Qual é o oposto do amor? Qual é o oposto de qualquer sentimento digno desse rótulo?
A conversa parte, sempre, quando se verifica uma efeméride, jeitosa ou não, ou quando sucedeu algo incrivelmente drástico, capaz de abalar a confiança que demorou anos a embutir nalguma mente mais fragilizada. Feitos conseguídos a pulso tornados em nada, numa questão de instantes, por alguém. Porque há sempre alguém.
Uma Ilhéu conversava comigo sobre isto. Não percebi o que quis ela dizer com a afirmação, que reiterava, como se a razão fosse única, objectiva e ela estivesse na sua posse e, mais ainda, fosse sua proprietária. Falava de antagonismos, de conceitos, de comportamentos até.
Sendo que se tratava de uma conversa, e não de um monólogo, tive que apresentar o meu ponto de vista: a ser como se preconizava acolá, seria admitir que não houve a reciprocidade de uma relação. seria perceber que se viveu numa mentira, numa farsa, passou-se, pura e simplesmente, o tempo. Como é que seria assim?
A resposta surgiu acutilante, e só há cerca de umas semanas tive que concordar com o que me disse, porque me coloquei num paradigma, caminho sempre seguro para ganharmos ou perdermos uma discussão e darmos a mão à palmatória: "se não sentes o que eu digo, é porque não acabou. É porque não há oposição, não há esse contrário, pelo menos o verdadeiro!"
Qualquer acto manifestado em prol de alguém, positivo, ou negativo, é indiciador do contrário da inexistência que se quis, quando se cessou a relação material controvertida.
Assim, quando o povo americano utiliza aquela expressão "não te mijava em cima, nem que estivesses a arder" está repleto de razão, coisa rara.
O oposto de qualquer sentimento digno desse rótulo é o desprezo.
Não querendo perder a discussão, ou a mera troca de ideias, para não elevar isto a coisa demasiado séria, palpita-me que esse "desprezo" é uma espécie de Tipsy McStagger.