Cheira a trovoada.
Quando a dita cuja está para rebentar, o dia que a antecede é sempre especial.
Há um certo tipo de calor a pairar. Alguma poeira, até. O céu configura-se como se estivesse para parir qualquer espécie de matéria que, dali a umas horas, sabemos qual é.
Por norma, são dias tranquilos. Passa-se pouco, ou nada.
Na verdade, até as conversas são feitas na base da previsão do estado do tempo.
- "Hmmmm, cheira a trovoada."
- "Ahnnnn, pois é, pois é".
Depois de um prazeroso espetáculo a que tive o privilégio de assistir, regressei à chamada "residência habitual".
Como faço (sempre), liguei a televisão. Na RTP2 passava um filme que sempre me agradou, pelos mais diversos motivos: O Frenético.
Quis o acaso que a acção estivesse na cena em que os personagens protagonistas estão num clube privado. Eis que toca Strange, interpretado por Grace Jones (em português, Graça Jonas).
Há dança.
Por alguma razão que alguma ciência algum dia explicará, cheirou-me a trovoada.
Ali, naquela cena específica, está uma metáfora. Mais do que uma metáfora, naquele filme, a cena acaba por ser premonitória de um final semi-trágico.
Ou seja, uma espécie de santíssima trindade que não o é: trovoada, metáfora e tragédia (e aqui é que falha o entendimento: a trovoada é, em si mesmo, uma metáfora para a tragédia. Ora, a trovoada é metáfora para tragédia. Em fim e ao cabo, nem santíssima trindade, nem abençoado duo: é tudo a mesma coisa).
Fica aqui parte importante da banda sonora.