Descobri que me tornei um cínico.
É verdade.
Toda a gente fala dos grandes confrontos e guerras que existiram na história.
Raramente alguém se lembra de quem estava no meio. Na diplomacia, no controlo de danos, na promoção do entendimento.
A verdade é uma: não obstante a existência de meios pacíficos de resolução de litígios, sejam eles quais forem, uma contenda só acaba quando alguém a vence.
Alguém tem de perder para que haja, pelo menos, alguém contente, um vencedor.
Ninguém está disposto a transigir, a chegar a meio termo.
Na ótica dos terrestres, transigir é perder totalmente. E isso ninguém quer.
Vai daí, tornei-me cínico.
Estou no meio de tudo. Ou quase.
Estou constantemente a tentar apagar fogos, a pacificar a equilibrar.
E isso é tarefa de um cínico.
Também descobri recentemente, ou talvez não, que só conta, para toda a humanidade (escrevo duas vezes: TODA A HUMANIDADE) os actos tidos por errados.
Não sobra a lembrança, jamais, de atitudes nobres e corretas. A desconfiança nunca merece arguição. Uma coisa que parece errada aos olhos de um julgador, passa a não parecer, para ser, e uma vida normal é um atentado à decência.
Isto para dizer que, aos olhos dos que me rodeiam, sou uma desilusão.
E isso é mais trágico de aturar no Natal.