sexta-feira, abril 13, 2007

Racismo

Haverá poucas coisas que causem tamanha sensação de desconforto, insegurança e indignidade, como ser vítima de racismo.
Para além destes sintomas, não nos podemos esquecer de quem os provoca. Estão na base destes sentimentos preconceituosos situações de infância mal ou muito mal resolvidas, um leite materno azedo e companhias pouco recomendáveis.
Haverá alguma outra vicissitude que cause os mesmo arrepios?
Há pouco lembrava-me de uma aula de história, do 12º ano, onde a Professora dissertava sobre os colarinhos brancos. Para quem não sabe, foi esta a designação que se "arranjou" para os trabalhadores administrativos do Estado. Eram pessoas que tinham a seu cargo trabalhos de secretaria. O seu aparecimento terá sido importante, isto por volta do século XIX, inícios, porque passava a garantir aos trabalhores outras condições de vida, melhores, claro está. Criavam-se mais condições de poupança, o que permitiria salvaguardar o futuro sempre incerto. Por outro lado, davam-se os primeiros passos para uma segurança social.
Mas o que é que isto tem a ver com situações reflexas do racismo?
O facto é que estes administrativos provinham do mais baixo estrato social: o proletariado. De uma certa forma, estava a nascer uma burguesia paralela, não comerciante como era a outra, mas mais modesta, a dita classe média. Relembrando as palavras da doutora, "quem subia de classe passava, automaticamente, a sentir desprezo pela inferior". Confesso que me terei rido. Não fazia sentido nenhum. A propria docente me terá dito que não tinha razão, que era como eal dizia. Retorqui: " Como pode alguém sentir desprezo por aquilo que já foi e está na iminência de voltar, a qualquer instante?".
Bastaram umas horas para ver isso.
Diariamente, os programas televisivos, os telejornais, a imprensa escrita e radiofónica o mostram. Eu estava mesmo errado.
Veja-se o Jet7, com todo o "faz-de-conta", onde desgraçados vestem armani e comem a sua única refeição em festas.
Tome-se o exemplo dos pais que são operários, alguns sem instrução, que, ao assistirem à entrada de um filho na Universidade se sentem orgulhosos como se o mundo fosse a sua quinta privada e atiram esse facto, qual tijolo, aos vizinhos que não viram o mesmo filme.
Relembre-se o cruzamento de classes, onde alguém rico se apaixona por alguém mais pobre. A que estigma está sujeito aquele que vem de baixo. Surgem os rótulos, surge a conversa do Golpe do Baú.
Para não variar, o Capitalismo trouxe esta novidade para o mundo moderno. Se o racismo deve alguma coisa à escravatura, o preconceito social deve tudo à acumulação de capitais. Atente-se ao seguinte: é um comportamento básico do ser-humano, este que é comparar o que se tem. Só que, aqui, está muito mais em jogo: não é o modo como se vê a sociedade ou cada individuo em particular, nada disso. O relevante aqui é como olham para nós e quaõ positivo pode ser o juizo.
O Desprezo pelo inferior é milenar, é talvez um fenómeno de sempre. Já o desprezo pelo pobre só pode existir despois de ter sido inventado a mais valia.