Um magistral livro que li há poucos meses começava com a seguinte frase: "Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio".
Embora poderoso, é um slogan que não acompanho.
Nas passadas semanas (e isto é em mim extremamente recorrente) dei por mim a questionar o meu papel na existência. Afinal, o que sou é o que deveria sempre ter sido? Existe esse determinismo? Poderia ser mais realizado, ou está atingido o máximo? Fico bem com a profissão que tenho, ou claramente não poderia exercer?
O olhar que deito em mim não terá um respaldo social, isto é, quando faço estas perguntas não respondo pela bitola de um leigo, mas por critérios objectivos.
E objectivamente só alcancei relativo sucesso (e relativo é hiperbólico) nas funções sociais básicas, como ser marido, eventualmente filho e ainda especulo sobre o meu papel de pai.
Respeito a minha mulher e nunca faria algo que a magoasse. Quanto aos meus pais, apesar do péssimo feitio e contradições insanáveis diárias que trago na mala, acredito mesmo que podiam ter um filho pior que eu. E não têm.
Mas, e tudo o resto?
Vejo gente saciada, capaz de viver bem na sua pele e esse não é, manifestamente, o meu caso.
Creio que o meu lugar no mundo ainda não é conhecido. Pelo menos por mim. Pode ser que esteja errado e até ao dia de picar o ponto esteja na mesma, com esta problemática em boomerang, indo e vindo, vindo e indo.
Mas não me vejo competente. Não me tenho por capaz. Lamentavelmente, por falta de uma pluralidade de factores, nunca mudei o rumo. Por aqui segui.
Com esta interrogação, vem outra. Como serei capaz de lidar com a minha insignificância?
Tenho constatado que a maioria da humanidade deixou de pensar no seu contributo e exposição. Subitamente, aparecem pessoas que pensam poder influenciar outras, seja no aspecto capitalista ou mercantilista do tema, seja por acções. Pessoas que convencem outras a agir de determinada forma. Quanto a essas, não há assunto, isto é, está tratada a questão. Não são insignificantes, pelo contrário, agem todos os dias na influência, na capacidade de mudar, coisas ou pessoas, realidades e por aí fora.
Fora de um núcleo que se pode resumir a pouco mais de uma dezena de pessoas, desapareço. Não deixo marca no mundo, serei esquecível.
Será isto um problema? Pelos vistos, para mim, é. Nunca contei ser tão dispensável, tão desprezível.
Sonhei ser um profissional respeitado e competente. Falhei. Quis fazer a diferença na minha profissão. Só igual a tantos.
Sem ter algo que me distinga, algo que me traga, então, o respeito e competência, fiquei na mediania. E está aí um problema filosófico interessante: o que fazer com a mediania e a quem se situa abaixo dela?