sexta-feira, agosto 29, 2014
terça-feira, agosto 19, 2014
Das coisas que nunca me tinham acontecido até acontecerem
Tocou o telefone adjacente à minha secretária de trabalho.
Atendo.
Do outro lado uma voz jovial, mas pertencente a um "jovem" de mais de 70 anos. Identifica-se. Pergunta por uma colega.
Uma vez que a colega não estava, calhou-me ser o destinatário dos anseios do interlocutor.
- "Sou amigo do fulano de tal. Era vosso cliente, não era? Quer dizer, era de certeza que fui aí com ele. Sabe se já acabou o processo que ele tinha ?".
Caro leitor, quando se é advogado e é feita uma pergunta como esta, soem os alarmes.
Respondi que sabia que caso era mas que desconhecia o desfecho. Voltou a carga.
- "Sabe, sou muito amigo dele. Quando ficou doente, era eu que lhe dava a comida. Era eu que o ajudava. É meu amigo, queria mesmo saber se estava tudo bem"
Não me quis alongar. Suspeitei que trazia água no bico.
- "O fulano de tal era muito amigo de restaurantes e dessas coisas da burguesia (juro que foi isto mesmo que ele disse). Ainda há dias, fui ter com um dos amigos dele, num restaurante e o homem disse-me que eu não ia receber nada"
Oi? Calma aí.
- "Pois, é que eu ajudei-o muito. Ele é uma pessoa com pouca higiene. Ia a casa dele para ele não ter de sair de casa. Além disso, disseram-me que ele apareceu no café num Mercedes Novo e agora foi de férias, nem sei para onde".
Ligado o piloto automático, foram sendo debitados os clássicos e sempre seguros: "Pois, pois, sim, sim".
- "Enfim. Queria só saber se correu tudo bem. Obrigado pelo seu tempo e ajuda."
De nada.
- "Vamos lá ver se recebo qualquer coisa".
Numa toada mais reflexiva, acho que fiz bem em não dar como resposta o envolvimento da questão pelo segredo profissional. O homem ia ficar a pensar que o nosso cliente tinha pedido segredo e isso só ia tornar aziaga uma relação que outrora não era má.
Como poderia o homem pensar que eu lhe ia dar uma informação destas?
Atendo.
Do outro lado uma voz jovial, mas pertencente a um "jovem" de mais de 70 anos. Identifica-se. Pergunta por uma colega.
Uma vez que a colega não estava, calhou-me ser o destinatário dos anseios do interlocutor.
- "Sou amigo do fulano de tal. Era vosso cliente, não era? Quer dizer, era de certeza que fui aí com ele. Sabe se já acabou o processo que ele tinha ?".
Caro leitor, quando se é advogado e é feita uma pergunta como esta, soem os alarmes.
Respondi que sabia que caso era mas que desconhecia o desfecho. Voltou a carga.
- "Sabe, sou muito amigo dele. Quando ficou doente, era eu que lhe dava a comida. Era eu que o ajudava. É meu amigo, queria mesmo saber se estava tudo bem"
Não me quis alongar. Suspeitei que trazia água no bico.
- "O fulano de tal era muito amigo de restaurantes e dessas coisas da burguesia (juro que foi isto mesmo que ele disse). Ainda há dias, fui ter com um dos amigos dele, num restaurante e o homem disse-me que eu não ia receber nada"
Oi? Calma aí.
- "Pois, é que eu ajudei-o muito. Ele é uma pessoa com pouca higiene. Ia a casa dele para ele não ter de sair de casa. Além disso, disseram-me que ele apareceu no café num Mercedes Novo e agora foi de férias, nem sei para onde".
Ligado o piloto automático, foram sendo debitados os clássicos e sempre seguros: "Pois, pois, sim, sim".
- "Enfim. Queria só saber se correu tudo bem. Obrigado pelo seu tempo e ajuda."
De nada.
- "Vamos lá ver se recebo qualquer coisa".
Numa toada mais reflexiva, acho que fiz bem em não dar como resposta o envolvimento da questão pelo segredo profissional. O homem ia ficar a pensar que o nosso cliente tinha pedido segredo e isso só ia tornar aziaga uma relação que outrora não era má.
Como poderia o homem pensar que eu lhe ia dar uma informação destas?
quarta-feira, agosto 13, 2014
A propósito do fim da vida
No espaço de 24 horas, faleceram Robin Williams, Dóris Graça Dias, Lauren Bacall e Emídio Rangel.
À sua maneira, farão todos falta.
A morte traz várias questões, mas também uma crueza intemporal: calha a todos, não para e não escolhe timmings. A negritude do evento e a força da sua inevitabilidade trazem-me um espanto que não conhecia.
Pensarão alguns que isto não é novidade nenhuma. Mas, até aqui, lembro-me de uma diálogo de "Good Will Hunting", em que Robin Williams, malogrado, ganhou um Óscar: "Podes saber como é o tecto da Capela Sistina e quem a pintou, mas não tens a mais pequena ideia ao que cheira".
É o ser e o estar. O saber e o viver.
Passa, à minha e à nossa frente, o fim da validade de alguns corpos. Só resta esperar que sobre algum legado, que não se apaguem existências, só pelo mero facto de não respirar o corpo que as carrega.
Depois, torna-se impossível não lembrar aqueles que partiram. Torna-se algo de hercúleo não poder acreditar na vida depois da morte e no divino. Era tudo tão mais fácil. Do desaparecimento mudava-se a agulha para uma temporária ausência.
Mas não. Lá por ser dura demais não deixa de se chamar realidade.
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