Jigoro Kano foi o fundador do Judo. Pequeno, de constituição débil, conseguiu trazer ao mundo um desporto em que só interessa não ser derrubado.
Com o advento do Judo não faltaram analogias e princípios de vida associados. Aquele que retive poderia chamar de "parábola do salgueiro". O salgueiro, árvore conhecida, torcia, mas nunca quebrava. O vento passava e ele vergava, só para logo depois voltar ao sítio. Alguém trepava por ele acima, ele vergava, só para logo depois voltar ao sitio.
Já Nuno Markl, numa rubrica que tem na Rádio Comercial chamada "Baladas do Dr. Paixão", poderia dizer que isto mais não é que uma frase inspiradora de facebook com pôr-do-sol atrás. Gente mais mal intencionada poderia atribuir isto ao Gustavo Santos ou, no limite, ao Nuno Espírito Santo.
Pela minha parte, nem sei bem a razão de ter sacado destas "lembraduras" a propósito do que vou escrever. Talvez lá para o fim aconteça a luz.
A 25 de Maio de 2007 tinha medo. Estava aterrorizado com a hipótese de falhar. Esta sensação ocorre quando tenho a absoluta certeza que me lancei para fora de pé. Tinha lançado. Ainda hoje o acho. Há expressões equivalentes: areia a mais para o meu camião; ela é de outro campeonato; nas palavras de Gabriel, O pensador: muita ração para minha tigela.
Ainda acho que não saí da Faculdade. Ainda estou naquela noite. Lembro-me perfeitamente quando me fui embora, não obstante. Incrível, mas foi: pensava que estava a deixar a minha vida toda para trás. Não partia como um todo.
E dos palhaços que disto falavam e isto diziam só me podia rir.
Tocou-me. Chegou a vez de perceber o que era a poesia e algum fado. Chegou o momento em que deixei de ser um ser inteiro.
Hoje aqui escrevo. Dez anos depois. Pouco menos de 4000 dias.
Sendo o mesmo, não sou. Sonhando, estou acordado. Outrora sozinho, agora com ela.
Juntos.
Ao sabor do vento, vivendo a vida. Torcendo, nunca quebrando, para logo depois voltar ao sítio.
A nós.