Meu caro,
Algures em Fevereiro/Março de 2016, passaste duas semanas em São João do Estoril. Nem tu sabias que existia tal localidade, tu que dividias a linha (excluindo Sintra) entre Cascais e Estoril. A melodia abaixo levar-te-á a esses tempos.
Na altura, mal chegavas, ias aviar um chávena de café, fumar o SG matinal e ouvir os OMD. Lembravas-te do teu escritório. Do teu. Do que estavas a deixar para trás. Souvenir doutro tempo.
Quinze dias. Dez úteis. Ao segundo, foste introduzido à temática das "pinças", artefacto útil para lidar com problemas delicados.
Foram-te ditos nomes, explicadas situações. Depois, noutra altura, foram-te ditos ainda mais nomes e explicadas ainda mais situações.
Serias como que invisível aos olhos da base. Com alguma, claro, havia relações a começar, mas na tua nuca estava sempre alguém. Alguém que ta torcia e te obrigava a coçá-la. Spider sense. Macacada. Qualquer coisa.
Certo dia, o telefone tocou. Duas vezes.
Foram duas semanas. Valorizado pela chefia como nunca ou até mesmo nunca mais.
Demorou duas horas a que pudesses sair. Foi tudo debatido.
Mas o telefone tinha tocado. Era a única coisa que tinhas dito a ti próprio: se tocasse, não mais quisesses obedecer se pudesses mandar.
Quando saíste, pairava no ar uma nuvem negra. Ou lua, para poderes pensar nos CCR.
Terão ficado a pensar que saíste porque a nuvem te impedia de respirar. Tão longe disso.
Hoje, a dita nuvem (imagem a que recorro pela terceira vez e que, por isso, peço as devidas desculpas) ficou menos negra.
Ao leres, hoje mesmo, as notícias que pululam em todos os sites da especialidade, lembras-te daquelas duas semanas.
Souvenir.