Estava, agora mesmo, a pensar numa cozinha daqueles restaurantes com Estrela Michelin.
Ali, esbate-se o preconceito do grande cozinheiro. Mais concretamente, o que se passa naquele espaço não é o mesmo que acontece numa cozinha doméstica, em que um dos habitantes da casa pega no tacho e, sozinho, produz a refeição.
Numa cozinha de grande gabarito, o chef há de ser sempre o responsável pela ideia, pela receita, que subjaz ao prato. Será sempre dele o tempo de cozedura, de grelha ou outro meio qualquer de produzir o bom do "morf". Também é dele o molho, o tempero, o "saber" onde comprar os bons igredientes.
Na hora da verdade, o chef não está na cozinha a grelhar o peixe, a assar a carne nem a preparar a salada. Para isso há "outras pessoas". Quando muito, um chef prova, "maquilha" o prato e faz com que os olhos também comam.
A constatação do dia é que sou "outra pessoa". Como as coisas estão, é bem possível que passe os próximos anos da minha vida a fritar as batatas ou a cozer arroz.
(Era para ter optado pela metáfora do jogador de futebol que aquece o banco, mas uso-a num outro dia, acompanhada de história própria e reminiscências infantis).