Tenho andando enganado.
Nunca considerei possível um Homem sentir-se enganado. Este preconceito deve ser o último resto de neandertal que me arrendava um pedaço da mente. Acreditei sempre que um Homem se sentia desiludido, apunhalado, mas nunca enganado. Isto porque o engano era uma humilhação suprema, uma confissão de crime, o derradeiro gozo.
Cá estava a vida para me provar o contrário.
Nas pequenas coisas, associadas ao fenómeno da espuma, mantenho: não há enganos, há desilusões, faltas de compreensão, desatenções. Comprar uma jóia bonita e ser falsa: ignorância. Escolher mal um carro: desilusão.
O engano está nas grandes questões da vida. No amor, na guerra, na amizade. Pode haver desilusão no amor, claro. Pode haver ignorância quanto à necessidade de guerra., má informação.
Felizmente, quanto ao amor, não tenho de que me queixar.