terça-feira, setembro 15, 2015

O Mundo

Vi, há momentos, uma publicidade a uma série em que o protagonista é um fulano super inteligente, capaz e munido de recursos infindáveis.

Este modelo de personagem não é novo. Basta pensar: Dr. House, Shark, Forever e por aí fora.

Quando não estamos a fazer vénias ao génio, há a outra face das séries: os homicídios. Nem faço ideia à quantidade de gente morta nas 20 temporadas de Lei e Ordem ou nas 15 de CSI. Em contas breves, numa estimativa rápida, se cada série tem 22 episódios e em cada episódio morre uma pessoa, em Lei e Ordem já morreram 440 pessoas e no CSI morreram 330, ou seja, somado dá 770.

Isto é o grosso das séries.

Fora o génio e homicídio, há, também, mas não só, o híbrido e o original. Como híbrido temos o exemplo do policial. Aí, há um génio que investiga o homicídio. Mantenho a autonomia dogmática do híbrido porquanto, ainda que em séries como o Lei e Ordem não haja génios, há policias esforçados, no True Detective há génios puros...a investigar homicídios... O híbrido também comporta séries de médicos, ou advogados: E.R, Good wife ou Grey. Mistura-se drama com algo especializado. Também sucede com a comédia, quando se junta a dita ao direito e temos o Boston Legal, só a título de exemplo.

Resta o original ou "despadronizado", mas não só, ou seja, qualquer coisa que não está massificada como os géneros supra descritos. As sit-com foram originais. Deixaram de ser e agora estão no mainstream, juntamente com todo o resto da comédia. Eis outro género. As séries de ficção científica também estão à parte e ainda servem um nicho.

Então o que é original? Guerra dos tronos? Parece-me que se encaixa nas séries de época/históricas, à semelhança das adaptações de grandes livros ou livros bem vendidos, como os Pilares da Terra.

No catálogo de "original", há quatro exemplos, na minha modesta opinião: O Shameless (Inglês ou Americano), o Nip/Tuck, Wayward Pines ou American Horror Story. Há mais coisas, mas estes são de salientar.

E porquê esta dissertação?

Para expressar, fundamentalmente, um lamento. Não há ninguém que pegue na personagem de um gajo que "não dava para a escola", vai de trabalho em trabalho, porque trabalhar também não é a cena dele, e passa os tempos que tem livres numa taberna/tasca/casa de pasto. Não há ninguém que retrate uma vida média, não especialmente brilhante.

Eu teria um guião para esta série. O título era básico, como o personagem: seria o seu nome, ou apelido. "Esteves".

"Esteves" seria a história de um fulano à porta dos 40 anos que já tinha sido repositor de stock, assistente de vendas, escriturário de 3.ª e, agora, estava tentar ganhar a vida como auxiliar de padeiro. O rendimento é de € 500,00, já depois dos descontos, e vive em Vila Franca de Xira num t1 mobilado pelo senhorio. De família, só sobra a Esteves a mãe, já velhota, e um tio que veio maluco do Ultramar. Tem uma namorada, Sheila, com está um tudo-nada acima do peso, mas com quem não vive. Sheila tem o seu negócio de mercearia e consegue viver melhor que o Esteves. Como auxiliar de padeiro, o Esteves passa as manhãs a dormir, a tarde, ora com Sagres ou com Super Bock e, à noite, trabalha. Está com a Sheila quando não há dinheiro para as minis.

As férias de Esteves são passadas na Costa, para onde se desloca num Citroen Saxo Cup. Politicamente, Esteves chegou a militar no P.C, mas agora nem vota. Quanto a vícios, poucos. 4 a 6 cigarros Águia por dia; as minis, claro, e reality-shows, onde já se tentou inscrever.

E pronto, a série seria observar este dia-a-dia, com Esteves a fazer conversa no café/taberna/casa de pasto, a discutir com Sheila, ou a fazer o doce amor com ela e a aprender a arte de bem fazer pão. Tudo isto no cenário de Vila Franca.

Eu seria fã.