terça-feira, maio 10, 2016

Las cosas pequeñas

Por ocasião do lançamento do novo trabalho dos Radiohead, uma das minhas agremiações musicais preferidas, muitos "críticos" vieram dizer aquilo que, para mim, é a frase mais batida de sempre do panorama crítico-musical: "É o melhor disco desde o (inserir qualquer trabalho anterior, de preferência, preferido por hipsters)."

O pior nem é ser batido, é ser mesmo estúpido, pedante e desinformado. Não neste caso, mas em todos.

A produção musical de uma banda não é uma linha recta de coerência. Há oscilações no estilo, nos membros, nas influências, nas intenções, em tanta, mas tanta coisa.

Cada álbum de uma banda não serve de "benchmark". Marcou um tempo. Foi mais vendido? Foi menos? Gostei mais?

Nada mais irrelevante. Em cada ouvido está um gosto e, segundo aquilo que penso (que reconheço ser pouco e mau), crítica não é comparar o incomparável.

Descendo ao concreto: li que o "Moon shaped pool" é o melhor álbum desde o "Kid A".

Isto irritou-me ao ponto de ter vindo aqui escrever.

É falso. Se o crítico dissesse que prefere x a y, tudo bem. Agora, basear uma crónica numa afirmação que só espelha o gosto pessoal é só ser pequeno e preguiçoso.

A crítica não pode ser uma expressão de opinião. Tem de ser objectiva, conter alguma coisa de concreto que possa servir para pensar.

Dizer que se prefere uma laranja a uma maçã é não ter mais de 6 anos e dizer que gosta mais do pai.

Amiúde acontece o mesmo na crítica cinematográfica. Menos, mas acontece. 

Isto só para dizer uma coisa: se assumirmos que a música é uma arte, não há arte melhor ou pior. Podemos gostar mais de uma que de outra, mas ser pago para escrever algo sobre ela exige mais.

Exemplo: sim, eu gosto de muito do trabalho da Joana Vasconcelos. Chamem-me urso à vontade. Vou dizer que o Candeeiro gigante é pior que o naperon?

Tanta coisa para isto? Pois. Já não usava o espaço há uns tempos.