sexta-feira, maio 06, 2011

Histórias da certeza ou como se chega a 4

Era dia 31.

A gadelha estava enorme. Felizmente o peso era outro. Adiante.
Procurava um barbeiro que mo pudesse desbastar para que ficasse com um ar capaz. Pelo menos, de forma a que me assemelhasse aquilo a que se chama "raça humana".

Enquanto procurava, aproveitei para ir comprar uma camisola de gola alta, just in case.

Tinha programa marcado.

Chegou a noite. Tinham-me avisado. "Leva o carro". Levava coisa nenhuma, que queria ir calminho da silva, beber uns copos e voltar sem ter o problema policial numa vinda destas.

Fui de comboio. Gadelhudo, com um gel que só me fez ficar pior, mal vestido.

Era esperado. Desço a estação do Areeiro e lá está. Aquela visão de vestido escuro, a fazer lembrar lã.

Pedi-lhe para dar uma "voltinha". Abracei-a, beijei-a. Partimos.

Começou uma noite memorável.

O plano era jantar, calma e tranquilamente. Depois, na mesma passada, seguir para o Pavilhão Multiusos onde os Gato Fedorento ficariam com o encargo de me fazer passar de ano sem estudar. O final de noite/princípio de dia seria com uns belos copos.

Planos. Ui, ca bons.

Estava tudo fechado. Os restaurantes que habitualmente abrem uma convidativa esplanada, naquela espécie de avenida ao pé do Mar da Palha, apenas se ocupavam a montar barracas onde serviriam cerveja all night long. Do outro lado do lugar, já se limpavam copos: "Esta noite, só por marcação".

"Espera, há o Vasco da Gama". Fechava, fechou.

Mas e agora? Para sempre ficarão na minha memórias os seres que se dignaram a proporcionar-me um jantar naquela noite. Joshua's Shoarma.

Comemos mesmo ali, sentados praticamente no chão. "Não tens frio?"

O Gato Fedorento foi logo a seguir.

Acabou.

Perto da uma da manhã, quando saímos, o PdN estava ocupado por todo o tipo de gente. Quando se dá uma ocupação destas, predomina aquilo a que na gíria se chama gandim. Nada a dizer.

"Para onde ir?" Estava tudo cheio. Cheio.
Conseguimos enganar um porteiro (não, tu conseguiste, não, ela conseguiu) e lá ficámos com abrigo até volta das 3...mas o metro só abria às 6h.

Durante 3 horas, mais que perfeita, mais que única, descobertas as pernas, aguentou a noite gélida, comigo, sem nunca me dar menos que um sorriso. Aguentou a dizer que estava a ser perfeito. Quando só queria era atirar-me de uma ponte ao saber que não podia dar mais aquela que amava do que uma noite fria e um cabelo "ninho-de-ratos", nunca me deixou mal.

Até hoje é assim.
Até sempre será.

(Bem sei. Lamechas, expõe-me, diz demais. Na verdade, sofro de um mal. Se há pessoas que dizem o que pensam, eu escrevo. Pelo menos, tenho uma vantagem: posso apagar)