quarta-feira, janeiro 19, 2011

Paradoxos

O problema da confiança (no fundo, de toda a amizade) é este: a facilidade com que nos tornamos alvos.
Porque somos próximos, podemos ouvir o que não queremos, saber o que não perguntámos e, ainda, sermos presenteados com injustiças.

Nunca sucede o mesmo com um estranho. Conta o meu pai, em jeito de brincadeira, que determinado taberneiro da terra dele era incrível na seguinte situação: um copo partia-se, isto no calor do vinho. Se fosse um conterrâneo, o discurso seria (pardon my french): "Seu cabrão! Ando eu a comprar copos para os partires?". Já se fosse um cliente ocasional: "Deixe lá amigo, essas coisas acontecem"

Porque nada pode vir na sua forma mais perfeita, confiança e amizade terão sempre este encargo. Os amigos e confidentes com quem partilharmos uma opinião, quando dela não gostem, hão de ver em nós o maldito fiador que renunciou ao benefício da excussão prévia: respondemos pela merda toda que há no mundo como se fossemos os culpados.