Encontro-me com 34 anos de idade. Uma vez que creio não ir viver outros 34, considerei que tinha adquirido uma maturidade suficientemente consistente para o período remanescente da vida futura.
Percebo que não. Não passei ainda pela fase mais difícil da vida adulta. Sempre o soube, mas esqueci-me.
O meu Pai encontra-se hospitalizado. Está com dores (felizmente, neste momento, mais controlado), mas todo o processo que o levou, desde a crise, até ao tratamento hospitalar foi difícil de aceitar. Não me vou demorar com detalhes, mas posso resumir em duas frases: quando entra no hospital, o único caminho era a operação, tanto que foi obrigado a repetir um teste à COVID-19, quando, no dia anterior, tinha sido testado com resultado negativo. Hoje, estabilizado, vai ter alta, "porque pode haver casos mais urgentes".
Isto mexeu comigo de uma maneira que não pensei.
Fisicamente, subiu-me a temperatura (não tenho febre).
Socialmente, consegui irritar-me seriamente com a minha irmã e com um amigo.
Com a minha irmã foi mais inesperado. Dei por mim a gritar, qual interdito, minto, maior acompanhado.
Com o amigo foi algo mais, digamos, consequencial. Acho que encerrei uma relação de amizade com alguns anos. Espero que se mantenha o respeito mútuo.
Friamente, vejo que falhei.
É inevitável associar estes comportamentos a uma situação de stress, ao sofrimento do meu pai. Num outro dia qualquer, isto não acontecia.
Mas isto não é ser gente. Isto é falhar em situações de pressão.
Volto ao que aqui escrevi há alguns anos: a minha vocação é para mendigo, sem-abrigo ou coisa parecida. Algo sem responsabilidades, sem ligações, eternamente mau.