Tocou o telemóvel.
O Pingo Doce tinha comprado a Vodafone, a rede que utilizava para as telecomunicações móveis. Era o momento de cobrar a dívida, pelo que se impunha o primeiro telefonema de cortesia a avisar que era devedor e teria mesmo de pagar. Tudo era dito com a uma voz feminina delicodoce, como, aliás, se impunha.
Nada era devido. Era o que faltava. O que impunham as condições contratuais era, tão-somente, um pagamento mensal de "X". A partir daí, "liberar geral".
Toca a campainha.
Era um anão. Vestia uma camisa vermelha, que estava fora das calças, calças essas que eram de ganga. Ou bege. Os sapatos eram pretos, a atirar para o verniz. O traço distintivo, para além do tamanho, era o cabelo. Enorme, encaracolado, seboso. Não com caracóis perfeitos "tipo-anuncio-da-pantene", mas umas curvas capilares.
- "Sim?"
- "Sou advogado de $%&/, ando à procura de um devedor. É a !"()?=.
-"E o que é que eu tenho a ver com isso?"
- "Você não foi advogado da !"()?= ?"
- "Não. Por acaso, já litiguei, também contra era".
- "Ou isso. Não me sabe dizer onde anda, ou sabe?" (A pergunta era parva. A devedora era pessoa colectiva.)