terça-feira, março 12, 2013

O sustentável peso da inexistência

Por várias vezes a ficção literária, televisiva e cinematográfica (que são as que conheço) tentou criar o cenário perfeito da antítese.

Isto é, tentou pôr o mundo do avesso, apresentar o caos, a discórdia, a incerteza, insegurança, a vida depois da morte e a morte como início da vida.

A vida real, como sempre, como dantes, já cantava o Camané, mete a ficção no chinelo.

O mundo, a certas horas do dia, em certos dias do mês, em certas épocas do ano, vira.

Vira sem aviso, vira de repente.

E depois volta ao normal, àquilo que antes era. Uma vezes tão depressa como virou e outras vezes com variações ritmadas a interromper o processo de retoma, de regresso.

A teoria geral disto que digo está na própria concepção de natureza, de biologia.

Está "escarrapachada" nas burlas aos velhotes, quando eles, enciclopédias vivas, já deviam saber mais a dormir que um batalhão de burlões acordado.

Está patente no declínio de civilizações milenares, fortes, cultas e preparadas: gregos, romanos, incas, por exemplo.

Está na morte de um filho, quando os pais estão no seu velório.

Em todos estes casos, o mundo virou.

Como virou o meu, ainda que por minutos, ainda hoje.