quinta-feira, maio 14, 2020

Jornadas penitenciais a propósito da pandemia: uma delas vertida aqui

A pandemia vetou-me ao isolamento, ou melhor, ao confinamento.

Distantes do mundo, inevitavelmente, colocamos em causa ou confirmamos uma série de realidades que, ocupados devidamente, pouca atenção nos mereceriam.

As redes sociais têm-me proporcionado reflexões com conclusões tristes. Penitencio-me, portanto, por só agora perceber o que vos vou transmitir.

Antes de dizer algo mais, um ponto: não, não sou a favor do seu fim, maior regulação ou imposição de medidas. Está bom como está.

Isto porque as redes sociais são um produto humano, para os humanos e alimentadas pelos humanos.

Em tendo oportunidade, e esta é a primeira conclusão, a maioria dos mamíferos pensantes é um misto de Nuno Rogeiro, Freitas Lobo, Jorge Miranda e um utente da casa de saúde do Telhal.

Ou seja, num comentário é capaz de sintetizar o seguinte, com esta fórmula: "Esta malta (num claro apelo internacionalista, i.e, Nuno Rogeiro) andava a jogar à bola em latas de Canada Dry (Freitas Lobo) e agora querem subsídios de grátis (Jorge Miranda menos a sofisticação linguística)! Anda aqui um gajo a trabalhar que nem um camelo (montador de cozinhas/trolha/oficial de justiça) para virem estes gajos e roubarem-nos a mulheres. Cadeia com eles, pena de morte já! (Utente da casa de saúde do telhal)".

A segunda conclusão é que tudo piora conforme a rede escolhida, da mais para a menos mainstream. No Instagram está tudo bem. O mundo é bonito ali. Vinho, sol, boas formas.  No Facebook, temos a primeira amostragem da síntese supra exposta. Ainda dentro do Facebook, há um caminho descendente: os grupos. Os grupos concatenam gente que vive em caves e vê o sol quando está a chover. As forquilhas estão em promoção e todos têm piras em casa. O twitter é um inferno. Acumulam-se as contas falsas, os extremismos, as ameaças, as calúnias. É mau demais.

E isto são só três das redes existentes.

Passei a consumir mais daquele mundo virtual e sinto-me a mudar. Não quero deixar de conhecer as ideias de quem pensa coisas diferentes das minhas, mas há limites ultrapassados todos os segundos.

A pergunta é: é fraquejar se bloquear?