Ao contrário do que as produções Hollywoodescas nos fazem parecer, o fracasso não é um momento que marca o fim de qualquer coisa.
Por exemplo, o "Suspeito da Rua Arlington". Aquilo acaba mal. Pode falar-se em fracasso. E há o fim. Let's move on.
Na vida real, não. Trata-se de uma diferença colossal.
Na vida real, não naquela onde o Jeff Bridges existe, um erro não determina o fim dos erros. A seguir a um vem outro. Ao outro segue-se outro. O outro melhor que outro. And so on.
Isto, basicamente, para dizer que, na modesta idade que tenho, já fracassei mais que a maioria. É uma coisa muito minha, pronto.
Não sei se será da proximidade da data, se será da perda progressiva de qualidades próprias a que tenho vindo a assistir. Uma das duas. Talvez as duas.
Constatada a primeira facada (não hoje constatada, apenas hoje relatada), a segunda vem já: como resolver? O problema do fracasso (como da humanidade em geral) é que não consegue reverter os ponteiros do relógio. O tempo não volta atrás, oh António Mourão. Pior: nada do que se faça agora deixará de ter o célebre e funesto rótulo: "Estás a compensar a merda que fizeste".
Pois é, é um dilema. Não há é vontade de ligar para a Maya (Eunice, de sua graça). De certeza que ela "sacava" logo de um Dependurado e me dizia qualquer coisa como: "venda a sua casa, que ela está cheia de más vibrações" ou "compre um pequeno hamster".
Quando souber o que fazer depois do fracasso, volto a escrever outro texto sobre a temática. Poupar-me-ei ao esforço se a resposta for um simples: "segue a tua vida".