sexta-feira, março 27, 2015

Vamos jogar no Totobola

Um pequeno post sobre isto que se está a passar com José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

Estava no cinema, à espera de ver um filme que, penso, dispunha de bastantes predicados. Recebo uma mensagem (em rigor, duas) de meu pai:

- "Já viste a última?"

Respondi que não

- "Sócrates detido".

Foi como uma bomba.

Na verdade, quase sempre apoiei Sócrates. Ainda hoje acho que, caso se tem mantido à frente dos destinos do País, isto não tinha chegado à miséria a que chegou. Claro, admito estar enganado. Adiante.

Desde que Sócrates foi preso que tenho adivinhado tudo quanto se tem passado de relevante. Resumindo:

- Depois da detenção, acertei na medida de coação: Prisão Preventiva;

- Depois da medida de coação, adivinhei o desfecho: Perder todos os recursos e mais alguns que invente para alterar a dita medida de coação;

- O Advogado que Sócrates escolheu pode ser um bom Advogado. Não serve para este processo;

- Havia de se chegar à conclusão que o livro não fora escrito por ele.

Ora bem, para não parecer presumido, vou jogar no totobola e apostar nos próximos acontecimentos:

- Os prazos de prisão preventiva vão bater nos limites máximos: antes disso, Sócrates não sai da cadeia.

- A Acusação vai ser conhecida a meio de uma qualquer campanha eleitoral (Dica do meu progenitor), seja ela a das Legislativas ou Presidenciais;

- Os advogados vão abrir instrução: Sócrates vai ser pronunciado;

- Feito o julgamento, que se irá arrastar, Sócrates vai ser condenado por todos os crimes, mas, em cúmulo (que é o que a mula diz ao mulo) não passa dos 7 anos e meio;

- Vai haver recurso para tudo o que seja instância: Sócrates não ganha mais nada, senão umas férias pagas num E.P deste Portugalão.



Coisa diferente é perguntarem-me se acho que os crimes foram cometidos. A isso, respondo como a quase tudo o que mete vida jurídica: não conheço o processo, portanto não sei.

Fecho de Semana

Sem quaisquer leituras secundárias, posto este videoclip de uma música de Sia, chamada Elastic Heart.

Vale pela coreografia, onde se encena uma espécie de batalha, ainda que as leituras que da visualização advenham dêem pano para mangas.

A pensar na semana, em tudo o que ela deu, seria lógico expor duas almas numa jaula em que, no final, ela até consegue sair.




quinta-feira, março 26, 2015

Crises

Bernardo Pires de Lima foi ontem ao "Inferno", programa do Canal Q. Estava a apresentar o seu livro sobre a Síria. No mesmo, consta uma passagem que será qualquer coisa como: "É profundamente injusto dizer que a Síria está em crise". A leitura desta passagem devia ser a seguinte: crise tem a Europa. Na Síria será mais uma catástrofe humanitária.

Ontem foi dia 25 de Março. Dei por mim a pensar: de que raio me estarei a esquecer. Foi o dia inteiro numa busca aos arquivos da massa cinzenta, tentando perceber, afinal, do que me tinha esquecido.

No final do dia, lembrei-me.

O 25 de Março não era nada. O número 25 é tudo.

Durante muitos anos, o dia 25 foi uma instituição. Todos os meses, naquele dia, me lembrava da mudança da minha vida. Para melhor, claro.

Há um anos atrás, estaria num belo restaurante, com muito menos peso do que tenho agora, a olhar para uma delicada escultura humana, sempre recordando o dia em que me aceitou.

Não é que agora não faça o mesmo. Mudou a data, mercê de factos supervenientes.

Um homem casado tem a felicidade imensa de saber que alguém o aceitou como é.


quarta-feira, março 25, 2015

Sopa

Há palavras que nos castigam, que moem a paciência, que nos fazem desejar a surdez.

De entre as muitas que me provocam especial dificuldade, vinha hoje falar da palavra "sopa".

A magia da palavra "sopa" é muito pessoal. Há pessoas que a fazem soar de forma normalíssima, o que agradeço, penhoradamente. Depois, há as outras.

- As pessoas que medem 1,70 metros e pesam 30 kilos.

- As pessoas que estão no ginásio e conseguem sorrir enquanto correm na passadeira.

- As pessoas que dizem que vão almoçar uma "sopa".

- Nutricionistas em geral que falam dos "benefícios da sopa" (quase arranquei um ouvido ao escrever esta merda, fod@-#$)

Toda esta gente, profundamente necessitada de ser enjaulada, profere esta maldita palavra de 4 letras com um som capaz de me fazer desistir da vida. Falam dela como se fosse a solução, como se fosse algo de saboroso.

NÃO É!!!

Ora bem, e dito isto, valia a pena explicar-me. Terá de haver uma razão para estar a comunicar ao vasto auditório que me segue esta espécie de privação de uma relativa qualidade de vida.

E, como sempre, é o trauma. Tem de haver um trauma. Bem recalcado. Bem metido. Impossível de expulsar.

Quando somos mais jovens, entidades existem que "nos obrigam a comer a sopa". 

Está aqui um problema. "Obrigar" e "Sopa". Nunca existe um "obrigar" a fazer algo que valha a pena. Não. "Obrigar" traz dor, traz chatice, traz textos destes anos depois.

A partir de uma certa idade, é certo, podemos escolher. Mas na infância não.

Está aqui a primeira razão.

A segunda razão é a mais evidente: SE A SOPA (AIIIIIIIIIIIIIIII) FOSSE UM ALIMENTO SABOROSO (AIIIII, "SOPA" E "SABOROSO" NA MESMA FRASE!!!) ninguém era obeso. Havia menos diabéticos, menos pessoal com hipertensão e por aí fora.

Terceira razão: a sopa representa um estilo de vida. Um estilo de vida de freiras, de fascistas-higiénicos, de gente que nunca comeu mais nada senão coves em caldo. (Sem querer generalizar. Percebam, é duro escrever tantas vezes a palavrinha e lembrar-me da sua entoação na cabeça. Raios). É um estilo de vida que não me interessa. Até porque, quando morrer, há de estar alguém ao pé do meu casaco de pinho a dizer:

- Este rapaz estava gordo. Só comia pizzas e hamburguers. Nunca o vi a comer uma sopa.

(Estava capaz de jurar que voltava à vida só para esfolar o autor da frase)

Enfim. Ao contrário de tudo mais, eu até aguento bem quem diz "sopinha". É mais irritante, mas remete para o imaginário das coisas rápidas (como sejam um "minutinho" ou "instantinho"). Uma "sopinha" é um castigo que passará rápido.

Antes de terminar, queria fazer uma importante distinção. Caldo Verde não é sopa. Canja não é sopa. Sopa da Pedra não é Sopa. O nome é Caldo Verde, Canja e Sopa da Pedra.

Enfim. O saudável irrita-me. Por isso estou assim.

quarta-feira, março 18, 2015

Lamentos

Tenho lido pouco. Tenho visto pouco cinema europeu. A última vez que fui ao teatro foi há mais de um ano. À Opera nem se fala. Tenho comido coisas que me fazem mal, mas sabem bem. Tenho sido sedentário. Vai fazer em Maio 3 anos de tabaco, ainda que em doses reduzidas.

Que vida boa seria se lesse que nem um doido, conhecesse tudo quanto é ator e realizador da Picheleira até Minsk, escrevesse crítica de teatro para uma revista da especialidade e soubesse cada nota do Anel dos Nibelungos (A série toda). Que saudável seria se comesse verduras e condenasse ao fogo do inferno os hidratos e o açucar. Que grosso estaria se o ginásio fosse diário. O Tabaco dá estilo, poupem-me.

- Senhor Padre?

- Reza um Pai Nosso e um Avé Maria, para te dar força. Deus t'abençoe.





Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr.


Joe Cocker - With a little help from my friends

Sendo esta uma Quarta muito Segunda, dei por mim a fazer comparações.

Comparações normais. Com o antes e o agora. Com estes e com aqueles.

Tenho em mim um gene cabresto que me faz olhar para o passado e ver que estive sempre melhor do que estou.

Se o homem também é o que é e mais as circunstâncias, raio.


What would you think if I sang out of tune
Would you stand up and walk out on me?
Lend me your ears and I'll sing you a song
And I'll try not to sing out of key
Oh I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends

What do I do when my love is away?
(Does it worry you to be alone?)
How do I feel by the end of the day?
(Are you sad because you're on your own?)
No I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends

(Do you need anybody?)
I need somebody to love
(Could it be anybody?)
I want somebody to love

(Would you believe in a love at first sight?)
Yes I'm certain that it happens all the time
(What do you see when you turn out the light?)
I can't tell you, but I know it's mine
Oh I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Oh I'm going to try with a little help from my friends

(Do you need anybody?)
I just need somebody to love
(Could it be anybody?)
I want somebody to love

Oh I get by with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends
Oh I get high with a little help from my friends
Yes I get by with a little help from my friends
With a little help from my friends


sexta-feira, março 13, 2015

Aggiornamento

Os últimos posts têm reflectido queixas atrás de queixas.

Não é legau (Brasileirismo latente).

Vamos mudar de toada.

Claro, há uma razão para o arrazoado de queixume. Há uma parábola que assiste: "Meu filho, quando coçares os tomates e notares que coçaste três, desengana-te: não tens uma terceira bola, estão é a ir-te ao cú".

Perdão pelo calão. Isto segue dentro de momentos.

quarta-feira, março 11, 2015

Mera prova indiciária

Fiz um teste para saber que tipo de pai seria.

Calhou Walter White.

Podia ter calhado o Phil Dunphy, Sonny Koufax, até mesmo Tony Soprano.

Walter White.

Do Breaking Bad.

segunda-feira, março 09, 2015

Lições

Findou, hoje, a produção de prova num processo que corre termos num Julgado de Paz desse Portugalão.

O processo foi-me "confiado" numa ótica de favor, mais concretamente, a parte e a contra-parte são amigos comuns de um colega meu. Por não se querer envolver, o colega pediu-me para fazer o julgamento, cabendo-lhe fazer determinada peça processual, um articulado.

Foi o processo que, sem dúvida, me abalou mais, nem sendo nada de especial. Sem querer revelar os detalhes, aprendi:

1. Nunca aceitar processos de clientes que não te pertecem. Há excepções.

2. Nunca mostrar educação com as testemunhas da parte contrária. Passas por "calmo". Um advogado "calmo" é sinónimo de "corno manso".

3. Aumentar a dose de cinismo na vida diária. Desde que comecei a ser advogado que me vejo um cínico nojento. Para a profissão, é bom. Melhor mesmo só psicopata, no sentido mesmo médico do termo.

4. Nunca receber no fim. É que não sei quanto vou receber, nem quando. Fiz um favor.

5. Nunca faças favores incondicionais, no que à profissão diz respeito. Goes without saying.

Só tenho a dizer que, felizmente, não volto àquele lugar tão cedo.

Também tinha uma lista de desejos. Vou ficar-me pelas lições.

sexta-feira, março 06, 2015

Avulsos

Percebi que a minha pança tem personalidade jurídica.

Merece ser individualizada, ter património, número de identificação fiscal e cartão do cidadão. Merece votar, usufruir do SNS e da Escola Pública.

A minha pança votaria à Direita. CDS-PP. Tirava o curso de Engenharia Agrónoma e só frequentava clínicas privadas, como a dos Lusíadas.

Quem me dera gostar mais de ginásio (e ter tempo...ter tempo...). Se gostasse, a minha pança poderia acasalar com uma pança fémea e terem pancinhas pequenas, que educariam sob forte influência católica. E poderia porque já não estaria em mim a dar-me relevos que bem dispensava.

quarta-feira, março 04, 2015

Devaneios de meio de tarde com remate de convite a contratar.

Gostava de abrir escritório.

Não era sozinho. O ideal era 3/4 pessoas, para se conseguir dividir despesas. Cada um com seus clientes e respectivo pagamento.

Com 4 pessoas, dava € 200/mês a cada um.

Eu sei que ninguém quer, mas,

Quem quer?

terça-feira, março 03, 2015

Souvenirs

(Penso que já terei escrito um post com o mesmo início. A vida é isto mesmo: um Alzheimer consciente)

Em certo filme de Manoel de Oliveira (meu ídolo pessoal), uma das personagens pergunta a outra como se diz "saudades" na língua desse imortal estadista que é Hollande (ela só pergunta mesmo como se diz "saudades"). Andam por ali até que alguém diz que será, talvez, Souvenirs.

Para mim, um Souvenir é um porta-chaves de uma zona balnear. Quiçá, um boneco das Caldas.

Contudo, e na senda do supra exposto, peço justiça.

Nada disso.

Lembrei-me do episódio de uma colega de escritório que daqui saiu no fim do estágio. Tinha arranjado um emprego numa espécie de Secretaria de Estado do Turismo, mas não estou a ser preciso. Seria algo desse género.

Lá foi ela contar ao Ilustre e Distinto Chefe Supremo Cateran que ia embora. De onde estava, ainda se ouviam aqueles sons de alegria contida, expelidos em resposta quando alguém nos diz que ganhou € 5 numa raspadinha, ou quando um notável urso passa com 50% num teste.

Lá regressou ao posto e perguntei-lhe como tinha sido.

Foi então que me contou que tinha dado a novidade, ele tinha-se rido, dito qualquer coisa como "muito bem" (lá está, "ganhaste uma coca-cola extra? boa!") e rematado:

 - Olha, lá para onde fores, vê lá se chegas a horas.

Sempre que a vejo (vivemos perto um do outro), é inevitável lembrar-me da história.