Lembro-me de ser um puto e ir cortar o cabelo.
Ia sempre ao mesmo sitio - o Chico - um autêntico palácio melenar, onde já sabia a primeira pergunta que me faziam e o rumo da conversa: 1) então e o nosso benfica? e 2) Não sendo benfiquista, o resto da prosa fazia-se a trocar ideias sobre planteis e estado da arte futebolística.
Era uma meia hora onde se defendia ferreamente o Figo, mas sobretudo o Rui Costa e João Pinto, artífices das faças luso-encarnadas.
Os tempos mudaram. Por razões previsíveis, fui aparar a trunfa e, no caminho, começava um fogo num automóvel, em pleno centro sul. O povo juntava-se e havia a esperança de o apagar. Nao fiquei para ver.
Chegado ao barbeiro, sento-me, encomendo visual e a conversa não versou sobre bola.
"Não tarda nada, temos guerra nuclear. O Putin está a ver a ajuda à Ucrânia e qualquer dia farta-se". A elocução prosseguiu: "Estes políticos é tudo máfia. Ninguém sabe o que conversam, nem o que pensam. Ajudam-se todos. Agora, é o outro que vai para o coiso da Europa".
- Conselho Europeu - Disse.
"Isso".
Paguei. Voltei por onde vim. O carro já tinha ardido