Sou um bimbo camuflado.
Vale a pena ser mais concreto. Sou um bimbo sentimentalão. Não daqueles que são "azeite" (viva o princípio da aquisição linguística, se é que existe), ou da terrinha, ou mesmo rapioqueiros.
Gosto de ver o amor na forma real do termo (e por real refiro-me a pertença, como quem fala de direitos reais e da aquisição originária da posse).
Daí ser bimbo. Ouvir com gosto a Lana del Rey quando canta o "Nothing without you", esta dos Madredeus ou uma obra qualquer do Sérgio Godinho.
Acaba por ser um aspecto em mim que gostava de relegar. O problema, sempre o mesmo, são as associações que o subconsciente acaba por fazer.
Hoje, dia em que perco (e pode perder-se em tantos campos), lembro-me que o amparo está naqueles que aqui estão.
E eis o amor. Amor é amparo. Pelo menos na minha idade.
terça-feira, abril 28, 2015
segunda-feira, abril 20, 2015
O loop na prática
Tenho ideia de já ter escrito o que escrevi atrás há um tempo.
É recorrente em mim repetir-me. É recorrente em mim repetir-me.
Seja lá como for, percebi esta cena quando vi o filme pela primeira vez.
Na madrugada a que me refiro abaixo, senti-a.
É recorrente em mim repetir-me. É recorrente em mim repetir-me.
Seja lá como for, percebi esta cena quando vi o filme pela primeira vez.
Na madrugada a que me refiro abaixo, senti-a.
Um bocado
A Faculdade de Direito, não obstante o número de alunos que admite ao seu curso, não tem propriamente a fama de facilitar o seu caminho dentro de portas.
Ingressei, assim, em 2004 num curso que me daria uma profissão, pensava eu, diferente da que tenho hoje. O primeiro ano foi particularmente doloroso, com a adaptação e conhecimento de realidades que nunca pensei existirem.
Conheci lá um dos meus bons amigos. Por méritos próprios, transitámos para o segundo ano e, mercê do que referi supra, a nossa sub-turma teve de ser fundida com outra. Com efeito, de cerca de trinta e muitas pessoas que compunham a sub-turma de primeiro ano, menos de 50% resistiram, cenário que se generalizava. Como tal, somaram-se os alunos que ainda "respiravam" e juntaram-nos.
Não me vou esquecer dos olhos desse meu amigo quando olhou para uma das aquisições supervenientes. Uma jovem Eborense de cabelos escuros e boas notas (a fama precedia-a).
Naqueles momentos, deve ter havido uma constituição de sociedade cósmica. O Karma, aliou-se à sorte e fundou-se a "Vai, que dá, Lda.". O objecto social seria a promoção de felicidade daqueles dois moços.
Ontem, fui ao Baptizado do filho deles.
Celebrando a receção do petiz (um braçado de criança), voltei a 2004. Voltei a paredes que, não raras vezes, me puseram à beira da loucura. Não obstante, foi um regresso quase físico. Podia ver, à minha frente, episódios que foram determinantes na pessoa que sou, naquilo em que me tornei. Mas também voltaram as imagens de uma solidariedade materializada.
Na madrugada de 25 de Maio de 2007, recebiam-me em casa e aturavam o meu, também, recém-constituído auge. Passaram o "Lost in Translation" e faziam voar as palavras. Ainda hoje gozam com a minha cara de felicidade.
Contudo, naquele apoio e verdadeira claque, que sempre foram, estavam duas almas que se confirmaram, mutuamente, até aos dias de hoje.
E, ontem, fui ao Baptizado do filho deles.
Ingressei, assim, em 2004 num curso que me daria uma profissão, pensava eu, diferente da que tenho hoje. O primeiro ano foi particularmente doloroso, com a adaptação e conhecimento de realidades que nunca pensei existirem.
Conheci lá um dos meus bons amigos. Por méritos próprios, transitámos para o segundo ano e, mercê do que referi supra, a nossa sub-turma teve de ser fundida com outra. Com efeito, de cerca de trinta e muitas pessoas que compunham a sub-turma de primeiro ano, menos de 50% resistiram, cenário que se generalizava. Como tal, somaram-se os alunos que ainda "respiravam" e juntaram-nos.
Não me vou esquecer dos olhos desse meu amigo quando olhou para uma das aquisições supervenientes. Uma jovem Eborense de cabelos escuros e boas notas (a fama precedia-a).
Naqueles momentos, deve ter havido uma constituição de sociedade cósmica. O Karma, aliou-se à sorte e fundou-se a "Vai, que dá, Lda.". O objecto social seria a promoção de felicidade daqueles dois moços.
Ontem, fui ao Baptizado do filho deles.
Celebrando a receção do petiz (um braçado de criança), voltei a 2004. Voltei a paredes que, não raras vezes, me puseram à beira da loucura. Não obstante, foi um regresso quase físico. Podia ver, à minha frente, episódios que foram determinantes na pessoa que sou, naquilo em que me tornei. Mas também voltaram as imagens de uma solidariedade materializada.
Na madrugada de 25 de Maio de 2007, recebiam-me em casa e aturavam o meu, também, recém-constituído auge. Passaram o "Lost in Translation" e faziam voar as palavras. Ainda hoje gozam com a minha cara de felicidade.
Contudo, naquele apoio e verdadeira claque, que sempre foram, estavam duas almas que se confirmaram, mutuamente, até aos dias de hoje.
E, ontem, fui ao Baptizado do filho deles.
quinta-feira, abril 02, 2015
No dia da morte de Manoel de Oliveira
Aqui há dias, fui à Fnac numa ótica de prospeção de mercado. Tendo a considerar importante perceber o que há de novo, ainda que em mim exista a tentação do clássico.
Depois de alguns minutos de pesquisas (sim, meros minutos) dei por mim a ler, talvez, o livro que mais gozo me deu ler nos últimos anos: "O Estrangeiro", de Camus. Não estou a falar da obra original, mas da feliz adaptação para banda desenhada.
Em mim cresceu a óbvia e eterna esperança na humanidade, uma vez que ainda não conhecia a possibilidade (a mera possibilidade) de adaptar grandes clássicos à B.D.
Ali fiquei, pouco mais do que uma hora, a rejubilar. Boas ilustrações, a essência da obra apanhada. Enfim, estava conseguido um objectivo.
Naturalmente, voltou a mim uma história que conhecia. Lembro-me de a ler nos idos de 2005. Falhavam pormenores que foram colmatados.
"O Estrangeiro" tem, para mim, um problema: não sei se o interpreto como deve ser interpretado. A mim, lembra-me a vida como ela é. Depois de um acontecimento trágico, por meios que são insondáveis, a vida traz sempre uma série de acontecimentos inexplicáveis, ainda que pareçam corolário da mais elementar fluidez. Recordo alguns episódios da minha vida em que assim sucedeu. O povo (essa entidade superior, e olhem que não é ironia) chama a isto "estar na mó de baixo". Àquele desgraçado, morre a mãe, mete-se com quem não deve, comete um facto típico, ilícito, culposo e punível e vai preso. Não vou estragar o final a quem não leu. O importante disto é o "como", sem haver tanta necessidade de um "porquê". (Para a obra, o "porquê" e conclusões são importantes, ou não. Depende.)
E o "como" levou-me, inexoravelmente, a Manoel de Oliveira. Manoel de Oliveira disse, há meses, uma frase que é lapidar e resume a existência: "a vida é uma derrota".
A vida foi uma derrota para Mersault (Protagonista da obra a que me referi supra). A vida é uma derrota para Manoel de Oliveira. Para quantos mais não foi?
A falta de horizontes, sejam nossos, seja daqueles que nos rodeiam. A falta de compaixão. A falta de sucesso.
E tão relativo que é o sucesso.
Os Xutos (a banda), disseram o mesmo, no "Homem do Leme".
Não vi todos os filmes do chamado "Mestre". Não terei visto metade. Vi alguns. Sabia que estava ali uma alterantiva ao cinema-efeitos-especiais, ao blockbuster. Estava ali um sentido de estética que apreciava. Um ritmo que gostava de ver impresso. Uma forma de ver a arte. Havia diferença. Sobretudo, havia qualidade.
E tanta "porrada" levava Manoel de Oliveira. Das "secas" ao "desinteressante", passando pelo "velho" ao "visto".
Não haja dúvida: fez o que quis. Terá feito como quis? Sempre que quis?
Em resposta à sua arte sempre existiram os inevitáveis antagonistas. A condenação aconteceu.
Agora, morre. Deixando legando. Vivendo nos seus filmes. Fazendo ecoar o nome.
Mas morre.
Porque é inevitável. Dando sentido à vida, claro, mas não resistindo à inevitabilidade.
Acima de tudo, e é este o ponto, creio que o mundo não lhe foi indiferente. Creio, até, no contrário.
Só por isso, ganhou.
Depois de alguns minutos de pesquisas (sim, meros minutos) dei por mim a ler, talvez, o livro que mais gozo me deu ler nos últimos anos: "O Estrangeiro", de Camus. Não estou a falar da obra original, mas da feliz adaptação para banda desenhada.
Em mim cresceu a óbvia e eterna esperança na humanidade, uma vez que ainda não conhecia a possibilidade (a mera possibilidade) de adaptar grandes clássicos à B.D.
Ali fiquei, pouco mais do que uma hora, a rejubilar. Boas ilustrações, a essência da obra apanhada. Enfim, estava conseguido um objectivo.
Naturalmente, voltou a mim uma história que conhecia. Lembro-me de a ler nos idos de 2005. Falhavam pormenores que foram colmatados.
"O Estrangeiro" tem, para mim, um problema: não sei se o interpreto como deve ser interpretado. A mim, lembra-me a vida como ela é. Depois de um acontecimento trágico, por meios que são insondáveis, a vida traz sempre uma série de acontecimentos inexplicáveis, ainda que pareçam corolário da mais elementar fluidez. Recordo alguns episódios da minha vida em que assim sucedeu. O povo (essa entidade superior, e olhem que não é ironia) chama a isto "estar na mó de baixo". Àquele desgraçado, morre a mãe, mete-se com quem não deve, comete um facto típico, ilícito, culposo e punível e vai preso. Não vou estragar o final a quem não leu. O importante disto é o "como", sem haver tanta necessidade de um "porquê". (Para a obra, o "porquê" e conclusões são importantes, ou não. Depende.)
E o "como" levou-me, inexoravelmente, a Manoel de Oliveira. Manoel de Oliveira disse, há meses, uma frase que é lapidar e resume a existência: "a vida é uma derrota".
A vida foi uma derrota para Mersault (Protagonista da obra a que me referi supra). A vida é uma derrota para Manoel de Oliveira. Para quantos mais não foi?
A falta de horizontes, sejam nossos, seja daqueles que nos rodeiam. A falta de compaixão. A falta de sucesso.
E tão relativo que é o sucesso.
Os Xutos (a banda), disseram o mesmo, no "Homem do Leme".
Não vi todos os filmes do chamado "Mestre". Não terei visto metade. Vi alguns. Sabia que estava ali uma alterantiva ao cinema-efeitos-especiais, ao blockbuster. Estava ali um sentido de estética que apreciava. Um ritmo que gostava de ver impresso. Uma forma de ver a arte. Havia diferença. Sobretudo, havia qualidade.
E tanta "porrada" levava Manoel de Oliveira. Das "secas" ao "desinteressante", passando pelo "velho" ao "visto".
Não haja dúvida: fez o que quis. Terá feito como quis? Sempre que quis?
Em resposta à sua arte sempre existiram os inevitáveis antagonistas. A condenação aconteceu.
Agora, morre. Deixando legando. Vivendo nos seus filmes. Fazendo ecoar o nome.
Mas morre.
Porque é inevitável. Dando sentido à vida, claro, mas não resistindo à inevitabilidade.
Acima de tudo, e é este o ponto, creio que o mundo não lhe foi indiferente. Creio, até, no contrário.
Só por isso, ganhou.
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