tipo de serviço.
Por outro lado, foi precisamente por isto que não quis ser advogado.
quarta-feira, abril 17, 2013
Um certo de tipo de calor
Cheira a trovoada.
Quando a dita cuja está para rebentar, o dia que a antecede é sempre especial.
Há um certo tipo de calor a pairar. Alguma poeira, até. O céu configura-se como se estivesse para parir qualquer espécie de matéria que, dali a umas horas, sabemos qual é.
Por norma, são dias tranquilos. Passa-se pouco, ou nada.
Na verdade, até as conversas são feitas na base da previsão do estado do tempo.
- "Hmmmm, cheira a trovoada."
- "Ahnnnn, pois é, pois é".
Depois de um prazeroso espetáculo a que tive o privilégio de assistir, regressei à chamada "residência habitual".
Como faço (sempre), liguei a televisão. Na RTP2 passava um filme que sempre me agradou, pelos mais diversos motivos: O Frenético.
Quis o acaso que a acção estivesse na cena em que os personagens protagonistas estão num clube privado. Eis que toca Strange, interpretado por Grace Jones (em português, Graça Jonas).
Há dança.
Por alguma razão que alguma ciência algum dia explicará, cheirou-me a trovoada.
Ali, naquela cena específica, está uma metáfora. Mais do que uma metáfora, naquele filme, a cena acaba por ser premonitória de um final semi-trágico.
Ou seja, uma espécie de santíssima trindade que não o é: trovoada, metáfora e tragédia (e aqui é que falha o entendimento: a trovoada é, em si mesmo, uma metáfora para a tragédia. Ora, a trovoada é metáfora para tragédia. Em fim e ao cabo, nem santíssima trindade, nem abençoado duo: é tudo a mesma coisa).
Fica aqui parte importante da banda sonora.
Quando a dita cuja está para rebentar, o dia que a antecede é sempre especial.
Há um certo tipo de calor a pairar. Alguma poeira, até. O céu configura-se como se estivesse para parir qualquer espécie de matéria que, dali a umas horas, sabemos qual é.
Por norma, são dias tranquilos. Passa-se pouco, ou nada.
Na verdade, até as conversas são feitas na base da previsão do estado do tempo.
- "Hmmmm, cheira a trovoada."
- "Ahnnnn, pois é, pois é".
Depois de um prazeroso espetáculo a que tive o privilégio de assistir, regressei à chamada "residência habitual".
Como faço (sempre), liguei a televisão. Na RTP2 passava um filme que sempre me agradou, pelos mais diversos motivos: O Frenético.
Quis o acaso que a acção estivesse na cena em que os personagens protagonistas estão num clube privado. Eis que toca Strange, interpretado por Grace Jones (em português, Graça Jonas).
Há dança.
Por alguma razão que alguma ciência algum dia explicará, cheirou-me a trovoada.
Ali, naquela cena específica, está uma metáfora. Mais do que uma metáfora, naquele filme, a cena acaba por ser premonitória de um final semi-trágico.
Ou seja, uma espécie de santíssima trindade que não o é: trovoada, metáfora e tragédia (e aqui é que falha o entendimento: a trovoada é, em si mesmo, uma metáfora para a tragédia. Ora, a trovoada é metáfora para tragédia. Em fim e ao cabo, nem santíssima trindade, nem abençoado duo: é tudo a mesma coisa).
Fica aqui parte importante da banda sonora.
terça-feira, abril 02, 2013
Gostos e Desgostos
Desta vez, qualquer coisa mais pessoal.
Ainda no dia de hoje, o Sporting Clube de Portugal derrotou o Sporting Clube de Braga por 2-3 no estádio municipal de Braga.
É uma dia feliz, tendo em conta que as vitórias e o el contado têm escasseado por Alvalade.
Neste mesmo dia, uma das multiplas vergonhas do meu clube, Dias Ferreira, abandonou o espaço de comentário televisivo, o Dia Seguinte.
Saiu a dizer: "Não gosto de si", respondendo ao moderador que lhe dizia que não gostava de ver o de costas para a mesa.
Pela segunda (penso eu) vez na história televisiva, aquele homem sai de um programa televisivo aos berros.
Concluindo: não há dias perfeitos na história do SCP, porém, abundam os dias ferreiras.
Ainda no dia de hoje, o Sporting Clube de Portugal derrotou o Sporting Clube de Braga por 2-3 no estádio municipal de Braga.
É uma dia feliz, tendo em conta que as vitórias e o el contado têm escasseado por Alvalade.
Neste mesmo dia, uma das multiplas vergonhas do meu clube, Dias Ferreira, abandonou o espaço de comentário televisivo, o Dia Seguinte.
Saiu a dizer: "Não gosto de si", respondendo ao moderador que lhe dizia que não gostava de ver o de costas para a mesa.
Pela segunda (penso eu) vez na história televisiva, aquele homem sai de um programa televisivo aos berros.
Concluindo: não há dias perfeitos na história do SCP, porém, abundam os dias ferreiras.
segunda-feira, março 25, 2013
Decadência
Ou erosão.
O título podia ser uma outra palavra.
Vamos, então, para a decadência.
A convivência entre os semelhantes é feita de diversos componentes. Em primeiro lugar, a meu ver, a mera coexistência e partilha do mesmo espaço depende da tolêrancia que temos para com as diferenças do próximo.
Da mesma forma, nasce amizade quando muito mais é aquilo que une do que aquilo que nos separa, uma vez mais, do próximo.
As amizades, aquelas dignas desse nome, resistem bem ao tempo e, independentemente do tempo que passe entre a última vez que se viu um amigo e aquela vez em que se dá o reencontro, tudo está na mesma, com a mesma confiança e conforto que houve desde sempre.
Então, poder-se-á dar o caso de haver uma decadência de tão forte companheirismo?
Claro.
Lamentavelmente, constato que o tempo e respectivo decurso, devidamente acompanhado de episódios menos felizes, produz um fenómeno de afastamento progressivo e decadência naquilo que era algo bastante decente.
Isto é um dado meramente empírico ao qual os líricos responderão qualquer coisa como: "Pá, se forem mesmo grandes amigos, o tempo não significa nada".
Mas significa.
Thats a bitch.
O título podia ser uma outra palavra.
Vamos, então, para a decadência.
A convivência entre os semelhantes é feita de diversos componentes. Em primeiro lugar, a meu ver, a mera coexistência e partilha do mesmo espaço depende da tolêrancia que temos para com as diferenças do próximo.
Da mesma forma, nasce amizade quando muito mais é aquilo que une do que aquilo que nos separa, uma vez mais, do próximo.
As amizades, aquelas dignas desse nome, resistem bem ao tempo e, independentemente do tempo que passe entre a última vez que se viu um amigo e aquela vez em que se dá o reencontro, tudo está na mesma, com a mesma confiança e conforto que houve desde sempre.
Então, poder-se-á dar o caso de haver uma decadência de tão forte companheirismo?
Claro.
Lamentavelmente, constato que o tempo e respectivo decurso, devidamente acompanhado de episódios menos felizes, produz um fenómeno de afastamento progressivo e decadência naquilo que era algo bastante decente.
Isto é um dado meramente empírico ao qual os líricos responderão qualquer coisa como: "Pá, se forem mesmo grandes amigos, o tempo não significa nada".
Mas significa.
Thats a bitch.
terça-feira, março 12, 2013
O sustentável peso da inexistência
Por várias vezes a ficção literária, televisiva e cinematográfica (que são as que conheço) tentou criar o cenário perfeito da antítese.
Isto é, tentou pôr o mundo do avesso, apresentar o caos, a discórdia, a incerteza, insegurança, a vida depois da morte e a morte como início da vida.
A vida real, como sempre, como dantes, já cantava o Camané, mete a ficção no chinelo.
O mundo, a certas horas do dia, em certos dias do mês, em certas épocas do ano, vira.
Vira sem aviso, vira de repente.
E depois volta ao normal, àquilo que antes era. Uma vezes tão depressa como virou e outras vezes com variações ritmadas a interromper o processo de retoma, de regresso.
A teoria geral disto que digo está na própria concepção de natureza, de biologia.
Está "escarrapachada" nas burlas aos velhotes, quando eles, enciclopédias vivas, já deviam saber mais a dormir que um batalhão de burlões acordado.
Está patente no declínio de civilizações milenares, fortes, cultas e preparadas: gregos, romanos, incas, por exemplo.
Está na morte de um filho, quando os pais estão no seu velório.
Em todos estes casos, o mundo virou.
Como virou o meu, ainda que por minutos, ainda hoje.
Isto é, tentou pôr o mundo do avesso, apresentar o caos, a discórdia, a incerteza, insegurança, a vida depois da morte e a morte como início da vida.
A vida real, como sempre, como dantes, já cantava o Camané, mete a ficção no chinelo.
O mundo, a certas horas do dia, em certos dias do mês, em certas épocas do ano, vira.
Vira sem aviso, vira de repente.
E depois volta ao normal, àquilo que antes era. Uma vezes tão depressa como virou e outras vezes com variações ritmadas a interromper o processo de retoma, de regresso.
A teoria geral disto que digo está na própria concepção de natureza, de biologia.
Está "escarrapachada" nas burlas aos velhotes, quando eles, enciclopédias vivas, já deviam saber mais a dormir que um batalhão de burlões acordado.
Está patente no declínio de civilizações milenares, fortes, cultas e preparadas: gregos, romanos, incas, por exemplo.
Está na morte de um filho, quando os pais estão no seu velório.
Em todos estes casos, o mundo virou.
Como virou o meu, ainda que por minutos, ainda hoje.
sexta-feira, março 08, 2013
Confluência
O canal Q está na Zon.
Eu sou subscritor da Zon.
Posso ver o Canal Q.
Foi o que fiz.
Ontem, volta da meia noite, meia-noite menos dez, no eterno zapping que efectivamente exerço, parei no supra citado Canal Q.
No ar, o programa "Baseado num história verídica". O Convidado era o Herman José.
Herman José é inevitavelmente inteligente. Chegou onde quis, fez o que lhe apeteceu e, como toda a gente, teve um azar, o de ser "metido" no saco Casa Pia, sem que nada o relacionasse com o processo.
Adiante.
Às tantas, o tema vira-se para a alta sociedade. O entrevistador pergunta-lhe qual o fascínio por ela.
Sai qualquer coisa como isto: "Tu já viste a vida dos pobres? O pobre tem de escolher se vai para a cama, ou se fica a ver televisão; se vai comer ou vai cagar; se vai passear ou fica em casa. Imagina a casa do Ricardo Salgado, aquilo deve ser um glamour. Ele com os filhos, milhões de assuntos. Agora, põe, nisso, um escândalo, uns cornos, a chiquérrima a apaixonar-se pelo Jardineiro. É totalmente diferente" (As palavras podem não ter sido exactamente estas).
Naquela altura, estava a ver televisão, não tinha fome e estava escuro para passear.
Eu sou subscritor da Zon.
Posso ver o Canal Q.
Foi o que fiz.
Ontem, volta da meia noite, meia-noite menos dez, no eterno zapping que efectivamente exerço, parei no supra citado Canal Q.
No ar, o programa "Baseado num história verídica". O Convidado era o Herman José.
Herman José é inevitavelmente inteligente. Chegou onde quis, fez o que lhe apeteceu e, como toda a gente, teve um azar, o de ser "metido" no saco Casa Pia, sem que nada o relacionasse com o processo.
Adiante.
Às tantas, o tema vira-se para a alta sociedade. O entrevistador pergunta-lhe qual o fascínio por ela.
Sai qualquer coisa como isto: "Tu já viste a vida dos pobres? O pobre tem de escolher se vai para a cama, ou se fica a ver televisão; se vai comer ou vai cagar; se vai passear ou fica em casa. Imagina a casa do Ricardo Salgado, aquilo deve ser um glamour. Ele com os filhos, milhões de assuntos. Agora, põe, nisso, um escândalo, uns cornos, a chiquérrima a apaixonar-se pelo Jardineiro. É totalmente diferente" (As palavras podem não ter sido exactamente estas).
Naquela altura, estava a ver televisão, não tinha fome e estava escuro para passear.
segunda-feira, março 04, 2013
Momento meramente académico
Estava a pensar (seriamente, diga-se) encetar uma obra: A Teoria Geral do Limite.
Seria, como o próprio nome indica, um livro com múltiplos tomos e volumes. Teria de abranger várias áreas e inter-ligar ciências e crenças.
O objectivo final seria perceber quando se traça o limite.
Hoje, desisti dessa ideia.
Traçar o limite é a coisa mais fácil deste mundo e do outro.
Problema, aqui, são as consequências. Se cada um está preparado, ou não, para lidar com o que vem a seguir da violação do limite.
E como lida?
E o que vem a seguir?
São incógnitas a mais.
Resta, como sempre, a vontade. Essa é certa como a morte: violado o limite, o fim mais simpático para quem o violou seria a incineração.
Mas a vontade não passa dela própria.
Sob pena de cadeia.
Sob pena de fome.
A terminar, lembrei-me de uma "passagem" interessante de um belo filme que vi, há dias: "Caro Freddie, quando souberes como hás de viver sem depender de um senhor, avisa-nos" (Era qualquer coisa parecida com isto).
Seria, como o próprio nome indica, um livro com múltiplos tomos e volumes. Teria de abranger várias áreas e inter-ligar ciências e crenças.
O objectivo final seria perceber quando se traça o limite.
Hoje, desisti dessa ideia.
Traçar o limite é a coisa mais fácil deste mundo e do outro.
Problema, aqui, são as consequências. Se cada um está preparado, ou não, para lidar com o que vem a seguir da violação do limite.
E como lida?
E o que vem a seguir?
São incógnitas a mais.
Resta, como sempre, a vontade. Essa é certa como a morte: violado o limite, o fim mais simpático para quem o violou seria a incineração.
Mas a vontade não passa dela própria.
Sob pena de cadeia.
Sob pena de fome.
A terminar, lembrei-me de uma "passagem" interessante de um belo filme que vi, há dias: "Caro Freddie, quando souberes como hás de viver sem depender de um senhor, avisa-nos" (Era qualquer coisa parecida com isto).
quinta-feira, fevereiro 28, 2013
I had the time of my life
É uma música pertencente à banda sonora do filme Dirty Dancing, com Patrick Swayze, entretanto falecido.
Isto a propósito do Silver Linings Playbook.
Modo geral, sou adepto de comédias. Um pouco menos de comédias românticas, como é o caso, mas adepto, ainda assim.
Como em tudo, tanto na vida, como nos filmes, há pequenos factos que distinguem, traçam o destino e formam personalidades e características. Aquela hora certa em que se estava no lugar certo. Aquela compra que valeu o triplo do preço. A pessoa que connosco se cruzou.
No cinema, é menos visível, mas está lá.
A derradeira prova, na minha modesta opinião, pois claro, de que o filme, no género, é superior aos pares reside, precisamente, na cena de dança, em que aquilo não corre conforme ensaio.
Pelo contrário, no Dirty Dancing, o cavalheiro Swayze levanta a parceira com uma limpeza exemplar.
Gostei de ambos os filmes, por razões absolutamente diferentes.
Mas o banal era acontecer tudo certinho, porque o "bem triunfa sempre".
Felizmente, aconteceu um precalço.
Porque só com eles (precalços, bem entendido) se pode dar valor ao finalmente.
Isto a propósito do Silver Linings Playbook.
Modo geral, sou adepto de comédias. Um pouco menos de comédias românticas, como é o caso, mas adepto, ainda assim.
Como em tudo, tanto na vida, como nos filmes, há pequenos factos que distinguem, traçam o destino e formam personalidades e características. Aquela hora certa em que se estava no lugar certo. Aquela compra que valeu o triplo do preço. A pessoa que connosco se cruzou.
No cinema, é menos visível, mas está lá.
A derradeira prova, na minha modesta opinião, pois claro, de que o filme, no género, é superior aos pares reside, precisamente, na cena de dança, em que aquilo não corre conforme ensaio.
Pelo contrário, no Dirty Dancing, o cavalheiro Swayze levanta a parceira com uma limpeza exemplar.
Gostei de ambos os filmes, por razões absolutamente diferentes.
Mas o banal era acontecer tudo certinho, porque o "bem triunfa sempre".
Felizmente, aconteceu um precalço.
Porque só com eles (precalços, bem entendido) se pode dar valor ao finalmente.
segunda-feira, fevereiro 25, 2013
O Bode Respiratório
Parece-me que é uma expressão oriunda dos meios futebolísticos.
Adiante.
Como gosto de cinema, não me incomoda nada, pelo contrário, ver distinguido o cinema de qualidade. Vai daí, há as entregas de prémios.
Realizou-se, nesta madrugada, a entrega dos prémios da academia, os Oscares.
Ao contrário da população geral, até gostei do enquadramento.
Por outro lado, no que aos galardoados diz respeito, nem vou pôr em causa o mérito, que com certeza devem ter.
Irritou-me, bastante, a previsibilidade. Os comentadores da cerimónia, que estiveram bem, raramente falharam num nome, lançando, antes do anúncio oficial, quem era o favorito.
Meu dito, meu feito.
Irrita-me toda a tendência que não seja jurídica. Agrada-me o precedente, a consideração que se tem pela jurisprudência e pelos acordãos uniformizadores de jurisprudência.
No que toca a prémios, e especialmente quando é suposto haver surpresa, prefiro não saber.
Quanto a opiniões pessoais, não vi a Vida de Pi nem o Argo. Porém, tendo adorado o Django, preferia que o boneco fosse para o Tommy Lee Jones e que a Jennifer Lawrence esperasse um bocado mais pela vitória. Uns anos.
Mas, repito, não deixa de ser justo.
Adiante.
Como gosto de cinema, não me incomoda nada, pelo contrário, ver distinguido o cinema de qualidade. Vai daí, há as entregas de prémios.
Realizou-se, nesta madrugada, a entrega dos prémios da academia, os Oscares.
Ao contrário da população geral, até gostei do enquadramento.
Por outro lado, no que aos galardoados diz respeito, nem vou pôr em causa o mérito, que com certeza devem ter.
Irritou-me, bastante, a previsibilidade. Os comentadores da cerimónia, que estiveram bem, raramente falharam num nome, lançando, antes do anúncio oficial, quem era o favorito.
Meu dito, meu feito.
Irrita-me toda a tendência que não seja jurídica. Agrada-me o precedente, a consideração que se tem pela jurisprudência e pelos acordãos uniformizadores de jurisprudência.
No que toca a prémios, e especialmente quando é suposto haver surpresa, prefiro não saber.
Quanto a opiniões pessoais, não vi a Vida de Pi nem o Argo. Porém, tendo adorado o Django, preferia que o boneco fosse para o Tommy Lee Jones e que a Jennifer Lawrence esperasse um bocado mais pela vitória. Uns anos.
Mas, repito, não deixa de ser justo.
quinta-feira, fevereiro 21, 2013
terça-feira, fevereiro 19, 2013
Arrentela vs Brasil
Peguei no calhamaço das fotocópias, meti-o dentro da mala e lá fomos.
Isto foi antes de tudo.
4 horas e meia, quiçá 5 e cerca de 500 mil metros depois, lá chegámos ao destino. Aquela casa, aquele lar "lá para cima".
A proposta de estadia era mista. Gozar e estudar.
Como eu disse, foi antes de tudo.
Infelizmente, nunca tive qualquer problema em exercer o belo ócio. É uma questão central na minha vida. A modesta arte do vegetanço corre-me nas veias. Mas isto é feio de se escrever.
Exercido o ócio, nas suas mais diversas modalidades, cabia enquadrar aritméticamente o estudo.
Sentei-me na cozinha. Abri o calhamaço. Não estive sentado duas horas.
O céu, que se via, estava cinzento. Não chovia. Ouviam-se todos os barulhos. A lareira estava o mais parecido possível com um angelical inferno pessoal.
Fartei-me daquilo. O regime jurídico (termo que só vim a aprofundar mais tarde, a bem da sanidade académica) parecia-me acessível.
Dias depois, por escrito, era pedido que resolvesse uma miriade de questões relacionadas com uma promessa de arrendamento a um casal que, hellas, entretanto se havia divorciado.
A conclusão destas linhas, em forma de memória, é uma: o presente vale tanto como um saco de batatas. Menos, talvez.
Isto foi antes de tudo.
4 horas e meia, quiçá 5 e cerca de 500 mil metros depois, lá chegámos ao destino. Aquela casa, aquele lar "lá para cima".
A proposta de estadia era mista. Gozar e estudar.
Como eu disse, foi antes de tudo.
Infelizmente, nunca tive qualquer problema em exercer o belo ócio. É uma questão central na minha vida. A modesta arte do vegetanço corre-me nas veias. Mas isto é feio de se escrever.
Exercido o ócio, nas suas mais diversas modalidades, cabia enquadrar aritméticamente o estudo.
Sentei-me na cozinha. Abri o calhamaço. Não estive sentado duas horas.
O céu, que se via, estava cinzento. Não chovia. Ouviam-se todos os barulhos. A lareira estava o mais parecido possível com um angelical inferno pessoal.
Fartei-me daquilo. O regime jurídico (termo que só vim a aprofundar mais tarde, a bem da sanidade académica) parecia-me acessível.
Dias depois, por escrito, era pedido que resolvesse uma miriade de questões relacionadas com uma promessa de arrendamento a um casal que, hellas, entretanto se havia divorciado.
A conclusão destas linhas, em forma de memória, é uma: o presente vale tanto como um saco de batatas. Menos, talvez.
segunda-feira, fevereiro 18, 2013
sexta-feira, fevereiro 15, 2013
Da anormalidade
Estava à conversa com o capataz da plantação onde exerço a minha profissão de colector de cana de açucar.
A conversa veio parar ao cinema.
Por alguma razão, e confesso toda a minha estupidez em ter, sequer, começado a trocar verbos com a autoridade, disse-lhe que já não tinha paciência para ir a determinado Centro Comercial ao cinema. Muitos putos, muita berraria, pouco civismo.
É então que o cavalheiro pergunta, profundamente indignado: "Epá, mas que filmes é que vais ver?"
E esperou que eu enumerasse.
Não sei porquê.
É que, com ele, nunca tinha acontecido.
A conversa veio parar ao cinema.
Por alguma razão, e confesso toda a minha estupidez em ter, sequer, começado a trocar verbos com a autoridade, disse-lhe que já não tinha paciência para ir a determinado Centro Comercial ao cinema. Muitos putos, muita berraria, pouco civismo.
É então que o cavalheiro pergunta, profundamente indignado: "Epá, mas que filmes é que vais ver?"
E esperou que eu enumerasse.
Não sei porquê.
É que, com ele, nunca tinha acontecido.
quinta-feira, fevereiro 14, 2013
Dia dos Namorados
Há que ser sempre um bocado profano.
Acordei a pensar em "dicas" ou "frases de engate", algo diferente do piroto do trolha.
Só me lembrei de 3.
"O meu nome é Lindo, porque o Ar já tu mo tiraste".
"Usas cuecas TMN? É que tens um cú que é um mimo" (Muito velha, esta.)
"Caíste? Do céu até cá abaixo deve ser uma bruta queda..."
Acordei a pensar em "dicas" ou "frases de engate", algo diferente do piroto do trolha.
Só me lembrei de 3.
"O meu nome é Lindo, porque o Ar já tu mo tiraste".
"Usas cuecas TMN? É que tens um cú que é um mimo" (Muito velha, esta.)
"Caíste? Do céu até cá abaixo deve ser uma bruta queda..."
quarta-feira, fevereiro 13, 2013
Da tendência de suscitar
É da data.
Cresce a tendência para suscitar.
Desta feita, suscito a lamechice.
Amanhã é dia dos namorados.
Como todas as datas comerciais, gosto dela.
sexta-feira, fevereiro 08, 2013
A propósito de uma "pintura" do Bansky, ou da reconstrução do pensamento desprovido de contexto.
Acordar com a seguinte pergunta: Pode um sonho prescrever?
A prescrição é um termo técnico, jurídico.
Paz, quando a mesma se aplicou sobre um crime.
Sorte, quando se fala dela associada a uma dívida.
Os sonhos prescrevem.
Contratamos com a vida a sua concretização. Não depende dela a melhor execução, muito menos o cumprimento. Depende de cada um.
Nunca será a vida a reclamar judicialmente o cumprimento desse sonho.
Porém, será a primeira a invocar a prescrição, quando bater na consciência individual o falhanço e a ela formos pedir contas.
Para tudo há um tempo.
Até para realização de sonhos.
A prescrição é um termo técnico, jurídico.
Paz, quando a mesma se aplicou sobre um crime.
Sorte, quando se fala dela associada a uma dívida.
Os sonhos prescrevem.
Contratamos com a vida a sua concretização. Não depende dela a melhor execução, muito menos o cumprimento. Depende de cada um.
Nunca será a vida a reclamar judicialmente o cumprimento desse sonho.
Porém, será a primeira a invocar a prescrição, quando bater na consciência individual o falhanço e a ela formos pedir contas.
Para tudo há um tempo.
Até para realização de sonhos.
sexta-feira, fevereiro 01, 2013
O Grande Satã do Ocidente
Vistos dois filmes de Bigelow, no curto espaço de dois dias, deu para pensar.
Quem será o Luis de Stau Monteiro Iraquiano?
Quem será o Luis de Stau Monteiro Iraquiano?
Isto é matemática
Chegado, ontem, a casa, liguei a televisão e estava no ar, na Sic Notícias, um programa chamado "Isto é matemática".
Trata-se de um programa com duração de cerca de 10 minutos, onde se abordam temas da matemática de forma interessante e quotidiana (sim, deve haver uma forma quotidiana de abordagem).
O tema de ontem era "probabilidades". Que melhor par para a dança que o sempre mítico euro-milhões? Pois bem, depois da apresentação crua das probabilidade de ganhar o prémio, vieram as comparações. Uma delas, para mim a melhor, é que, reunidas determinadas condições, não muitas, é mais fácil ser eleito presidente da república do que ganhar o jogo.
Isto explica muita coisa, principalmente a existência de um Cavaco.
Mas, como não podia deixar de ser, havia que extrapolar. Foi o que fiz.
Pensando no universo da probabilidades, chego à triste conclusão que elas são tudo o que nos separa da concretização dos nossos sonhos.
Pensemos naquela ida às Bahamas, com pesca submarina, bungalows com chão em vidro, com toda a fauna marinha colorida logo ali...
...ou na submissão da classe burguesa, personificada no chefe, pela via mais humilhante possível.
Nada disto vai acontecer.
E a razão é só uma: é pouco, pouquíssimo, ou nada provável.
Não é porque, em tese, não haja dinheiro para a viagem. Há. Mas isso implicaria deixar de comer durante 3 meses.
Nem é porque, em tese, não haja armas e gente e instrumentos capazes de submeter o referido chefe às privações que ele merecia. Sucede é que isso é crime. Pode ser feito, e até devia, mas, hellas, não pode ser.
As barreiras legais e económicas sufocam o desejo. Por estarmos condicionados, não significa que não possamos fazer. Quer é dizer que não vamos fazer.
Tradução: Não é provável a plena felicidade.
Trata-se de um programa com duração de cerca de 10 minutos, onde se abordam temas da matemática de forma interessante e quotidiana (sim, deve haver uma forma quotidiana de abordagem).
O tema de ontem era "probabilidades". Que melhor par para a dança que o sempre mítico euro-milhões? Pois bem, depois da apresentação crua das probabilidade de ganhar o prémio, vieram as comparações. Uma delas, para mim a melhor, é que, reunidas determinadas condições, não muitas, é mais fácil ser eleito presidente da república do que ganhar o jogo.
Isto explica muita coisa, principalmente a existência de um Cavaco.
Mas, como não podia deixar de ser, havia que extrapolar. Foi o que fiz.
Pensando no universo da probabilidades, chego à triste conclusão que elas são tudo o que nos separa da concretização dos nossos sonhos.
Pensemos naquela ida às Bahamas, com pesca submarina, bungalows com chão em vidro, com toda a fauna marinha colorida logo ali...
...ou na submissão da classe burguesa, personificada no chefe, pela via mais humilhante possível.
Nada disto vai acontecer.
E a razão é só uma: é pouco, pouquíssimo, ou nada provável.
Não é porque, em tese, não haja dinheiro para a viagem. Há. Mas isso implicaria deixar de comer durante 3 meses.
Nem é porque, em tese, não haja armas e gente e instrumentos capazes de submeter o referido chefe às privações que ele merecia. Sucede é que isso é crime. Pode ser feito, e até devia, mas, hellas, não pode ser.
As barreiras legais e económicas sufocam o desejo. Por estarmos condicionados, não significa que não possamos fazer. Quer é dizer que não vamos fazer.
Tradução: Não é provável a plena felicidade.
segunda-feira, janeiro 28, 2013
Apontamentos
Digamos que costumo votar à esquerda.
Votei, por uma vez, na Direita: José Coelho, para Presidente da República.
Ultrapassado este ponto, como em tantas coisas na minha vida, há algo de errado.
Vou falar do Partido Socialista.
Os respectivos militantes e boa parte da população votante em Portugal vê em António Costa um messias. Não percebo bem porquê. O meu principal problema com António Costa (diria mesmo único problema) é não saber bem por que razão é tão aclamado. Em que é que se distinguiu? Em que área política foi forte? O que fez? Como se destacou?
Não sei responder a isto.
Em Lisboa, não tem acertado. No Governo, dava boa imagem, mas, cá está, sem perceber bem porquê.
Há nele todos os sonhos do mundo português.
Isto só para apresentar a seguinte conclusão: Costa, que respeito, sublinhe-se, está para mim como o arroz de cabidela está para o paladar luso. Quem gosta, come bem, mas quem não gosta não se farta de perguntar "por que raio comes tu isso?" ao seu próximo.
Votei, por uma vez, na Direita: José Coelho, para Presidente da República.
Ultrapassado este ponto, como em tantas coisas na minha vida, há algo de errado.
Vou falar do Partido Socialista.
Os respectivos militantes e boa parte da população votante em Portugal vê em António Costa um messias. Não percebo bem porquê. O meu principal problema com António Costa (diria mesmo único problema) é não saber bem por que razão é tão aclamado. Em que é que se distinguiu? Em que área política foi forte? O que fez? Como se destacou?
Não sei responder a isto.
Em Lisboa, não tem acertado. No Governo, dava boa imagem, mas, cá está, sem perceber bem porquê.
Há nele todos os sonhos do mundo português.
Isto só para apresentar a seguinte conclusão: Costa, que respeito, sublinhe-se, está para mim como o arroz de cabidela está para o paladar luso. Quem gosta, come bem, mas quem não gosta não se farta de perguntar "por que raio comes tu isso?" ao seu próximo.
sábado, janeiro 26, 2013
Perceber
Por que razão me lembro disto?
Anda cinzento o tempo. Chove.
Alia-se tudo à falta de forma mental.
Até que se chega aqui e está perfeito. Uma grande composição.
Balanço, puri.
sexta-feira, janeiro 25, 2013
Vem cá, José Manuel
Tendo sido intempestivo no envio de "curricula", paguei o preço na inexperiência.
Calhou-me a fava.
Entro, naquele fatídico dia, no sitio onde hoje, mais ou menos, estou. A conversa...a conversa só fazia prever o que dali viria, veio, vem e virá. Devia ter havido, da minha parte, mais sagacidade na percepção do que me esperava.
O problema, sempre o problema, é a falta de alternativas. A questão é parecida com a do custo de oportunidade, sempre ilustrada com o industrial da restauração.
Hoje, sou um bocado esse fulano que tem um tasco aberto, cujas receitas cobrem as despesas, num infernal break-even, que não permite tirar, seja o que for, para mim.
Porque é que não saio?
Porque não há para onde ir.
Como o homem do restaurante.
Calhou-me a fava.
Entro, naquele fatídico dia, no sitio onde hoje, mais ou menos, estou. A conversa...a conversa só fazia prever o que dali viria, veio, vem e virá. Devia ter havido, da minha parte, mais sagacidade na percepção do que me esperava.
O problema, sempre o problema, é a falta de alternativas. A questão é parecida com a do custo de oportunidade, sempre ilustrada com o industrial da restauração.
Hoje, sou um bocado esse fulano que tem um tasco aberto, cujas receitas cobrem as despesas, num infernal break-even, que não permite tirar, seja o que for, para mim.
Porque é que não saio?
Porque não há para onde ir.
Como o homem do restaurante.
quinta-feira, janeiro 24, 2013
Contributo
Desde já o meu obrigado.
Aqui fica aquilo que procurei, não encontrei, mas foi, gentil e oportunamente, fornecido.
Jorge de Sena
Aqui fica aquilo que procurei, não encontrei, mas foi, gentil e oportunamente, fornecido.
Quatro
sonetos a Afrodite Anadiómena
I
PANDEMOS
Dentífona apriuna a veste iguana
de que se escalca auroma e
tentavela.
Como superta e buritânea amela
se palquitonará transcêndia inana!
Que vúlcios defuratos, que inumana
sussúrica donstália penicela
às trícotas relesta demiquela,
fissivirão boíneos, ó primana!
Dentívolos palpículos, baissai!
Lingâmicos dolins, refucarai!
Por manivornas contumai a veste!
E, quando prolifarem as
sangrárias,
lambidonai tutílicos anárias,
tão placitantos como o pedipeste.
II
ANÓSIA
Que marinais sob tão pora luva
de esbanforida pel retinada
não dão volpúcia de imajar anteada
a que moltínea se adamenta ocuva?
Bocam dedetos calcurando a fuva
que arfala e dúpia de antegor
tutada,
e que tessalta de nigrors nevada.
Vitrai, vitrai, que estamineta
cuva!
Labiliperta-se infanal a esvebe,
agluta, acedirasma, sucamina,
e maniter suavira o termidodo.
Que marinais dulcífima contebe,
ejacicasto, ejacifasto, arina!...
Que marinais, tão pora luva,
todo...
III
URÂNIA
Purília emancivalva emergidanto,
imarculado e róseo, alviridente,
na azúrea juventil conquinomente
transcurva de aste o fido corpo
tanto...
Tenras nadáguas que oculvivam
quanto
palidiscuro, retradito e olente
é mínimo desfincta, repente,
rasga e sedente ao duro
latipranto.
Adónica se esvolve na ambolia
de terso antena avante palpinado.
Fimbril, filível, viridorna, gia
em túlida mancia, vaivinado.
Transcorre uníflo e suspentreme o
dia
noturno ao lia e luçardente ao
cado.
IV
AMÁTIA
Timbórica, morfia, ó persefessa,
meláina, andrófona, repitimbídia,
ó basilissa, ó scótia,
masturlídia,
amata cíprea, calipígea, tressa
de jardinatas nigras, pasifessa,
luni-rosácea lambidando erídia,
erínea, erítia, erótia, erânia,
egídia,
eurínoma, ambológera, donlessa.
Áres, Hefáistos, Adonísio, tutos
alipigmaios, atilícios, futos
da lívia damitada, organissanta,
agonimais se esforem morituros,
necrotentavos de escancárias
duros,
tantisqua abradimembra a teia
canta.
|
Jorge de Sena
Pesquisas
Em conversas, foi-me dito que existe um poema de Jorge de Sena composto, inteiramente, de palavras inventadas. Eis que fui à procura do dito.
Não o encontrei.
Mas dei de caras com isto.
A Canalha
Como esta gente odeia, como espuma
por entre os dentes podres a sua baba
de tudo sujo nem sequer prazer!
Como se querem reles e mesquinhos,
piolhosos, fétidos e promíscuos
na sarna vergonhosa e pustulenta!
Como se rabialçam de importantes,
fingindo-se de vítimas, vestais,
piedosas prostitutas delicadas!
Como se querem torpes e venais
palhaços pagos da miséria rasca
de seus cafés, popós e brilhantinas!
Há que esmagar a DDT, penicilina
e pau pelos costados tal canalha
de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
tratá-los como lixo de oito séculos
de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrem.
7 de Dezembro de 1971
Por mim, está bem.
Ou, por outra, "muito bem", citando Gaspar.
Não o encontrei.
Mas dei de caras com isto.
A Canalha
Como esta gente odeia, como espuma
por entre os dentes podres a sua baba
de tudo sujo nem sequer prazer!
Como se querem reles e mesquinhos,
piolhosos, fétidos e promíscuos
na sarna vergonhosa e pustulenta!
Como se rabialçam de importantes,
fingindo-se de vítimas, vestais,
piedosas prostitutas delicadas!
Como se querem torpes e venais
palhaços pagos da miséria rasca
de seus cafés, popós e brilhantinas!
Há que esmagar a DDT, penicilina
e pau pelos costados tal canalha
de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
tratá-los como lixo de oito séculos
de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrem.
7 de Dezembro de 1971
Por mim, está bem.
Ou, por outra, "muito bem", citando Gaspar.
Do aspecto
O blogue conhece muitas constantes.
A falta de leitores.
(Consequentemente), A falta de comentários.
O template.
Ora, vamos lá amputar parte desta santíssima trindade.
Está, oficialmente, mudado o template.
A falta de leitores.
(Consequentemente), A falta de comentários.
O template.
Ora, vamos lá amputar parte desta santíssima trindade.
Está, oficialmente, mudado o template.
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