Hoje, fui ameaçado.
Não falo no sentido técnico-jurídico. Falo no plano "social".
É uma estreia.
Não foi uma ameaça de morte. Não foi contra a minha vida, ou integridade física.
Foi no âmbito profissional.
Sendo sempre correcto e justo com todos, fui ameaçado.
quarta-feira, maio 27, 2015
segunda-feira, maio 25, 2015
São 8 anos
A minha existência é, por alguma razão que me escapa, marcada por uma angústia constante. A verdade é que poucas vezes tive equilíbrios que me permitissem alguma paz. Contudo, foram muitas as vezes que fui feliz. Modo geral, sou-o.
Faz hoje 8 anos que a minha vida sofreu a primeira grande alteração: encontrei alguém que até estava disposto a aturar-me. Claro que a minha família nunca me faltou com nada, não me podendo queixar. Sucede que, há 8 anos, alguém começou a ver em mim algo que nem eu próprio vislumbro.
Depois de tantos episódios (tantos e bons!), acabei por me casar com a Tal. Aquela que, há 8 anos, me disse que sim.
Se hoje somos casados, também posso dizer que nunca deixámos de ser namorados.
segunda-feira, maio 18, 2015
A multiplicação dos aniversários
"Comemoro" (e mais aspas houvesse) 3 anos de agregação à Ordem dos Advogados.
Recordo-me do dia. Foi tão indiferente, que até comecei a fumar. Foi tão ligeiro, que nem consegui estar ao pé das examinadoras quando foi revelada a nota.
Em suma, um dia fácil, ou não dependessem quase três anos da mais pura submissão a um só momento.
3 anos depois, nesta Segunda-Feira, chego ao escritório e recebo uma mensagem no telemóvel.
"Já tive a má notícia, a juiza condenou-me a pagar tudo a eles".
Fui procurado por um colega. Disse-me que precisava da minha ajuda. Havia duas partes em contenda e ele, advogado, sendo amigo de ambas, não queria patrocinar aquela que lhe tinha solicitado patrocínio forense. Pediu-me, então, que avançasse, que representasse aquela que o tinha procurado. O trato era simples: ele fazia os articulados e eu o julgamento.
O caso era ruím. Em traços largos, duas amigas de infância, uma mais rica e outra menos, começaram a explorar um café, juntamente com o marido da rica. O negócio foi proveitoso e quiseram avançar para uma frutaria, na porta ao lado. A frutaria era para ser explorada pelas duas, tanto que ambas, formalmente, eram gerentes. A rica e o marido pediram um empréstimo ao banco e equiparam a casa. Contudo, o negócio correu mal. Não havia receitas, surgiram multas de várias entidades...um pavor. É então que a rica decide que quer fechar aquilo. A menos abonada diz que não, que mantém o barco. Celebra novo contrato de arrendamento e fica a laborar lá.
Alguns anos mais tarde, a rica e o marido dão entrada de uma acção a pedir uma avultada quantia pelos móveis que ficaram no estabelecimento, alegando a existência de um contrato de compra e venda. A "Demandada" procura o meu colega e o meu colega procura-me a mim.
Vim a saber várias coisas.
- Nunca foi celebrado contrato algum. Aliás, os "Demandantes" juntam na Petição Inicial uma minuta e para lá remetem quando querem provar a "existência do contrato";
- Por várias vezes, a minha constituinte insistiu para que os "Demandantes" fossem buscar os seus móveis, até lhe enviou cartas;
- A rica (so to speak) tinha a chave da loja, e sempre teve, para poder ir buscar os móveis e nunca foi;
- A rica deixou dívidas e a pobre pagou-as.
Faz-se julgamento. A minha primeira pergunta para todas as testemunhas, seja dos "Demandantes" como da "Demandada" foi: tem conhecimento se foi celebrado algum contrato entre as partes? A resposta, de todas!, foi uma só: "não". Se não há nada escrito e se ninguém pode confirmar a existência de contrato, está criada uma nova modalidade de prova: a prova por presunção de existência de contrato.
As testemunhas sabiam que tinha havido amizade, um negócio, que as coisas correram mal, mas nunca ninguém disse que tinha havido um contrato.
No aniversário dia em que me agreguei, perdi uma acção.
A meu ver, perdi-a sem razão (a sentença é anedótica ao ponto de dar como provados factos que TODAS as testemunhas negaram).
Perdi.
Perder quando o cliente pode suportar é uma coisa. Perder quando nem havia alternativa é uma coisa. Perder quando nada se logrou é uma coisa.
De forma vergonhosa, uma quadrilha foi a um Julgado de Paz pedir dinheiro e saiu de lá com uma sentença.
Sem provar nada. Sem mostrar nada.
E eu não pude evitar.
Perdi.
Se houver deus, não estarei mais 3 anos metido neste sistema.
Não haja equívocos: esta é a pior profissão do mundo.
E eu celebro o terceiro aniversário de "carreira". Sou um Tony.
Recordo-me do dia. Foi tão indiferente, que até comecei a fumar. Foi tão ligeiro, que nem consegui estar ao pé das examinadoras quando foi revelada a nota.
Em suma, um dia fácil, ou não dependessem quase três anos da mais pura submissão a um só momento.
3 anos depois, nesta Segunda-Feira, chego ao escritório e recebo uma mensagem no telemóvel.
"Já tive a má notícia, a juiza condenou-me a pagar tudo a eles".
*
Fui procurado por um colega. Disse-me que precisava da minha ajuda. Havia duas partes em contenda e ele, advogado, sendo amigo de ambas, não queria patrocinar aquela que lhe tinha solicitado patrocínio forense. Pediu-me, então, que avançasse, que representasse aquela que o tinha procurado. O trato era simples: ele fazia os articulados e eu o julgamento.
O caso era ruím. Em traços largos, duas amigas de infância, uma mais rica e outra menos, começaram a explorar um café, juntamente com o marido da rica. O negócio foi proveitoso e quiseram avançar para uma frutaria, na porta ao lado. A frutaria era para ser explorada pelas duas, tanto que ambas, formalmente, eram gerentes. A rica e o marido pediram um empréstimo ao banco e equiparam a casa. Contudo, o negócio correu mal. Não havia receitas, surgiram multas de várias entidades...um pavor. É então que a rica decide que quer fechar aquilo. A menos abonada diz que não, que mantém o barco. Celebra novo contrato de arrendamento e fica a laborar lá.
Alguns anos mais tarde, a rica e o marido dão entrada de uma acção a pedir uma avultada quantia pelos móveis que ficaram no estabelecimento, alegando a existência de um contrato de compra e venda. A "Demandada" procura o meu colega e o meu colega procura-me a mim.
Vim a saber várias coisas.
- Nunca foi celebrado contrato algum. Aliás, os "Demandantes" juntam na Petição Inicial uma minuta e para lá remetem quando querem provar a "existência do contrato";
- Por várias vezes, a minha constituinte insistiu para que os "Demandantes" fossem buscar os seus móveis, até lhe enviou cartas;
- A rica (so to speak) tinha a chave da loja, e sempre teve, para poder ir buscar os móveis e nunca foi;
- A rica deixou dívidas e a pobre pagou-as.
Faz-se julgamento. A minha primeira pergunta para todas as testemunhas, seja dos "Demandantes" como da "Demandada" foi: tem conhecimento se foi celebrado algum contrato entre as partes? A resposta, de todas!, foi uma só: "não". Se não há nada escrito e se ninguém pode confirmar a existência de contrato, está criada uma nova modalidade de prova: a prova por presunção de existência de contrato.
As testemunhas sabiam que tinha havido amizade, um negócio, que as coisas correram mal, mas nunca ninguém disse que tinha havido um contrato.
*
No aniversário dia em que me agreguei, perdi uma acção.
A meu ver, perdi-a sem razão (a sentença é anedótica ao ponto de dar como provados factos que TODAS as testemunhas negaram).
Perdi.
Perder quando o cliente pode suportar é uma coisa. Perder quando nem havia alternativa é uma coisa. Perder quando nada se logrou é uma coisa.
De forma vergonhosa, uma quadrilha foi a um Julgado de Paz pedir dinheiro e saiu de lá com uma sentença.
Sem provar nada. Sem mostrar nada.
E eu não pude evitar.
Perdi.
Se houver deus, não estarei mais 3 anos metido neste sistema.
Não haja equívocos: esta é a pior profissão do mundo.
E eu celebro o terceiro aniversário de "carreira". Sou um Tony.
quarta-feira, maio 06, 2015
Palavras
Há algo de reconfortante em saber que as angustias de que padeço já foram amplamente musicadas pelo Sérgio Godinho e Jorge Palma.
É que eles estão bem.
É que eles estão bem.
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