Aqui há uns anos, estávamos na biblioteca. Não raras vezes, quotidianamente mesmo, era aquele o nosso espaço de estudo e, ao contrário de tudo o que a deontologia e ética aconselham, de boa conversa.
Fui interpelado:
- Epá, mas não queres ser advogado porquê?
- Tu já viste a responsabilidade? Então vai depender de mim se alguém vai preso? E se faço merda? Se azelho? Lá vai o desgraçado bater com os costados à pildra e eu lá terei de me atirar da ponte.
- Então e pensas que se fores juiz é melhor?
- Se for juiz não sou advogado e continuo a pensar o que penso hoje: a culpa é dos advogados.
A incompetência, o danoninho e eu próprio tratamos de desvirtuar todas as crenças, mezinhas e benzeduras e pronto...hoje, mais que alguém, sou um número que termina com duas letrinhas: LE.
Isto foi esquecido. Pelo menos, tirou umas férias. Deve ter andado lá para Cancun ou mesmo Cuba. Eis que voltou bronzeado.
- Estou sim? É o senhor Y?
- Sou sim.
- Olhe, eu sou seu advogado, estou a ligar da parte de Z, que já falou consigo, gostava que cá viesse, para falarmos um bocado.
- Ok! Mas, oh Doutor, preciso que seja franco comigo. Preciso mesmo de saber.
- Claro, diga.
- Doutor...eu vou preso?
Lá se teve a reunião com o Y. Perguntei-lhe se sabia por que crime estava acusado. Depois perguntei-lhe se sabia da moldura penal.
Quando lhe falei num par foi como se toda a vida dele fosse um grande arrependimento que não matava mas moía. E estava a moe-lo bem.
Disse-lhe para ter calma.
Porra. Sei lá eu o que digo.