O luto traz, desde logo, um problema. Quando ele chegou, alguém saiu. Mas o que quero dizer não fica por aqui.
Nesse momento de sofrimento, em que queremos parar, pensar e lembrar tudo quanto de bom nos trouxe o ausente, precisamos, acima de tudo, de tempo.
E tempo não temos.
O tempo é consumido pelo trabalho, pelas obrigações, pelas outras necessidades.
O nosso tempo de lembrança situa-se entre o trabalho e casa, naquele exíguo caminho.
Situa-se entre o momento em que acabamos de jantar e nos sentamos, a ver a novela.
Só voltam as memórias antes de dormir. Depois de apagadas as luzes.
Quem partiu está ali, connosco, até que se fecham os olhos.
O que é pouco. O que é nada.