Usando a inversão, começo já pelo fim: nunca é igual.
Há manhãs que primam por uma desejável hostilidade: não é que não venham a ser dias fantásticos, o ponto chave é que fazem, logo, perceber que, para obter o ganho, o proveito, vai haver suor, trabalho, dor e ardor.
Naquela foi mesmo assim.
Li, ontem, umas memórias escritas sobre o Prof.Antunes Varela, aquando da sua morte, isto no site da ordem. Diziam que dividia o dia em 3, para ter tempo para tudo. Ironicamente, não simpatizo muito com a personagem do defunto académico, mas que a divisão fazia sentido, fazia mesmo.
A manhã destinou-se à judicatura, exercício prático da dita cuja, para ser mais preciso.
A tarde destinou a preparar a noite.
A noite serviu para preparar o resto de uma vida.
Chegados a este ponto, os adeptos do grafismo desenhariam um segmento de recta, que teria início na noite referida e, alongado o citado segmento, terminariam o rabisco no dia de hoje, tudo com datas incluídas. Se eu imaginar esse segmento, consigo lembrar-me de momentos únicos e enriquecedores, que me ajudaram a concretizar esse imperativo constitucional, que é o livre desenvolvimento da personalidade. Não vejo datas, vejo acontecimentos. Vejo (e essa visão é o fundamento do texto) o grau aumentativo de um adjectivo. Vejo uma entrada em mora e o pagamento dos juros por ter estado tantos anos arredado do cumprimento do sentido da vida, da prossecução da lenda pessoal.
Se calhar encontrei a minha. Encontro-a todos os dias.